Júnior
Bueno

Monstros,
litros de sangue, sexo com criaturas intergalácticas, tomates assassinos,
tubarões voadores, freiras lésbicas, geladeiras perversas… Sabe aquelas
produções tão ruins que ficam boas? Os filmes trash são muito famosos no
cinema, porém poucas pessoas conseguem entender o que significa e o que caracteriza
este tipo de filme. São muitos os detalhes deste sub-gênero que já lançou
grandes clássicos do terror e segue lançando a cada dia. De ícones como Evil
Dead e Plano 9 do Espaço Sideral a obscuridades como O Ataque dos Tomates
Assassinos, são filmes geralmente de baixo orçamento, sem roteiros brilhantes e
muito menos elencos milionários, mas com um fator em comum a todos, a presença
do humor negro, provavelmente a maior característica deles.

E
para quem curte descobrir pérolas de qualidade duvidosa, mas com potencial de
divertimento inversamente proporcional à grana de realização do filme, Goiânia
terá um atração imperdível. De Hoje (7) a domingo (11) de dezembro, no Cine
Cultura, acontece a Trash – Mostra Internacional de Cinema Fantástico. Realizada
pela Escola Goiana de Desenho Animado e MMarte Produções, o festival vai exibir
mais de 50 filmes entre longas e curtas, com entrada gratuita. Criada em 1999
como um espaço alternativo paracirculação de vídeos independentes, a Trash
alcança a sua oitava edição ainda apostando no circuito alternativo. Neste ano,
além de abarcar produções do mundo inteiro, consolidando-se como um evento
internacional, a mostra dedica sua programação integral aos gêneros terror,
ficção científica e fantasia, passando a se chamar Trash – Festival
Internacional de Cinema Fantástico.

Na
programação, obras de 14 países, totalizando 8 longas-metragens e 46 curtas,
selecionados dentre as quase três mil obras enviadas. Além da exibição de
filmes, a programação conta com debates, mesas redondas, festas, lançamentos de
livros e quadrinhos. Também serão ministradas oficinas gratuitas de Efeitos
Especiais em Maquiagem e de Cinema de Alfred Hitchcock. O diretor e maquiador
Rodrigo Aragão e o crítico e jornalista Carlos Primati foram convidados para
compartilhar sua experiência na área. Para Márcio Júnior, criador e curador da
mostra, o número expressivo de inscrições aponta para algo que tem se falado há
algum tempo: a produção dos filmes de gênero no mundo já não pode ser
considerada uma questão de gueto, restrito a um pequeno público de fãs. “A
grande quantidade de novos festivais dedicada ao cinema fantástico também
demonstra que há caminhos interessantes de produção a serem explorados”, diz
ele.

Na noite de abertura, a partir das
19 horas, a programação começa com a exibição da primeira parte do documentário
Nas Sombras do Medo: O Cinema de Terror no Brasil, da diretora Simone
Zuccolotto. A produção discute vários tópicos, como a fronteira entre o horror
e o fantástico e ainda conta com a participação de vários artistas renomados no
gênero, como: José Mojica Marins, o Zé do Caixão, Kleber Mendonça Filho, Carlos
Primati, Ivan Cardoso, Rodrigo Aragão, Laura Cánepa, Walter Lima Jr. e Gabriela
Amaral Almeida.

O lançamento do livro Enquanto os Urubus
nos Rodeiam, dos goianos Remus da Silva, Romano Ricardo e Sandra Prudente,
acontece às 21h15. A obra tem, segundo os autores, “uma influência do romantismo,
marcada pelo tédio de viver, envolvendo o sobrenatural e a morte como última
solução”.

A primeira noite da Mostra Trash também
oferece a exibição do longa As Fábulas Negras, do diretor Rodrigo Aragão, um
dos maiores nomes do cinema de horror do cenário brasileiro. Rodrigo tem no
currículo mais de 25 peças de teatro, 15 curtas-metragens e oficinas em
diversos eventos cinematográficos. Após a exibição do filme, o diretor
participa de bate-papo com o público.

Um dos destaques do fim de semana é
a mesa redonda Mulheres que Tocam o Terror, no sábado, às 16 horas. O debate reúne
grandes nomes na pesquisa e produção de filmes de terror para discutir o espaço
das mulheres e o olhar feminino nas produções de gênero. Para compor a mesa
redonda foram convidadas a cineasta Monica Demes, do premiado O Despertar de
Lilith; Laura Cánepa, pesquisadora e doutora em multi meios; Alice Fátima
Martins, doutora em Sociologia pela UnB; Simone Zucollotto, jornalista e
crítica e Mayra Alarcón, atriz e produtora.

Para
Laura Cánepa, as mulheres sempre tiveram papel fundamental na história do
terror, principalmente na literatura. “Figuras como a Mary Shelley e a Anne
Rice têm obras consideradas marcos fundamentais. Esse é um gênero que sempre
explorou questões muito caras à experiência feminina e que contou com a
participação de mulheres no debate, criação de histórias e na interpretação de
personagens”, explica a pesquisadora. Monica Demes também destaca a importância
de se incentivar a participação feminina no gênero. “Para que as estórias de
terror cumpram a sua função catártica, como as antigas tragédias gregas, é
essencial que as mulheres se sintam representadas”. Para ela, este debate abre uma
porta para que se entenda a importância do universo feminino nessas produções. A
programação completa da Trash está disponível no site do evento. 

Foto: divulgação