Grupo Sonhus Teatro Ritual apresenta hoje ‘Travessia Kanü-Shi’ no Teatro Goiânia
“É um poema corporal que exige do público empenho, atenção e sensibilidade”, diz diretor Nando Rocha
O Grupo Sonhus Teatro Ritual apresenta ao público goianiense o Travessia Kanü-Shi, neste fim de semana – sábado (24) e domingo (25) –, no Teatro Goiânia. A entrada é apenas um quilo de alimento. O espetáculo é resultado da investigação da linguagem de dança-teatro butô japonesa que durou oito anos. Ambas as apresentações serão às 20h. Esta apresentação integra o Se Oriente Goiás – Simpósio Ser e Não Ser do grupo sobre dança, teatro e lutas orientais.
No palco, a plateia assistirá a uma peça com muito movimento e pouco texto. “É um poema corporal que exige do público empenho, atenção e sensibilidade. Convida o público a respirar em outro tempo, a desacelerar e mudar de marcha, a voltar à sopa primordial de nossa essência humana e animal, nossa condição de bicho pensante”, comenta o diretor Nando Rocha.
Esse espetáculo, um dos mais novos do grupo (estreado em 2015), é o resultado da junção e síntese de outros três espetáculos intitulados Travessia. Hoje, eles estão extintos do repertório, mas já participaram de mais de 20 festivais em todo Brasil, além de ter passado pela Alemanha, pela Itália e pelos Estados Unidos. Também ganhou, por duas vezes, o Prêmio Funarte de Teatro Miriam Muniz, além de dois editais da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e um da estadual – Goyazes.
Criação
O trabalho corporal do Grupo Sonhus Teatro Ritual é bastante presente em suas criações. “Desde o início, estudamos bastante esses movimentos artísticos modernistas do início do século 20, especialmente o expressionismo, o minimalismo e o surrealismo que nos fascinavam em seus conceitos e visualidades”, comenta Nando. Alguns anos depois, o grupoconheceu a dança-teatro butô.
Esse movimento artístico no Japão se inspirou nessas mesmas linguagens modernistas da arte ocidental e as mesclou às artes tradicionais japonesas como o teatro Nô e Kabuki. De acordo com Nando, esta era uma busca por uma expressão que pudesse expor o trauma japonês pós-bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial.
“A identificação estética foi imediata para nós. Também tínhamos uma memória de infância de mutilação e horror causados pelo acidente radioativo do Césio 137 em Goiânia. Queríamos expressar nossas memórias sobre este episódio sem sermos óbvios, muito menos literais”, explica Nando. A dança butô foi a expressão que encantou o grupo e para domina-la, trabalharam duro.
“Viajamos muito atrás dos mestres dessa arte pelo Brasil e no exterior. Fomos para Alemanha, Argentina, EUA e Japão para trabalhar diretamente com esses mestres. Não falamos sobre o acidente do Césio 137, assim como o butô no Japão e no mundo não fala das bombas atômicas lançadas sobre eles. Porém esses traumas foram os grandes motes para essa expressão radicalmente expressiva como se quisesse mostrar o corpo, em seu avesso, em sua máxima expressividade e sensibilidade”, explica o diretor.
Para que o espetáculo se tornasse um trabalho consolidado, contaram com coreógrafos e diretores como: Tadashi Endo, japonês residente na Alemanha, onde os atores do grupo estiveram em 2008; Gustavo Collini italiano residente na Argentina, onde estiveram em Buenos Aires em 2010; Joane Lagge, nos EUA, onde estiveram em Seattle em 2008; Natsu Nakagima e Yoshito Ohno, no Japão, onde estiveram em Tóquio em 2010; Norberto Presta, argentino, e Sabrine Uitz, alemã, ambos à época residentes na Itália, onde estiveram em Vighzollo D’este em 2007.
Kanü-Shi, em japonês, quer dizer “canoa de papel”. Quando estamos em mar revolto, um barco é preciso, navegar, viver é impreciso. Navegar é como dançar. É preciso dançar o entre as coisas, o viver e morrer, entre céu e terra, entre começos e fins, entre encontros e partidas.
SERVIÇO
Espetáculo ‘Travessia – Kanü-Shi’
Quando: 24 e 25 de setembro às 20h
Onde: Teatro Goiânia
Ingresso: 1kg de alimento