Tragédia pode se repetir na Vila São José
Famílias que moram no local dizem que córrego pode transbordar novamente com “apenas algumas gotas de chuva”
Marcus Vinícius Beck*
Medo e tensão. Esse é o cotidiano de moradores da Vila São José, na região central da Capital, que relatam que não conseguem fechar os olhos à noite por conta da preocupação de terem suas residências inundadas por lama. “Toda época de chuva é a mesma coisa: a gente fica aflita porque quando chove não se sabe o que pode acontecer”, conta a costureira Maria Aparecida da Silva, 70, que mora há 38 anos no bairro.
A dona de casa, Natália Lima, 25, descreve à reportagem os minutos de consternação quando saiu de casa em 1° de março do ano passado e se deparou com água que batia em seu pescoço. Na época, ela estava grávida de seu segundo filho e perdeu o enxoval todo da criança. Além disso, afirma Lima, o Poder Público lhe prometeu uma residência nova, que nunca chegou. “A gente ainda está com medo de que uma nova chuva possa causar tragédias”, desabafa.
O mesmo drama foi vivido pela costureira Rosângela Silva, 49. Segundo ela, desde que uma barragem de terra foi posicionada no dique que separa o córrego das casas, no ano passado, ninguém passa pelo bairro para checar como está a região. Silva, que mora na Vila São José há 40 anos, diz que todo ano, quando se aproxima o período chuvoso, os moradores ficam com receio, e vivem com incerteza sobre o pode acontecer. “O Poder Público nos abandonou, literalmente”, lamenta a costureira.
Diante disso, garante Rosângela, a única vez que a situação melhorou para os moradores da Vila São José foi em 2003, quando Íris Rezende (PMBD) era prefeito na época. “Ficamos um bom tempo sem enxurradas”, diz, lembrando que o atual prefeito posicionou uma barragem mais resistente do que a feita no ano passado. “O nosso medo é de ficar ilhada mais uma vez, pois estamos em período de chuva, e é inevitável não atravessarmos períodos tensos”, finaliza.
Em janeiro do ano passado, quando vários bairros da cidade foram devastados por uma chuva de 12 horas, a Vila São José foi palco de enxurrada que devastou casas e deixou famílias desabrigadas. Com a intenção de amenizar o problema, o ex-prefeito Paulo García (PT) realizou obras na região no ano passado, mas moradores não se sentem confortáveis com a medida paliativa feita pela gestão do petista. “Isso aqui é fácil de vir para baixo com chuva”, queixa-se Rosângela.
Procurada pela reportagem, a Defesa Civil do município, que é responsável por cuidar das áreas de risco da capital, ressalta que faz o monitoramento constante do local. Questionada sobre a obra realizada no local pela gestão anterior, a entidade afirma que “foi para uma recuperação do dique que se rompeu”, e que atualmente as famílias não estão em risco. “Na última quarta-feira (04), o órgão realizou vistoria do dique e não encontrou risco iminente”, garante a Defesa Civil.
Outro lado
A cidade de Goiânia possui 18 áreas de risco. Nelas, há moradias próximas a córregos e rios. A Defesa Civil orienta os moradores dessas regiões sobre como proceder em caso de enxurrada. O órgão ainda diz que o trabalho de monitoramento da região da Vila São José – e das outras áreas de risco – é realizado durante o ano todo. “Nos casos de alagamento e inundações, a Defesa Civil fica em alerta constante nos pontos críticos de alagamento nas ruas e avenidas da capital”, explica o órgão.
Questionada pelo O Hoje sobre desapropriação de famílias que estão na área, o órgão explicou que “muitos moradores que estão na área não querem sair”. Ainda segundo a Defesa Civil, há processos tramitando no Ministério Público de Goiás (MP-GO) para retirar moradores de outras áreas.
Chuva provoca estragos em outros bairros da cidade
Com a chegada da do período chuvoso na Capital, os problemas de alagamentos e inundações começam a surgir. Sete pessoas ficaram ilhadas com uma forte chuva no início do ano na Alameda Dona Iracema, no Conjunto Caiçara, em Goiânia. Um Ônibus, que estava passado pelo local no momento da chuva, ficou impossibilitado de transitar pelo bairro. Duas pessoas chegaram a ficar presas em casa por conta da chuva.
O ano de 2016 também foi tenso para quem mora em áreas de risco. Na Vila Roriz, por exemplo, os moradores acordaram impossibilitados de sair de casa para ir ao trabalho ou escola. As ruas repletas de água e, em determinados pontos, o alagamento atingia acima dos joelhos daqueles que se arriscavam a caminhar por entre as águas.
Na Vila Santa Helena, na região de Campinas, a chuva também provocou diversos estragos. Uma empresa que fica próximo ao córrego Anicuns foi invadida pela água, que atingiu 3 metros de altura. Moradores da região reclamavam que é comum enxurradas. Na época, o Corpo de Bombeiros disse que aproximadamente 70 militares estavam envolvidos nas operações de resgate.
Após as chuvas do ano passado, a Defesa Civil afirmou que a região do Setor Campinas teve 350 famílias afetadas pela chuva.
(Marcus Vinícius Beck é estagiário do jornal O Hoje, sob orientação de Rhudy Crysthian)