O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sábado, 6 de dezembro de 2025
Cidades

Após resgate de trabalho escravo, jovem entra na universidade

Rafael tinha 17 anos quando foi resgatado pelo Ministério Público do Trabalho

Redaçãopor Redação em 23 de setembro de 2016
Após resgate de trabalho escravo
Rafael tinha 17 anos quando foi resgatado pelo Ministério Público do Trabalho

A vida de Rafael Ferreira da Silva renderia um filme. Aos 12 anos de idade, ainda um menino franzino, teve que começar a trabalhar por causa das dificuldades financeiras do pai. Rafael morava na zona rural de Jauru, em Mato Grosso, e arranjou um serviço em uma fazenda longe de casa. Lá, ele era “bombeiro” – expressão usada para se referir aos que levavam água para os trabalhadores braçais do roçado.
Debaixo de um sol de 40 graus e enfrentando a seca que atinge o estado durante boa parte do ano, o rapaz trabalhava o dia todo para ganhar uma diária de R$ 5 reais. À noite, dormia em um barraco de lona no meio do mato. Se o tempo virasse, tomava chuva e passava frio.
Comia o que recebia: arroz, feijão e acompanhamento. A água ele tirava de um córrego onde bois e outros animais também bebiam. Não tinha banheiro. O pior de tudo é que recebera o aviso de que estava endividado e não poderia ir embora da fazenda quando quisesse, tendo que trabalhar mais e mais para pagar o que devia.
Rafael foi resgatado desse cenário de trabalho forçado aos 17 anos, em 2008, durante uma operação realizada pelo Ministério do Trabalho. De 1995 a 2015, o organismo libertou mais de 50 mil trabalhadores de situações análogas à escravidão. A cena dos fiscais chegando à fazenda, segundo o jovem, também parecia a de um filme, e o resgate mudou para sempre o enredo de sua narrativa.
“A gente levava uma vida muito simples. Meu pai separou da mãe e eu fiquei com ele, um homem rígido, que não abraçava e beijava o filho. Ele me mandou ir trabalhar porque era preciso, os escravizados são fracos de situação e, por isso, forçados a trabalhar, trabalhar, trabalhar”, conta Rafael.
Desde criança, todo o dinheiro que conseguia juntar ele usava para comprar material de escola, lápis, borracha e caderno. “Quando eu conseguia o material, ia assistir aula. Depois, o material acabava e eu ficava só no meio do mato mesmo, mas só pensando em voltar para a escola de novo”, lembra.
Após ser resgatado, além de atendimento psicossocial, Rafael passou por cursos de qualificação, como de pintor, operador de máquina agrícola e açougueiro, oferecidos pelo projeto Ação Integrada.
Hoje, aos 24 anos, ele é corretor de imóveis e estudante universitário em Várzea Grande, onde reside. “Faço engenharia civil e pago com meu dinheiro”, orgulha-se. Para o rapaz, que atualmente está casado, toda a adversidade que enfrentou serviu para consolidar uma filosofia: “Quem manda no meu destino sou eu”.
Rafael tem certeza de que o filme da sua vida não chegou ao final: “Ainda sou uma criança escrevendo um livro que ainda não terminou”. Rafael é um dos mais de 700 beneficiados pelo projeto Ação Integrada, em Mato Grosso. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) apoia a iniciativa.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também