Prefeitura deve conduzir à força até 100 dependentes da Cracolândia
De acordo com secretário municipal de Saúde Wilson Pollara, ação deverá ser iniciada na próxima semana
A prefeitura da capital paulista estima que deverá conduzir
a uma avaliação médica coercitivamente (contra a vontade da pessoa) cerca de 80
a 100 dependentes químicos que frequentam a região da Cracolândia no centro de
São Paulo. Ontem (26), a pedido da administração municipal, a Justiça paulista
autorizou a prefeitura a abordar usuários de drogas nas ruas e levá-los
compulsoriamente para uma consulta psiquiátrica.
“Uma avaliação prévia mostra que lá na região 30% das
pessoas têm problema psiquiátrico grave. Temos também uma avaliação de que
pouco menos da metade das pessoas aceitam [ir ao médico], pouco mais da metade
aceita. Se considerar hoje que lá temos 600 pessoas, eu estou falando em 200
pessoas com problemas psiquiátricos. Das quais de 80 a 100 pessoas vão precisar
de condução coercitiva”, disse hoje (27) o secretário municipal de Saúde Wilson
Pollara.
De acordo com o secretário, a ação deverá ser iniciada na
próxima semana. No entanto, ainda não está formatada, em detalhes, a forma como
será feita a abordagem dos usuários de drogas. Pollara adiantou que será usada
uma equipe multidisciplinar no contato com os dependentes químicos.
“Isso vai ser definido pela nossa equipe psiquiátrica, já
está sendo elaborado, está quase no final. [Depois de abordada] a pessoa vai
ser levada ao Caps [Centro de Atenção Psicossocial] e em seguida essa pessoa é
consultada pelo psiquiatra. Ele define a necessidade ou não de uma internação,
e aí essa solicitação é levada ao juiz, que analisa de uma forma adequada, se
há ou não os critérios para que essa pessoa seja internada”, acrescentou o
secretário.
Decisão judicial
De acordo com a prefeitura, atualmente, os agentes de saúde
e guardas-civis podem abordar os dependentes químicos e oferecer o tratamento
de forma voluntária. Com a decisão judicial de ontem, os usuários poderão ser
levados, sem o consentimento deles, para um médico. Se o médico considerar
necessária a internação compulsória, é preciso uma autorização judicial,
procedimento que já é adotado. A abordagem compulsória valerá por 30 dias e
poderá ser aplicada na região da Cracolândia e adjacências. Menores de idade
não estão incluídos.
Conselho de Medicina
Em nota divulgada na noite de ontem, o presidente do
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mauro Aranha,
disse que os médicos, caso optem pela internação à força, deverão fundamentar a
decisão em detalhes e individualmente. Após isso, o pedido deve ser encaminhado
à justiça.
“É absolutamente necessário que se observe que o ato médico
da consulta psiquiátrica deve preceder a todo procedimento de hospitalização
forçada. O Código de Ética Médica contém as normas que devem ser seguidas pelos
médicos no exercício de sua profissão. A legislação garante ao profissional
autonomia suficiente que lhe permita recusar-se a realizar atos médicos que
sejam contrários aos ditames de sua consciência e ao melhor interesse da saúde
de seu paciente”, ressaltou o Cremesp. (Agência Brasil)