Espetáculo ‘Doce Deleite’ traz teatro de revista a Goiânia
O aclamado gênero das décadas de 1940 e 50 está de volta na capital, nesta terça, quarta e quinta
Natália Moura
Antes da televisão e da internet, o principal entretenimento do povo eram os espetáculos teatrais. No início, a segunda arte era muito elitizada, mas movimentos teatrais periféricos tomaram as ruas e as praças dos grandes centros urbanos e conquistaram todos os públicos. Esse é o caso de um gênero teatral muito conhecido no Brasil no último século: o teatro de revista. Proveniente do Rio de Janeiro, mais especificamente da Praça Tiradentes, os espetáculos eram divididos em blocos e continham muita sátira – principalmente política – e forte apelo sexual, tudo isso sem perder o bom humor e sem cair em dramas batidos. Dentre os grandes nomes do teatro de revista no Brasil estão personalidades como a eterna diva Dercy Gonçalves, as vedetes Elvira Pagã, Aracy Cortes e os três cangaceiros Ankito, Golias e Grande Otelo.
Para a montagem do espetáculo Doce Deleite, de Alcione Araújo, da goiana Cia. Cênica Nossa Senhora dos Conflitos, a grande referência utilizada são as peças deste gênero teatral. Dirigida por Sandro di Lima, a apresentação explora o tom popular e musicado do teatro de revista fortalecendo as paródias propostas no texto de Alcione. “A escolha do gênero se deu porque o espetáculo tem uma estrutura muito anos 80, e acreditamos que seria mais interessante agrupar os quadros que são autônomos, que são independentes”, afirma o diretor. Ainda, segundo Sandro, Doce Deleite fala sobre “o mundo do teatro, sobre os bastidores, as contradições”, e divaga a respeito dos desafios que esse mundo enfrenta em seu cotidiano. Segundo ele, a trama foi escolhida em cima da vontade da Cia. de falar sobre seu próprio ofício de uma forma divertida nos dias de hoje.
Com o apoio institucional da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Doce Deleite reúne o trio de atores Fabíola Villela, Mauri de Castro e Sanântana Vicencio e tem como propósito único fazer o público se divertir, tratando de temas com bastante malícia e com um espírito aberto. Para Sandro, a peça é uma comédia visceral com baixa racionalidade e dialoga sobre o teatro: “O palco e a alcova, a alcova e o palco”. Eles quiseram escolher uma comédia assumida, visando a “não cair em um dramalhão que faça coro com esse ressentimento que hoje toma conta do País”, conta Sandro, que completa: “Talvez só o humor e a alegria possam nos anistiar”. Além disso, o diretor salienta que Alcione conseguia fazer o que poucos humoristas hoje conseguem: comédia sem cair em clichês e preconceitos.
A situação política atual do Brasil está presente na peça, mas esse não é o foco do espetáculo. “Assumimos assume que somos contra a censura, contra o golpe, mas isso é feito de forma bastante divertida, satirizando as situações que alimentam as manchetes do País”, afirma Sandro, que também salienta que Doce Deleite vai muito além disso. De acordo com ele, se Alcione estivesse vivo, ele com certeza não deixaria de falar de outras situações do cotidiano contemporâneo, tudo isso sem perder o bom humor.
A comédia teve sua primeira montagem, em 1981, e foi estrelada por Marília Pêra e Marco Nanini, ficando quatro anos em cartaz. Em Goiânia, ela poderá ser assistida, entre os dias 8 e 10 de novembro, no Espaço Sonhus do Colégio Lyceu. A produção é da Balaio Produções Culturais, e a peça conta com o apoio do Sonhus Teatro Ritual e do Acervo Brevintage.
Após a estreia, já pensando em 2017, a Cia. Cênica Nossa Senhora dos Conflitos pretende circular com o espetáculo por Goiás. Além disso, eles estão estudando alguns textos do Padre Antônio Vieira; um deles é o Sermão da Sexagésima, e querem adaptá-lo para o momento atual. Apesar do grupo (elenco) ter uma pegada muito forte de comédia, a companhia está visando a textos que saiam disso, sem excluir a possibilidade – é claro – de montar uma nova comédia. “Nossa Cia. é nova, mas cada um de nós tem uma trajetória longa, então é evidente que estarmos agrupados, agora, é para que possamos atender nossas próprias expectativas”, finaliza o diretor.