Jejum para exames é flexibilizado a cada avanço da tecnologia
Laboratórios com nova tecnologia passam a flexibilizar o jejum para antes de exames com perfil lipídico
ELISAMA XIMENES
Se tem exame marcado para amanhã, o jejum é certeza. As 12 horas antes, portanto, são restritas para o consumo de água e nada mais. Há até quem coma tudo o que tem direito antes de se iniciar o prazo anterior à retirada de sangue. No dia de ir ao laboratório, todo cuidado é pouco, afinal, acredita-se piamente no velho ditado que diz que ‘saco vazio não para em pé’. Mas isso tem, aos poucos, virado coisa do passado. A tecnologia tem avançado ao ponto de o jejum anterior aos exames passar a ser pré-requisito dispensável. Em consenso coordenado pelas Sociedades Brasileiras de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Cardiologia (SBC), Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Diabetes (SBD) e Análises Clínicas (SBAC), o jejum para exames de perfil lipídico passou a ser flexibilizado.
Isso quer dizer que, dependendo do laboratório, não será mais necessário parar de comer algumas horas antes da retirada de sangue. Essa permissão se refere aos procedimentos para determinar as dosagens de colesterol total, HDL (lipoproteína de alta densidade), LDL (lipoproteína de baixa densidade) e triglicerídeos. Um dos membros do grupo de pesquisadores do consenso, o médico Sérgio Vêncio, endocrinologista e diretor-médico do laboratório Atalaia, explica que “o termo flexibilização quer dizer que agora o médico pode solicitar o exame com ou sem jejum”. Ainda segundo ele, alguns laboratórios, como o Atalaia, já não solicitam a restrição alimentar para mais de 99% dos casos.
A flexibilização se deve ao avanço dos equipamentos com metodologias que minimizam as interferências por aumento dos níveis de gordura após as refeições. “As máquinas estão cada vez mais inovadoras e sensíveis. Além disso, nós, médicos, temos mais entendimento sobre a avaliação do perfil lipídico, sem jejum, devido aos últimos trabalhos apresentados”, explica Sérgio. Segundo ele, com a nova tecnologia, o resultado fica mais evidente quando não foi feito o jejum. “A presença de uma quantidade aumentada de triglicérides deixa o soro turvo, opaco e limitava a dosagem de uma série de substâncias”, afirma. De acordo com Sérgio, as metodologias mais modernas permitem mais precisão às dosagens “seja pela extração do fator interferente ou dosagens diretas mais acuradas”.
Além das facilidades aos especialistas, a novidade traz mais comodidade aos pacientes. Como era preciso ficar pelo menos 12 horas sem comer, os exames coincidiam com o horário de pico para que as pessoas passassem somente a noite sem alimentação. Isso dificultava ainda mais a vida. “Isso é especialmente verdade para gestantes, idosos, crianças e diabéticos que, além de tudo, apresentam risco aumentado de hipoglicemia, que é a queda de açúcar no sangue”, complementa. Além disso, entende-se que é desnecessário o jejum para medir o colesterol, visto que a maior parte dessa gordura é produzida pelo organismo e muda pouco com a alimentação. Segundo o médico, a amostra sem jejum possibilita um diagnóstico mais real, porque, no dia a dia, dificilmente alguém fica 12 horas sem se alimentar. Fora isso, ainda é necessário que não se ingira bebidas alcoólicas em 72 horas antes do exame, mas nada que atrapalhe na rotina do paciente. “É importante que o médico tenha a exata noção do que acontece com o paciente dentro da rotina diária dele e que os exames não sejam maquiados com dietas e tempo de jejum prolongado que não façam parte do dia a dia”, finaliza.