Trânsito: Avenida T-10 lidera em desrespeito
De acordo com SMT, faixa de pedestre em frente à Faculdade Araguaia é onde mais ocorre autuações
Renan Castro
A Ana Caroline Souza, 30, estuda em uma faculdade na Avenida T-10, Setor Bueno. Ela afirma que por lá é um sacrifício atravessar na faixa que fica bem em frente à instituição. Como não há semáforo, apenas a faixa, a maioria dos alunos que tenta atravessar precisa esperar a boa vontade dos condutores. Ainda assim, Ana revela que a atitude de quem dirige melhorou muito nos últimos dois anos nessa região. “Era bem pior do que hoje”, enfatiza.
Todavia, Luciana Fernandes, 34, estudante da mesma faculdade, afirma o contrário. “Ninguém para e não nos respeita como pedestre. Quem quiser atravessar tem que se arriscar entre os carros”, revela. “E tem motoristas que ainda falam coisas como se eles estivessem certos. Acham que não devem parar”, desabafa. “Preciso gritar para os motoristas pararem. Nem os ônibus param na faixa”, completa. Luciana afirma também que nunca viu fiscalização da SMT neste trecho da Avenida T-10.
De acordo com a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), de janeiro a abril de 2017 o órgão aplicou 234 multas em motoristas que estacionaram na faixa ou não pararam.
Segundo estimativa do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Seguros, as mortes e sequelas provocadas pela violência no trânsito custaram ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil R$ 146,88 bilhões em 2016. Conforme dados das Organizações das Nações Unidas (ONU), no mundo, pelo menos 3 mil pessoas morrem diariamente em ocorrências no trânsito. O Brasil é o 5º no ranking mundial de mortes no trânsito. E esse resultado se deve ao desrespeito tanto de condutores quanto de pedestres.
Acidente
O mecânico Matheus Arantes, 22, tentava atravessar a Avenida Pio XII, no Setor Cidade Jardim, em Goiânia. Quando os carros pararam, ele seguiu na faixa de pedestre para chegar ao outro lado da via. No meio da faixa, contudo, o jovem foi surpreendido. Um motociclista resolveu não parar e por pouco não atropelou o estudante. Essa é uma realidade enfrentada por milhares de pedestres da capital: o desrespeito de quem conduz algum veículo automotor.
O comportamento imprudente e, muitas vezes, agressivo de quem não respeita a preferência dos pedestres, mesmo na faixa, revela que os estudos teóricos e aulas práticas para conseguir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ainda não são suficientes para educar. Punições, em parte, são capazes de resolver pouca coisa. A cultura do brasileiro ainda é a de infringir regras.
Para Mateus, felizmente, restou apenas o susto. Ele relata que essa não foi a primeira vez que isso ocorreu. “E quase sempre é a mesma coisa. Algum motociclista aparece no meio dos carros e não para”, conta.
O que diz a lei
O artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que “os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim terão prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalização semafórica”. No parágrafo único deste mesmo artigo é estabelecido que “nos locais em que houver sinalização semafórica de controle de passagem será dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos”.
E o respeito dificilmente ocorre. “Um dia quando estava no Centro, próximo ao camelódromo de Campinas, pensei que iria ser atropelada. Quando o sinal abriu, os carros não esperaram os pedestres finalizarem a travessia”, relembra a estudante Thais Lima, 22. “Isso ocorre em vários pontos da cidade, em locais sinalizados ou não. A falta de cortesia e respeito no trânsito geram diversos acidentes, que poderiam ser evitados com uma simples atitude de servir ao próximo”, pondera Thais.
Segundo a SMT, em resposta as reclamações de Ana Caroline e Luciana, a maioria das autuações ocorre na faixa que fica em frente a faculdade onde elas estudam. Por meio de nota, o órgão informou que os dados provam que a presença dos agentes é constante no local.
Educação
A SMT garante que trabalha para levar aos condutores informações sobre o respeito as regras por meio da Gerência de Educação do Trânsito. Conforme a secretaria, os agentes que fiscalizam em portas de escolas, por exemplo, trabalham mais para alertar condutores do que multar. O órgão ressalta também que conta com 314 agentes e em torno de 270 estão na rua para fiscalizar.
Ainda segundo a SMT, estão sendo realizadas palestras nas escolas municipais para alertar sobre educação no trânsito. A Secretaria acredita que as crianças podem ser “multiplicadoras da educação e das regras de trânsito no seio das famílias”.