Janot: já é possível ver um fim da Lava Jato
Em entrevista ao Jornal O Globo, procurador-geral disse não temer a essa altura forças contrárias à operação, que teria progredido mais que o planejado
Já contabilizando três anos de operação e um saldo de prisões e denúncias de corrupção jamais antes visto no país, a Lava Jato, segundo disse em entrevista nesta segunda-feira (28) o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode estar perto do fim.
Segundo ele, o país “não pode ficar eternamente refém da operação”. Janot deixa o cargo no próximo dia 17 de setembro e teve sua trajetória marcada por ser um dos grandes apoiadores da operação, travando uma série de embates com quem tentava desqualificá-la, ponto que o próprio destacou.
Na entrevista, concedida a jornalistas em um evento do Jornal O Globo, no Rio de Janeiro, o procurador-geral disse não temer a essa altura que forças contrárias à operação consigam colocá-la a perder. Janot ressaltou ainda que a investigação não tem qualquer pertencimento ao Ministério Público, mas à sociedade.
“A Lava Jato não pode ser uma investigação permanente, ela não existe por si mesma e tem escopo”, afirmou. “Acredito que com os últimos episódios a gente vislumbra o final e temos uma linha traçada até onde a operação pode ir e até aonde se espera que vá… o Estado não pode ficar refém de uma investigação eterna”, reconhece.
Janot comentou ainda sobre a tramitação do processo que visa aprovação da lei de abuso de autoridade, conduzida por parlamentares neste momento: “A partir do momento que as investigações prosseguem, as reações acontecem. Toda ação corresponde a uma reação, como a gente aprende na escola. Algumas iniciativas do Congresso geraram perplexidades mesmo, uma delas foi a lei do abuso de autoridade. Esse é um projeto de lei em tramitação desde 2006, e esse projeto de lei caminhava, parava, caminhava, parava, mais ou menos, se vocês fizerem a comparação com algum andamento mais marcante das investigações. O que marcou também, causou perplexidade, foi o fato de se querer tipificar como crime o crime de hermenêutica. O Direito se faz com interpretação. A leitura de dispositivo legal gera ou pode gerar diversas interpretações. Dizer que interpretar de uma maneira ou de outra isso constitui crime, é muito complicado. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Tem que ficar muito vigilante mesmo a partir do momento em que esta investigação prossegue. Nós temos que monitorar reações que podem vir do Legislativo, reações que podem vir do próprio Judiciário, que podem vir do Executivo. Enfim, temos que ficar atentos”, afirmou o procurador-geral.
Em seus últimos dias de mandato, Janot disse ter muito trabalho, mas não comentou nada a respeito de ações específicas, como em relação a uma nova denúncia contra Temer. O procurador da República ainda destacou que futuramente, jamais trabalharia como advogado de políticos corruptos: “Assumo compromisso público de não defender corruptos. Esse é um compromisso comigo mesmo.”