Temer 1 ano: economia decolou ou derrapou?
Especialistas acreditam que é possível dizer que o país ensaia uma recuperação, mas muito ainda precisa ser feito
RHUDY CRYSTHIAN
Quando discursou pela primeira vez como presidente, em 12 de maio de 2016, Michel Temer disse que seu maior desafio era “estancar o processo de queda livre da atividade econômica e melhorar significativamente o ambiente de negócios do setor privado, para produzir mais e gerar mais emprego e renda”. Mas passado um ano de seu governo, é possível dizer que o país ensaia uma recuperação e o que a economia tem a dizer, de positivo e negativo, sobre a mudança política do Brasil?
Os dados mais recentes sobre emprego não são animadores: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz que o país tem 14 milhões de desempregados. O índice de desemprego bateu recorde no primeiro trimestre de 2017, chegando a 13,7%. “As empresas esperam sinais mais claros tanto para demitir (no início de uma crise) quanto para recontratar, por conta dos custos trabalhistas e de treinamento”, explica Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e política da consultoria Tendências.
A expectativa é de que o emprego só seja retomado mesmo em 2018, “quando devem ser criados postos de trabalho em ritmo suficiente para absorver as pessoas que estavam fora do mercado”, diz Ribeiro.
Os economistas veem como um importante sinal positivo o fato de a inflação se mostrar sob controle, depois de anos em alta: o aumento de IPCA (medição oficial) de abril, por exemplo, foi de 0,14%, índice mais baixo desse mês já registrado pelo IBGE desde o início do Plano Real, em 1994. Com isso, a expectativa é de que a inflação deste ano se mantenha dentro da meta de 4,5%. O fato de os preços não estarem subindo é justamente consequência da recessão do pai.
E menos inflação significa mais espaço para a queda da taxa de juros (Selic), reduzida para 11,25% na última reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central. O conselho citou justamente a “dinâmica favorável da inflação” entre os fatores que o levaram a reduzir os juros do país. A expectativa, entre analistas ouvidos pelo próprio Banco Central em seu boletim oficial, é de que a Selic caia ainda mais até o final do ano, para 8,5%.
Uma revisão de metodologia do IBGE apontou alguns sinais de alta nos números recentes do varejo, e há indicativos de aumento da confiança dos comerciantes. Ao mesmo tempo, com o desemprego alto e o crédito escasso, o consumo das famílias fica necessariamente comprometido. A liberação de contas inativas do FGTS traz algum impulso – segundo o governo, os saques injetarão R$ 34,5 bilhões na economia -, mas seu impacto no consumo é alvo de debate.
A produção industrial caiu 1,8% em março em relação ao mês anterior e mantém desempenho fraco desde o início do ano, segundo o IBGE, em um exemplo de como a atividade econômica ainda não decolou. Alessandra Ribeiro ressalta, porém, que o setor, em média, cresceu no último trimestre em relação ao anterior e que a confiança da indústria tem dado sinais mais positivos, apesar da volatilidade.
Agricultura
Com o aumento da produção agrícola e dos preços internacionais dos alimentos, a agricultura tem sido a boa surpresa, dando alento ao cenário econômico e contribuído com um saldo positivo na balança comercial (relação entre as exportações e importações do país).
Em março, o Brasil registrou superavit recorde (ou seja, mais dinheiro entrou nas exportações do que saiu nas importações): US$ 7,1 bilhões, justamente por causa da venda de carne e outras matérias-primas.
Quando o IBGE divulgou os números da atividade econômica brasileira de 2016, em março, trouxe várias más notícias: o PIB do país caiu 3,6% no ano passado e a taxa de investimento recuou 1,6% no último trimestre. Os sinais dos investimentos neste ano ainda são incertos. Ribeiro acredita que as taxas devem estar voltando a crescer. Lopreato e Perfeito, porém, são menos otimistas.