OMS alerta para mutações do vírus HIV e alta nos casos de resistência
Tomar os remédios de forma errada é a maneira mais comum de criar uma versão resistente às drogas, de acordo com médico especialista
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para uma tendência crescente de
resistência do vírus HIV às drogas disponíveis. O órgão divulgou nessa última
quinta-feira (20) um novo relatório com base em estudos. O texto destaca que em
seis dos 11 países pesquisados na África, Ásia e América Latina mais de 10% das
pessoas que começaram o tratamento antirretroviral tinham uma cepa do vírus
resistente a medicamentos do mercado.
O
Brasil está na lista dos países com registro de resistência do vírus em novos
pacientes, mas com índice menor que 10% – por enquanto, foram reportados 1.391
casos. A organização diz que o crescimento dessas taxas, mesmo que ainda lento,
poderia minar o progresso internacional no tratamento e prevenção da doença.
A resistência do HIV é causada por uma mutação em sua estrutura
genética, o que impede o bloqueio da replicação do vírus pelo remédio e o
tratamento se torna ineficaz. Todos os medicamentos existentes contra vírus
hoje correm o risco de se tornar parcialmente ou totalmente insuficientes
contra a doença.
O médico especialista e pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, Esper
Kallas, diz que ter uma versão resistente do vírus é um alerta, mas não é
motivo para pânico: o HIV pode se tornar resistente a um tipo de remédio, mas
resta uma cartela grande disponível. Segundo ele, são mais de 20 tipos de
pílulas contra a doença.
A Organização
Mundial da Saúde classificou os tipos de resistência:
• Resistência adquirida quando mutações ocorrem em indivíduos que já recebem as
drogas;
• Em pessoas que não tem histórico de ingestão de medicamentos do HIV e são
infectadas por versões mais resistentes;
• Em pacientes com exposição prévia aos remédios, iniciando ou reiniciando o
tratamento: mulheres expostas aos medicamentos para prevenção da transmissão do
HIV de mãe para filho; pessoas que receberam Profilaxia Pré-Exposição, ou
pessoas que reiniciaram o tratamento após interrupção.
Mas o que torna um tratamento ineficaz ou faz um vírus criar uma mutação contra
alguns remédios? De acordo com a OMS e com Kallas, a resistência ao HIV se
desenvolve quando as pessoas não seguem o tratamento prescrito – esquecem de
tomar no dia e horário certo e/ou pulam etapas, como também acontece com o
combate às bactérias. A organização diz que esses pacientes podem transmitir os
vírus resistentes para outras pessoas.
Das 36,7 milhões de pessoas que convivem com o HIV em todo o mundo, 19,5
milhões têm acesso a algum tipo de terapia antirretroviral. Uma tendência
crescente de resistência às drogas da doença pode levar a mais infecções e
mortes. Um modelo matemático da OMS prevê um adicional de 135 mil óbitos e 105
mil novas infecções nos próximos cinco anos, caso novas medidas não sejam
tomadas. O custo adicional pode chegar a US$ 650 milhões.
Organização Mundial da Saúde