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terça-feira, 26 de novembro de 2024
Crise nos presídios

Presidente do TJGO convoca reunião para discutir crise nos presídios

Embora legalmente existam três meios – fechado, semiaberto e aberto, apenas fechado e a prisão domiciliar realmente funcionam na prática segundo Leobino

Postado em 16 de janeiro de 2017 por Toni Nascimento
Presidente do TJGO convoca reunião para discutir crise nos presídios
Embora legalmente existam três meios – fechado

O desembargador Leobino Valente Chaves,
presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), está em uma
reunião com representantes de todos os órgãos ligados à Segurança Pública no
Estado de Goiás para discutir a crise nos presídios brasileiros. A providência
foi tomada após encontro, na quinta-feira (12), com a ministra Carmén Lúcia,
presidente do Supremo Tribunal Federal, do qual também participaram 27
presidentes de tribunais de todo o País.

Segundo o juiz
auxiliar da Presidência, Romério do Carmo Cordeiro, o trabalho será
desenvolvido em três frentes. A primeira delas é o que a ministra Carmén Lúcia
chamou de “choque de jurisdição penal”, ou seja, um esforço concentrado para o
julgamento de todos os casos em que exista prisão provisória num prazo máximo
de 90 dias. “A tendência, no entanto, é a confirmação dessas prisões
provisórias em definitivas”, ressaltou Romério, que apesar de tudo acredita que
é válida a resposta rápida por parte do Poder Judiciário.

Além disso, ela quer
que seja feito um censo físico para saber a real situação carcerária do País,
uma vez que os números disponíveis não são confiáveis. “A ministra precisa
saber quantos presos existem, quais são provisórios e definitivos, que crimes
cometeram, em que condições estas pessoas estão vivendo, enfim, saber como é,
de fato, a população carcerária no Brasil”, explicou o magistrado. A ministra
deu prazo até terça-feira (17) para que todos os tribunais informem, com
precisão, o número de processos penais não julgados em cada comarca.

Outro ponto
ressaltado pela ministra Carmén Lúcia e que será discutido na reunião é quanto
aos sistemas de cumprimento de pena no Brasil. Embora legalmente existam três
meios – fechado, semiaberto e aberto, apenas fechado e a prisão domiciliar
realmente funcionam na prática. Os Estados, em regra, não possuem estrutura
para o cumprimento do sistema semiaberto, uma vez que não existem colônias
agrícolas ou industriais para o cumprimento do aberto. Com isso, resta apenas o
sistema fechado e domiciliar, ou seja, a liberdade com uso de tornozeleiras
eletrônicas.

“Investir em
presídio, embora necessário, além de demorado, é muito caro. Temos de trabalhar
junto ao Poder Executivo para que se façam maiores investimentos na construção
de novas casas do albergado e em colônias. Se você tem isso, você tira de
circulação muitas pessoas que tem problemas com crime das 21 horas até as 5 da
manhã, além dos finais de semana”, afirmou.

Segundo ele,
promotores e juízes, sabendo desta situação, naqueles casos mais sérios, tendem
a pedir e a aplicar condenações mais graves porque sabem que não tem como
cumprir semiaberto por falta de estabelecimento adequado. “Por exemplo, se você
tem um homicídio simples em que o réu é primário, sem antecedentes, ele, muito
provavelmente, vai pegar uma pena menor de oito anos, ou seja, vai para o
semiaberto. Como não tem estabelecimento, ele volta para casa com tornozeleira.
Como você explica para a família da vítima que esta pessoa está solta?”,
questionou ele para ilustrar a necessidade desse investimento. “Apesar de
termos um número elevado de presos, a sensação de impunidade ainda é muito
grande”, arrematou.

Complexidade 

A complexidade do sistema carcerário nacional foi ressaltada também pelo
supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do
Estado de Goiás (GMF-GO), desembargador Luiz Cláudio Veiga Braga. Para ele, são
válidas as orientações da ministra Carmén Lúcia, principalmente quanto à
uniformização das ações dos tribunais de justiça do País, mas a crise é resultado
de problemas que vem sendo perpetuados há décadas.

A solução não é
apenas conjuntural, segundo o magistrado, passa por questões estruturais.
“Não tem condições do preso ter atividade dentro dos presídios e se
ressocializar, se preparar para voltar. Nós precisamos de uma sociedade que não
seja discriminatória e que aceite esse preso de volta. Além disso, precisamos
que aqui fora essa pessoa tenha proteção no sentido de ter uma atividade
econômica rentável para manter a sua família. Se isso não ocorrer, vamos ficar
nesse círculo vicioso: a pessoa pratica o crime, o Judiciário atua, manda para
o sistema prisional, ele não se recupera, volta para a sociedade e reincide.
Então, essa realidade não é conjuntural”, afirmou.

Para Luiz Cláudio, os
dados do sistema penitenciário goiano sobre o número de presos provisórios e
definitivos não pode ser avaliado com muita correção técnica, pois o
cumprimento da pena, atualmente, ocorre a partir da condenação confirmada, que
o faz entrar no sistema, mas ainda como provisório porque a sentença ainda não
transitou em julgado”, explicou.

União 

Em matéria publicada nesta sexta-feira (13) no site do STF, a ministra
Carmén Lúcia afirmou que os problemas carcerários no Brasil atingiram outro
patamar desde o mês passado, com rebeliões e mortes em presídios no Amazonas e
em Roraima. “A situação é de emergência. As facções criminosas mais do que
nunca dominam nos presídios”, observou a ministra.

Carmén Lúcia destacou
ainda que há união entre todos os juízes e que nenhum juiz está sozinho. “ O
momento é crítico, mas estamos solidários”, afirmou. Ela informou também ter
sido formado um grupo de trabalho de juízes criminais para atuar como
colaboradores, identificando os principais problemas das varas de execução
penal. O diretor do Foro de Goiânia, juiz Wilson da Silva Dias, integra a
força-tarefa.

Da reunião de
segunda-feira, às 15 horas, participarão representantes da Ordem dos Advogados
do Brasil – Seção Goiás, do Ministério Público, Defensoria Pública e Secretaria
de Segurança Pública.

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