Passageiras preferem mulheres como motoristas
Fuga do assédio e constrangimento são motivos para a preferência na hora de pegar o Uber
Wilton Morais
A personal trainer, e motorista de Uber há seis meses, Dyelle Duarte costuma carregar de tudo – encomendas, passageiros e outros serviços – que qualquer motorista pode fazer. Mas o tratamento gentil e a afinidade feminina são características determinantes no trabalho, que atraiu outras mulheres. A preferência, conta a motorista é porque “alguns homens” ainda machistas, não conseguem ter uma boa relação, entre cliente e motorista. Para Dyelle, manter a ética de trabalho, em conjunto com o bom relacionamento é fundamental.
“Existe uma afinidade, quando se vê outra mulher dirigindo elas ficam curiosas, e querem fazer parte desse mundo”, conta. A curiosidade faz com que diversos assuntos venha a tona, durante as viagens que variam de 20 minutos a um hora. “Se eu fizer, 10 corridas, em cinco os passageiros me admiram, por que não é uma coisa bastante vista. É um mercado novo”, disse a motorista.
Violência
Do banco de trás do veículo ao banco do motorista, as historias de vida aproximam passageiros de motorista. Dyelle relata os momentos que a marcaram na profissão. “Carreguei uma mulher que havia acabado de sair de uma situação de espancamento”. A passageira contou a Dyelle que estava cuidando do namorado, ao retirar os cravos do rapaz. Após puxar o cravo com um pouco mais de força, o homem a agrediu com um soco. “É um momento que nem sempre devemos falar, mas sim ouvir. Muitas mulheres se acomodam com a agressão, pedem conselhos”, conta. O cuidado é essencial, pois é uma responsabilidade sobre a vida de outra pessoa. A orientação se torna indireta – um caso de polícia.
A afinidade passa conforto às passageiras. Apesar disso, a violência ainda é um problema. “O homem quando chama o veículo para a esposa, por questão de ciúmes, e outras situações, algum tipo de violência, costuma dar preferência a uma condutora feminina”. Pelo medo do julgamento, travestis e prostitutas procuram a condução feminina. Até mesmo o olhar se torna recriminado. “O ‘cara’ sendo machista, pode até fazer a corrida calado, mas de certa forma debocha, quando deixa o passageiro”.
Mercado promissor
Professora de inglês e motorista do Uber desde julho do ano passado, Fadwa Helou, nota que a oferta do serviço por mulheres só tem aumentado na Capital. “Existe essa preferência porque as mulheres estão dando mais liberdade, e as pessoas confiam mais na mulher dirigindo”, conta a professora. Para Fadwa, a quebra do paradigma em que só os homens podem dirigir está sendo quebrado pela forma simpática das mulheres. “Na plataforma do Uber existe esse aumento de mulheres. Diferente do taxi que ainda existe muitos homem, por conta do paradigma conservador”, explica.
Para quem ainda não carregou nenhum passageiro estressado, a relação de trabalho sempre foi compatível. Conforme a professora, em apenas um grupo de WhatsApp, para as motoristas de Uber, 256 mulheres compartilham no bate papo, assuntos do dia a dia da profissão. A finalidade é a solidariedade, ajudar uma a outra – pontos legais para o trabalho, pedir socorro, quando um pneu fura. “Temos uma colega de 56 anos, já eu tenho 35 anos. A mulher é cautelosa, as estáticas mostram sobre os acidentes”, aponta Fadwa.
Marcas da profissão
Sobre as historias que marcam a motorista, Fadwa conta que a preferência pelas mulheres no volante também são dadas por alguns homens. Sem querer um guarda-chuva, que deveria estar no porta malas do veículo, foi deixada pela motorista no banco de trás do carro. Fadwa então foi atender um chamado de um jovem para leva-ló ao setor universitário. Como de costume, o clima de tensão durante a noite e a chuva, deixava a motorista apreensiva.
“O estudante, não possuía endereço nem se quer ponto de referencia. Mas mesmo assim chegamos rápido ao destino. Antes dele perceber eu estava com o guarda-chuva nas mãos, abrindo a porta para ele”. Segundo a motorista, o estudante chorou e disse que nunca havia sido tratado daquela maneira. “Ele deveria estar com problemas pessoais. Um garoto que sempre foi muito hostilizado. Por mais um pouco choraria junto”, relata.
A avaliação do estudante a motorista foi bastante positiva no aplicativo. “Me deu cinco estrelas, e comentou que daria 10 estrelas se tivesse como. Não fiz mais que minha obrigação, pois estava com a sobrinha. O comentário dele me deixou marcada”, contou emocionada.