Por falta de vagas, Cais assume função de hospital
Superlotação faz com que pacientes corram risco de contaminações
Wilton Morais
Pacientes internados no Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais) de Campinas reclamam da falta de encaminhamento na unidade. Desempregada, Josy gonçalves dos Santos está com o pai, o aposentado Jose Gonçalves Pereira, 65 anos, internado na unidade há 10 dias. “A médica pediu uma bateria de exames e foi constatado problema crônico nos rins. Logo em seguida, a médica falou que o meu pai precisava realizar alguns procedimentos de hemodiálise”, explica Josy. O procedimento também é realizado no Cais, porém, os pacientes precisam ser encaminhados para uma clínica especifica que dão continuidade ao tratamento.
Mas o problema do Cais não atinge apenas o aposentado. Apenas em uma sala, mais de 10 pacientes estão internados de forma precária com riscos de contaminação à saúde dos demais. “Tem uma paciente com problemas psicológicas gritando amarrada na cama. Ela diz palavrões o tempo todo. Alegaram pneumonia no caso dela, que aguarda encaminhamento para tratar o problema psicológico”, conta.
Após alguns exames, o aposentado foi diagnosticado com uma infecção por causa do uso do cateter. “A médica me disse que vão tirar o cateter, para tratarem”. A família procurou o Ministério Público (MP) para pedir a transferência de José Pereira. Mas de acordo com os próprios pacientes, os mesmos não podem ser retirados da unidade enquanto não ficarem prontos laudos de exames de sangue que apontam a possibilidade de Hepatite e até mesmo a possibilidade de Tuberculose. O laudo deve ficar pronto em até 10 dias, mas não há uma data exata.
“O que podemos fazer, estamos fazendo, mas enquanto não sair os exames eles não aceitam o meu pai em outro hospital”, lamentou Josy. A unidade também não tem como separar os pacientes por falta de estrutura física. “Todos estão com a imunidade baixa. Está muito arriscado”, complementou.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os pacientes aguardam no Cais até que haja surgimento de vagas em hospitais. Até que o problema seja solucionado, os pacientes serão atendidos na unidade. A secretaria não confirmou se os pacientes aguardam um exame de Hepatite, ou a suspeita de pacientes com Tuberculose, porém, a SMS está apurando a situação do Cais. Sobre a vaga do paciente Jose Gonçalves Pereira, a SMS apenas disse que o paciente está tendo a assistência necessária e passa por uma atualização da função renal para posteriormente ser encaminhado a clínica especializada. A SMS resaltou que para pacientes com suspeitas de doenças transmissíveis é realizado o isolamento.
Lotação e crise
No final de fevereiro, o problema de internação em Cais foi percebido na unidade Amendoeiras. À ocasião, a aposentada Raimunda Rodrigues de Souza, de 74 anos, esperava por uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para realizar cirurgia no coração. Com chagas, a paciente esperou pela vaga por mais de seis meses.
Atrelado ao problema de superlotação. O Hospital Materno Infantil (HMI) informou na segunda-feira (20) que a superbactéria Klebsiella pneumoniae Carbapenemase (KPC) causou a morte de dois recém-nascidos. De acordo com a direção técnica do hospital, as mortes foram consequência da superlotação enfrentada pelo hospital. A unidade tem capacidade para 22 recém-nascidos, porém após o carnaval, chegou a receber 35 bebês. Outras quatro crianças estão em observação pelo hospital, que averigua a possibilidade de infecção.