Dois são presos em operação que investiga fraude na Norte-Sul
Empresário e advogado são presos por desvios de R$ 20 milhões em Operação De Volta aos Trilhos
Marcus Vinícius Beck
Na manhã de ontem (25), o empresário Jader Ferreira das Neves e o advogado Leandro de Melo Ribeiro foram presos na Operação De Volta aos Trilhos, pelo Núcleo de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal (MPF-GO) e pela Polícia Federal (PF). A operação investiga desvios de R$ 20 milhões nas obras da ferrovia Norte-Sul, em Goiás e Mato Grosso. Os mandatos foram decretados pelo Procurador Geral da República, Hélio Telho.
Jader é filho de José Francisco das Neves, o Juqunha, ex-presidente da Valec, estatal que foi responsável pelo empreendimento marcado por fraudes. Pai e filho já haviam sido condenados, respectivamente, a 10 anos e sete meses de prisão no âmbito da Operação Trem Pagador, considerada precursora da operação De Volta aos Trilhos, que em 2012 desarticulou esquema de cartel, licitações marcadas, peculato e corrupção na Norte-Sul.
Segundo a Polícia Federal, foram cumpridos ontem seis mandados de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva (quando se é obrigado a depor). Um deles, inclusive, foi expedido contra o próprio ex-presidente da Valec, que se diz ‘tranquilíssimo’ com as acusações. A operação baseia-se em acordos de colaboração premiada assinados com o MPF-GO pelos executivos da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez, que confessam pagamento de propina ao Juquinha.
Por volta das 10h15 de ontem, porém, o ex-presidente da Valec deixou sede da Polícia Federal em Goiânia e negou as acusações. “Tudo certo. Tudo declarado. Não existe nada até agora. Tem seis anos de investigação e é isso aí”, explicou Juquinha. Ele ainda disse que não possui nenhum patrimônio em nome de ‘laranjas’.
De Volta aos Trilhos
Desdobramento da Lava-Jato, a Operação é nova etapa das operações O Recebedor e Tabela Periódica, que investiga crimes de lavagem de dinheiro decorrentes do recebimento de propinas nas obras da ferrovia Norte-Sul.
Um dos principais objetivos da operação é o sequestro e apreensão de bens, que estavam sendo mantidos em nome de terceiros, de modo a ocultar quem de fato era o dono e, ainda, maquiar a origem dos recursos usados para sua aquisição. Segundo apurado pelo MPF, os imóveis pertenciam realmente a Juquinha e Jader.
No nome deles, estavam um apartamento nº 2301, edifício IT Flamboyant, no Jardim Goiás. Outros imóveis também pertenciam a eles, como o apartamento nº 1403-B, em construção no edifício Residencial Applause-New Home, no Setor Coimbra. Estima-se que estes imóveis tenham sido lavados em pelo menos R$ 4,4 milhões, em valores de 2012.
MPF
O Ministério Público Federal (MPF) diz que Juquinha e Jader “continuaram a lavar dinheiro da propina” mesmo depois de condenados à prisão. “Produziram provas falsas no processo para ludibriar o juízo e assegurar impunidade, além de custearem parte de sua defesa técnica (advogados) com dinheiro de propina”, alega a instituição.
Segundo o MPF, o advogado é suspeito de ser laranja de Jader e Juquinha, além de auxiliá-los na ocultação do patrimônio. O MPF ainda afirma que também foi solicitada prisão preventiva de Juquinha das Neves, todavia o pedido foi indeferido pela 11ª Vara Federal da Sessão Judiciária de Goiás, considerando não haver provas suficientes de atuação criminosa. Mesmo assim, o Poder Judiciário determinou condução coercitiva contra Juquinha.