Juíza foi faxineira para pagar os estudos
A juíza Adriana Maria dos Santos Queiróz, da comarca de Quirinópolis, lançou, no último sábado (29), na livraria Saraiva do Shopping Flamboyant, o livro “Dez passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de Direito”. A obra conta a trajetória da magistrada, que é filha de trabalhadores rurais […]
A juíza Adriana Maria dos Santos Queiróz, da comarca de Quirinópolis, lançou, no último sábado (29), na livraria Saraiva do Shopping Flamboyant, o livro “Dez passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de Direito”. A obra conta a trajetória da magistrada, que é filha de trabalhadores rurais e foi faxineira para pagar os estudos.
O desembargador Carlos Alberto França fez questão de comparecer ao evento para prestigiar a colega. “É uma história muito bonita, emocionante e mostra bem que quem luta, quem batalha para conseguir algo, alcança. Que ela sirva de exemplo para muitos de nossos jovens para alcançarem os seus objetivos”, destacou.
Ao saber da história da juíza goiana, a advogada Anna Paula Lopes quis conhecer de perto a magistrada. “Fiquei muito emocionada com a história e vim comprar o livro. Estou curiosa para saber cada passo, cada luta que ela enfrentou porque almejo essa carreira. E, com o livro, pretendo tirar várias lições para chegar aonde ela chegou”, frisou.
A trajetória
Adriana Maria Queiroz sempre soube logo o que queria da vida: alterar o contexto social em que estava inserida e mudar a história daqueles que, como ela, conviviam com a exclusão social e de direitos. Ao terminar o segundo grau, com toda a dificuldade financeira, ela contrariou a curva natural de sua trajetória e se arriscou no vestibular.
Em 1998, oriunda de uma escola pública, Adriana conseguiu o feito de ser aprovada em 3º lugar na Faculdade de Direito Alfa Paulista, de Tupã, São Paulo, para onde seus pais imigraram para tentar o sucesso que o sertão da Bahia não lhes proporcionava. A alegria da aprovação, no entanto, deu lugar ao desespero porque até o último dia do prazo para se inscrever, ela não tinha dinheiro para pagar a matrícula e assegurar sua vaga.
Com o prazo vencendo na segunda, sábado ela aceitou um emprego de faxineira na Santa Casa local, mas o salário não seria suficiente para pagar a universidade. Ela então buscou ajuda na própria instituição e conseguiu uma bolsa de 50% do valor da mensalidade. “Sempre acreditei que não importa o que você faz, você tem de fazer bem-feito”, afirmou Adriana, que empenhada em manter sua faculdade dava o seu melhor na limpeza da instituição até ser promovida e passar a trabalhar na área administrativa.
Uma vez superada esta etapa e com o sonho de ser juíza, Adriana pediu demissão da Santa Casa e, com o acerto trabalhista, rumou para São Paulo com o objetivo de frequentar o Damásio Educacional, curso com alta aprovação em concursos públicos. Tinha dinheiro para a matrícula e para, no máximo, um mês na cidade. No entanto, depois de 30 dias na capital paulista e sem encontrar emprego para se manter, escreveu para a direção da escola falando de suas dificuldades. Além de uma bolsa, ela conseguiu um emprego na biblioteca do curso e uma maneira de pagar o pensionato onde vivia.
Depois de sete anos de luta, de altos e baixos, em 2011, a ex-faxineira se transformou em juíza. Damásio, o professor que a ajudou e que nunca havia comparecido em uma posse de ex-aluno, fez questão de pegar um avião para ver Adriana ingressar na magistratura goiana. Hoje, juíza da comarca de Quirinópolis, ela se mantém firme na realização de seu sonho e vai, aos poucos, alterando a realidade da população local distribuindo justiça. Nas escolas, trampolim para os sonhos de quem não nasceu em berço de ouro, ela deixa claro que vencer é possível. (TJGO)