Irandhir Santos é homenageado na 16ª edição do Goiânia Mostra Curtas
O ator está sendo conhecido pelo grande público pelas telas da TV, mas já é um veterano do cinema nacional
Júnior Bueno
Na sexta-feira (30), foi ao ar o último capítulo da novela Velho Chico. Dias antes, foi muito compartilhado nas redes sociais um vídeo em que Bento, personagem de Irandhir Santos, contracenava com a câmera, como se esta fosse Santo, personagem de Domingos Montagner. Após a trágica morte de Montagner, a equipe da novela decidiu manter suas cenas finais, usando uma câmera subjetiva e algumas falas para garantir a presença do personagem na história. A cena, por si só, já tinha elementos para emocionar o mais quadrado dos cubos de gelo, mas só um ator com o talento de Irandhir, emocionado de verdade em cena, poderia fazer a arte sobressair à sua comoção e entregar um dos momentos mais sublimes da TV em 2016.
O ator está sendo conhecido pelo grande público pelas telas da TV, mas já é um veterano do cinema nacional, e sua presença na telona é tão constante nos últimos anos que ele vem a Goiânia, hoje (4), para ser homenageado na abertura do festival Goiânia Mostra Curtas, que vai até o próximo dia 9 de outubro. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche disse, certa vez, que “é preciso ter caos e frenesi dentro de si para dar à luz uma estrela dançante”. Irandhir tem o caos, tem o frenesi, e é um dos grandes atores de sua geração.
O primeiro trabalho do pernambucano na tela grande foi há 11 anos, no elogiado Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes. Mas, entre os assombrosos desempenhos de João Miguel e Peter Ketnath, pouca gente prestou atenção no estreante. A situação começou a mudar, no ano seguinte, quando marcou presença em Baixio das Bestas, em 2006, num desempenho que lhe rendeu o Candango de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Brasília.
Essa também foi sua primeira parceria com o diretor Claudio Assis, que lhe chamaria novamente em 2011, dessa vez para ser protagonista do polêmico A Febre do Rato, mais um elogiado trabalho que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Paulínia. Dentre estes dois, vieram outras obras de sucesso, tanto de crítica quanto de público. Um pouco mais popular após ter aparecido em destaque no campeão de bilheteria Tropa de Elite 2, estreou na TV na microssérie A Pedra do Reino. Em seguida, fez sucesso nos filmes O Som ao Redor, Tatuagem e Aquarius, no polivalente cinema feito em Pernambuco e nas TV, em Amores Roubados, Meu Pedacinho de Chão e Velho Chico. Ao longo desses 11 anos, Irandhir conquistou mais de 20 prêmios, e a homenagem no Goiânia Mostra Curtas mostra que o festival segue atento ao que de melhor acontece no cinema brasileiro.
Curta-metragem
A 16ª Goiânia Mostra Curtas, festival nacional de cinema em curta-metragem, abre sua programação com a exibição da obra Décimo Segundo, dirigida por Leonardo Lacca, que conta com atuação de Irandhir Santos. A programação, que começa a partir das 20h, terá, ainda, pocket show de Jards Macalé. O evento é realizado no Teatro Goiânia com entrada franca. Homenageado in memorian, o cineasta, ator e roteirista Zózimo Bulbul também será celebrado no primeiro dia do festival, com a exibição da sua obra Alma no Olho (1973). O filme integra a Curta Mostra Especial que, neste ano, leva a temática Cinema Negro Brasil Contemporâneo.
O objetivo da mostra paralelo Cinema Negro Brasil Contemporâneo é apresentar um panorama sobre a produção de curta-metragens feita por realizadores negros no século 21. De hoje até domingo (9), o 16ª Goiânia Mostra Curtas oferece uma ampla agenda cultural ao público, totalmente gratuita. São cinco mostras que contemplam a diversidade de gêneros e formatos da produção audiovisual brasileira: Curta Mostra
Especial, Curta Mostra Brasil, Curta Mostra Goiás, Curta Mostra Municípios e 15ª Mostrinha – dedicada ao público infantil. A programação inclui, também, palestras, seminários, laboratórios e oficinas, encontros e lançamentos literários.
São quatro mostras competitivas na programação – a maior, a Curta Mostra Brasil, conta com 44 filmes de 14 Estados. Dentre a seleção, que apresenta um panorama atual da produção nacional em curta-metragem, há duas obras goianas, E o Galo Cantou, dirigida por Daniel Calil, e A Militante, de Pedro Novaes. A curadoria é assinada pela diretora do festival, Maria Abdalla, com exceção dos filmes representantes de Goiás.
Com o objetivo de valorizar a produção que surge distante das capitais, a Curta Mostra Municípios traz oito representantes de cidades como Cachoeira, na Bahia, e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, selecionados pelo curador Fabrício Cordeiro. Há, também, espaço reservado no festival para 14 filmes genuinamente goianos: a Curta Mostra Goiás visa a apresentar a produção local em franco crescimento, sob seleção de Humberto Neiva – responsável pela escolha, também, das duas obras goianas que integram a Curta Mostra Brasil.
O público infantil tem, na Mostrinha, sua vez. Serão exibidos seis filmes, de quatro Estados diferentes, com intuito de promover diversão e educação na sala de cinema, com crivo da curadora Geórgia Cynara. Neste ano, o festival tem patrocínio da Oi e Rodonaves Transportes; incentivo da Lei Goyazes, Fundo de Arte e Cultura de Goiás, Seduce Goiás, Governo de Goiás, Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia; e apoio da Oi Futuro, Unimed Goiânia e Sebrae Goiás.
Também integram a programação do festival as cinco oficinas gratuitas: Laboratório Fronteiras Permeáveis, ministrado por Vera Hamburger; a oficina Olhar Cênico, por Julia Zakia; a oficina Planejamento de Produção para Séries de TV, por Mariana Brasil; a palestra Leis de Incentivo e Fundos de Financiamento, coordenada por Guilherme Fiuza e Júlia Nogueira; o painel Direito do Audiovisual, por Adriana Rodrigues, Pedro Novaes e Rafael Neumayr, e o seminário Um Dia com a Ancine, por Layo Barros. A programação completa do Goiânia Mostra Curtas está disponível no site www.goianiamostracurtas.com.br.
Poeta “maldito”
O nome do músico Jards Macalé, que fará um pocket na abertura, surge naturalmente em referências ao conceito de artista independente no País. Moderno e irreverente, o músico transita com liberdade em diversas esferas da arte, tendo sido parceiro musical de poetas e trabalhado com cineastas e artistas plásticos. O autor de sucessos como Vapor Barato é conhecido como um poeta “maldito” por sua verve irreverente, seu tom ácido e suas letras subversivas.
Para o pocket show, Macalé preparou um repertório com suas composições essenciais, como Farinha do Desprezo, Movimento dos Barcos, Gotham City, Vapor Barato, Hotel das Estrelas, Negra Melodia, Mal Secreto, dentre outras de sua galeria de sucessos.