Rick Bonadio passa a limpo 30 anos de carreira em biografia
Ricardo “Rick” Bonadio é um dos personagens-chave na trajetória de grande parte do que tocou nas FMs do Brasil nas últimas décadas
Júnior Bueno
Ricardo “Rick” Bonadio é um dos personagens-chave na trajetória de grande parte do que tocou nas FMs do Brasil nas últimas décadas. Espécie de “Forrest Gump” da música pop brasileira, ele esteve por trás de muitos discos de sucesso dos anos 90 para cá. Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr., Tihuana, CPM22, Los Hermanos, Ultraje a Rigor, Planta & Raiz, Luiza Possi, Rouge, Br’oz, e NX Zero são só alguns dos nomes que ele descobriu, ou ajudou a lançar no mercado, ao longo de 30 anos de carreira. Um retrospecto da jornada do produtor pode ser conferido no livro Rick Bonadio – 30 Anos de Música, da editora Seoman.
O livro, escrito em parceria com o jornalista Luiz Cesar Pimentel, funciona como um registro das suas conquistas profissionais de Rick, dos anos de dureza, quando recebeu um cheque sem fundo de um grupo de música andina, até os dias de glória, quando foi diretor geral da Virgin Records Brasil onde dirigiu o desenvolvimento, no Brasil, de artistas como Backstreet Boys, Spice Girls, Britney Spears, Manu Chao, Lenny Kravitz e Rolling Stones.
Rick começou a trabalhar com música ainda adolescente e de maneira quase acidental. Ele queria mesmo era gravar uns raps, mas a carreira não decolou, e ele acabou fazendo uns bicos em estúdios. Com 20 e poucos anos, abriu seu próprio estúdio com dinheiro emprestado da mãe. Gravou de tudo e virou noites, se revezando entre os equipamentos de som e os instrumentos, que às vezes precisava tocar para dar uma força para os artistas.
E foi ali que, em 1995, viu chegar uma banda séria, chamada Utopia, que queria ressuscitar o rock brasileiro dos anos 80. Mas as brincadeiras dos garotos quando os microfones estavam desligados é que chamaram a atenção de Rick, que viu, ali, um talento a ser explorado. Rebatizada de Mamonas Assassinas, a banda gravou um CD recheado do melhor besteirol já feito no Brasil. Sabe o Creuzeback que aparece em várias músicas da banda? É o Rick Bonadio. Em sete meses, Mamonas Assassinas se tornou a banda mais popular do País e, em seguida, teve o fim trágico que todos conhecemos, em março de 1996.
Rick seguiu a trilha aberta com os Mamonas, e ele logo se tornou um midas da música: descobriu bandas como Charlie Brown e NX Zero. Em seguida, enveredou pelo caminho dos reality shows. O Popstars, do SBT descobriu o Rouge, aquele do hit Ragatanga e o Bro’z, que não fez o mesmo sucesso. Ele faz questão de ressaltar que esses programas não dão aos vencedores o sucesso garantido. “O reality show é apenas uma maneira de cortar um caminho”, disse ele, em entrevista ao Essência, por telefone. Tanto que já compôs o júri de Ídolos, Country Star, além de participar do quadro Olha Minha Banda, do Caldeirão do Huck.
Atualmente, Rick está na bancada da franquia brasileira do programa X-Factor, na Bandeirantes, e segue no comando de seu estúdio, hoje bem diferente do pequeno estúdio onde começou. A pose na TV parece séria, mas ele ainda não parou de querer descobrir novos talentos. Creuzeback vive.
ENTREVISTA: Rick Bonadio
Seu livro não é exatamente um manual de como ser Rick Bonadio, ou seja, não tem a intenção de ensinar o caminho das pedras, mas de contar as histórias que você colecionou ao longo da carreira. Foi intencional essa opção?
A intenção era de alguma forma contar como eu me tornei produtor. Sempre que alguém me perguntava como eu tinha ido parar nessa área eu respondia: ‘É uma história bem longa’. Então o livro é realmente com histórias, sem a pretensão de ser um guia. Claro que se isso servir para inspirar alguém que queira trabalhar com música. Vai ser ótimo também.
Mas também tem o fator sorte: em alguns momentos você pareceu estar no lugar certo na hora certa. Foi assim com os Mamonas Assassinas?
Eu acho que foi a minha ingenuidade, na época, e o prazer de ver aqueles meninos fazendo palhaçada que contaram ali. Porque, se eu fosse um produtor mais experiente, talvez não tivesse enxergado neles o tamanho que aquilo iria ter e o quão bons eles eram.
A história deles virou um musical, e uma minissérie está em produção. Você foi chamado para ser consultor?
Como consultor, não. Do musical, eu tive uma experiência, que foi um dia muito legal. O José Possi Neto, diretor, me levou para passar um dia com o elenco. Dei umas dicas para os meninos que fazem os Mamonas. O ator que faz o papel de Rick Bonadio eu sugeri fazer mais caricato, como seria um produtor mais firme. Na minissérie que está sendo feita, eu fui chamado para uma reunião. Mas ali já não é a história real deles, é uma ficção baseada nos Mamonas Assassinas.
Para você, que transitou por diversos estilos, existe uma hierarquia entre eles? Existe música boa e música ruim?
É um grande erro que a juventude – e essa é uma característica mais marcante na juventude – comete de classificar a música como boa e ruim. Música é emoção, e as pessoas sentem de maneira diferente. Então não dá para dizer que o que eu escuto é melhor e, o que o outro escuta, pior. É preciso ter maturidade para entender isso. Se a sexualidade, a cor e a música que o outro gosta incomodam alguém, é porque ele não está maduro. Eu já fui punk, odiava quem gostava de metal.
Realitys shows como X-Factor e The Voice Brasil influenciam a forma de se fazer música?
Não. Os realitys são uma forma de o cantor aparecer, cortar um caminho, mas não garantem nada. O cantor grava um disco ao final do programa, e aí ele é um artista contratado da gravadora como qualquer outro. Só aparecer na TV não garante sucesso, vide a quantidade de atores de novela que tentaram seguir na música e não foram adiante.
Para encerrar: o Rouge vai voltar?
Não vai voltar. Soube que recentemente elas se encontraram, mas não vai ter volta. Elas tomaram caminhos muito diversos. Eu estou produzindo a Aline em um disco solo. Eu gostaria de que tivesse outra banda com o mesmo sucesso que as meninas tiveram. Podem surgir outras girl bands, mas o Rouge não vai ter de novo.