Leticia Sabatella apresenta ‘Ternas Experimentações’ hoje, em Goiânia
O espetáculo será apresentado no Teatro Sesc
Elisama Ximenes
“Tudo é música”.É com esse pensamento, que Leticia Sabatella escuta musicalmente a chegada de uma nova personagem. Ela é dessas artistas ‘caixinha de surpresas’. Quando o público acha que ela já arrebentou o bastante atuando, ela aparece como diretora. Surpresos foi como ficamos quando ela estreou na direção do documentário Hotxuá, em que registra o dia a dia da etnia indígena Krahô. Mas, quando achamos que havia parado por aí, ela aparece interpretando Geni e o Zepelim, de Chico Buarque. Sua voz, como sua interpretação, surpreende tanto que, agora, o País enxerga, também, uma Leticia cantora. Hoje, a mesma Goiânia que a recebeu no ano passado, como diretora, no festival Palhaçaria, a recebe como cantora, intérprete, compositora e, acima de tudo, artista no 1º Festival Internacional de Solos em Goiás (Fisgo).
À Capital goiana ela traz o espetáculo musical Ternas Experimentações. Como o próprio nome diz, o show é repleto de experimentos e foi pensado especialmente para o festival, e foge um pouco do que o Caravana Tonteria vem fazendo. O grupo, do qual faz parte, é formado, também, por Paulo Braga, Fernando Alves Pinto, seu marido, e Zeli Silva, e conta com a direção musical de Arrigo Barnabé. O Caravana tem músicas de viagem e caminha entre composições de Chico Buarque, Cole Porter, Kurt Weil e da própria Leticia. O processo de criação de suas poesias musicadas surgiu de um escapismo artístico, conforme a própria artista explicou ao Essência. O momento de compor chegou depois de uma vida, em meio à música, em uma casa onde mãe e avó eram exímias cantoras e, o pai, pianista.
Para Ternas Experimentações, ela traz mais poesia ainda com um Fernando Pessoa musicado e declamações de poemas em meio às canções. A interpretação de Geni, que virou um clássico, também está presente. Para ela, a repercussão dessa música, que trata do cotidiano violento da travesti Geni, mostra que “somos milhões que não toleram mais opressão nem hipocrisia”. E Leticia, para além da artista completa que é, sempre se mostrou firme em seus posicionamentos quanto aos direitos humanos. O documentário Hotxuá é um exemplo disso. Ela traz à tona a realidade de uma etnia, que poderia ter sido negligenciada, sem ser sensacionalista ou paternalista, mas trazendo traços de sua cultura e da figura do Hotxuá, que é palhaço que também é sábio para os Krahôs. Em entrevista ao Essência, Leticia fala sobre seus posicionamentos, essa dança entre as artes que domina e sobre Ternas Experimentações.
SERVIÇO
Fisgo – ‘Ternas Experimentações’ com Leticia Sabatella
Quando: quarta-feira (8) às 20h
Onde: Teatro Sesc Centro
Quanto: R$ 70 (inteira) | R$ 35 (meia) | R$ 40 (comerciários)
Entrevista Leticia Sabatella
Primeiro, gostaria que você explicasse o porquê deste nome Ternas Experimentações. Quais são essas experimentações tão cheias de ternura?
Na verdade, o nome veio pelo formato de show sugerido pelo festival. Algo que não fosse a Caravana Tonteria, mas mais essencial. São experimentos.
Você pode nos contar um pouco sobre o repertório?
Tem três jazzinhos, sem letra, de minha autoria. Tem uma versão do poema Alma Ausente, do Lorca, musicado por mim; um Fernando Pessoa, musicado por Anna Toledo. Tem Amorcego, uma música e letra de minha autoria em parceria com André Sachs, que surgiu no ensaio de uma versão de Retrato em Branco e Preto, com o Paulo Braga, mesmo parceiro da interpretação de Geni, uma bomba também. Também declamo alguns poemas, como um trecho do Canto XX da Ilíada, com experimentações corporais e sonoras, e Duerme-te Niño, das compilações do De Falla.
E como começou sua relação com o canto e a música em geral?
Com as cantorias em casa mesmo. Minha mãe é supercantora, minha vó também. Meu pai toca piano. A família é festiva. Existimos, porque tem música.
Como você começou a compor e o que te inspira?
Eu passei por algumas crises, momentos de extremo estresse, quando eu comecei a gravar toda murmuração sonora que me ocorria. Chego a acordar de sonhos onde escuto muita música, como um escapismo que surgiu espontaneamente depois de muita vida musicalizada, em família, no teatro, no mato, na tribo, enfim.
Para você, qual a diferença entre a arte de atuar e a de cantar como formas de expressão?
Uso tudo o que sei de atriz para cantar e escuto musicalmente a ‘chegada’ de uma personagem. Tudo é música.
Você é uma artista de posicionamentos bem marcados com relação aos direitos humanos. Como isso dialoga com sua arte?
Faço arte para ser um humano melhor e me envolvo com questões sociais para ser uma artista mais sensível e preparada pelas experiências heróicas de pessoas que conheço lutando por mais justiça e igualdade.
A sua interpretação de Geni e o Zepelim, composição de Chico Buarque, ficou bem famosa. Para você, qual a importância de interpretar uma música como essas que retratam a realidade de muitas mulheres negligenciadas pelas opressões?
Acho que com a re-repercussão da Geni, percebo o quão estamos em sintonia. Somos tantos milhões que não toleram mais opressão nem hipocrisia.
E qual a sua expectativa para a apresentação desta quarta-feira (8)?
Pela programação incrivelmente boa do festival, ocupo lugar honroso para poder me expressar. Creio que haverá um diálogo!