Os melhores álbuns nacionais de 2016
No ano em que bons
lançamentos de rap e vozes femininas se destacaram, o melhor disco é de um artista morto em 2003
JUNIOR BUENO
Sabotage, Sabotage As voltas que a vida dá: o melhor álbum de 2016 vem de um cara que foi morto em 2003, aos 30 anos: Mauro Mateus dos Santos, vulgo Sabotage. Nos meses que antecederam a sua morte, o músico vinha compondo novas músicas para um novo disco que acabou nunca sendo lançado. Recentemente, porém, essas letras acabaram sendo resgatadas para finalmente ser construído o último álbum do rapper, uma espécie de ‘despedida oficial’. O disco é uma verdadeira joia, um adeus à altura de um artista que viveu uma vida breve, mas completa. As letras podem ter sido escritas e gravadas há mais de dez anos, mas (infelizmente) ainda soam atuais. A consciência social e honestidade do rapper aliados à ótimas batidas feitas com cuidado por grandes nomes nacionais fazem desse um dos discos mais icônicos dos últimos anos.
Princesa, Carne Doce: Bate aquele orgulhinho dessa banda de Goiânia –a capital mais prolífica do indie nacional. Em Princesa, o Carne Doce ressurge mais suave e autoconsciente, mas ainda capaz de incomodar como em Artemísia, que aborda a discussão sobre aborto com versos de emocionar. “Eu estava pensando a respeito da ideia do ‘meu corpo minhas regras’ e eu comecei a divagar sobre o que é considerado um egoísmo absoluto, por um lado, e um direito absoluto por outro”, explicou ao Essência Salma Jô, principal letrista da banda sobre a música, uma das melhores do ano.
Tropix, Céu: Inspirado em estética sonora vintage, mas distante do saudosismo, Tropix garante o lugar de Céu entre as grandes cantoras da música brasileira em todos os tempos. O reggae e o trip-hop do início da carreira de Céu aqui dão lugar a canções dançantes e altamente viciantes como O Perfume do Invisível e Varanda Suspensa. Com uma carreira coesa e sempre coerente, o mundo musical da artista sai do lugar a cada passo que ela dá. Em Tropix, a caravana da sereia se ambientou no universo artificial da noite sem perda da naturalidade de Céu.
Duas Cidades, BaianaSystem: Você pode nunca ter ouvido falar do BaianaSystem, mas a banda é um fenômeno. Pouco a pouco, eles arrastam multidões cada vez maiores ao redor do país. Multidões que cantam todas as músicas, dançam e reagem de um jeito inacreditável. Duas Cidades tem tamanha leveza e é tão festivo que chega a camuflar o conteúdo ricamente social e cultural ao longo de suas 12 faixas. A banda vem na missão de observar e se meter nos dois pólos das desiguais metrópoles brasileiras –Cidade Alta e Cidade Baixa em sua Salvador, o morro e a orla no Rio de Janeiro e por aí vai –ao misturar sons propriamente de massa (sobretudo o axé) àqueles importados (como aquilo que é chamado de Indie alimentado principalmente pelo Reggae e Dub). O resultado é de um aspecto dançante que sabe contagiar qualquer um sem perder o conteúdo.
Orgunga, Rico Dalasam : Se tem alguém que ousa na música brasileira, esse alguém é Rico Dalasan. Em Orgunga, seu primeiro álbum de estúdio, o rapper trafega pelos temas característicos do hip-hop, mas também abraça sua identidade de forma ousada, sendo um dos pioneiros do queer rap no Brasil, o que já havia feito em singles lançados avulsamente desde 2014.
Boogie Naipe, Mano Brown: Os rappers também amam. No primeiro disco solo de Brown, estamos diante de uma expressão romântica de um homem de quem estamos acostumados a ouvir petardos contra o sistema.Agora ele passa a cantar o que diz o seu coração em canções repaginadas com o soul-funk-disco dos anos 1970 e 80, com a produção luxuosa de Leon Ware, famoso por seu trabalho com gigantes como Marvin Gaye e Michael Jackson.
Mahmundi, Mahmundi: É sempre gratificante ser presenteado nos dias de hoje com um disco de música pop doce, delicado, simples, envolvente, marcante.Depois de anos e anos de espera, Mahmundi finalmente lançou seu álbum homônimo de estreia, uma verdadeira pérola do pop alternativo tão quente e interessante quanto a sua bela capa. Os timbres oitentinhas dão as caras, agora refinados por arranjos mais cuidadosos e melhor executados que nos EPs que conhecíamos até aqui. A música Hit ganhou ainda um dos clips mais deliciosos do ano.
Remonta, Liniker e os Caramelows: “Liniker só nos deixa uma saída: implodirmos todos os gêneros.” Assim o cantor de gênero neutro é saudado por Julio Maria, do jornal Estado de São Paulo. Não é pra menos: suas letras sensíveis sobre amar e ser incluído vêm embaladas em uma voz dessas que só se ouvem de tempos em tempos. O álbum é a estreia de Liniker e sua banda, Caramelows em um álbum cheio, que diz muito a que vem.
Soltasbruxa, Francisco, El Hombre: O recém-lançado álbum da banda de Campinas (SP) é uma crítica ácida e, ao mesmo tempo, doce, com alvos que vão do machismo ao político-pesadelo Jair Bolsonaro. Com produção bem executada, tirando de cada instrumento a potência devida para que este grito seja escutado, a base instrumental mantém sólida as influências latinas do grupo, passeando por gêneros como a música folclórica mexicana, axé, marchas e outros.
Gatos e Ratos, Odair José: Quem não está conectado em música é capaz de imaginar que Odair José é um nome do passado. Só que não. Depois de um disco roqueiro, Dia 16, em 2014, ele reafirma o gênero com Gatos e Ratos, um álbum conceitual de protesto que merece um ouvido mais atento. Ele é o cara!