Após incêndio na Chapada, voluntários defendem continuidade de ações preventivas
Brigadistas e voluntários trabalham 24 horas por dia para combater o incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Pelos cálculos do ICMBio, o fogo consumiu o equivalente a 28% da área total
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros acaba de passar pelo maior incêndio da história da unidade de conservação. Foram mais de 500 pessoas, entre brigadistas, bombeiros e voluntários, voltadas ao combate às chamas. Quem viveu de perto a situação é a favor de que as ações de conscientização, de proteção do meio ambiente e capacitação sejam constantes e não terminem com a extinção do fogo.
A Rede contra o Fogo, organização da sociedade civil que reuniu mais de 200 voluntários para conter as chamas, abriu uma campanha para o pós-incêndio no parque. Pela internet, a rede pretende arrecadar R$ 574.710 para organizar e capacitar oito brigadas voluntárias regionais, compostas por 12 pessoas cada. O grupo já arrecadou mais de R$ 450 mil.
“Como a gente vai fazer ano que vem para que isso não aconteça de novo? Tem que capacitar todo mundo, todo mundo tem que saber mexer em um abafador, todo mundo tem que ter bomba costal em casa, fazer aceiro”, diz a idealizadora da rede, Sílvia Hennel. Além das brigadas, a organização pretende desenvolver projetos educacionais e criar uma central informação voltada para a preservação do bioma Cerrado.
Fragilidade dos municípios
Os voluntários representaram mais da metade das pessoas que atuaram no combate ao fogo na Chapada dos Veadeiros. A ação emocionou, mas também preocupou os gestores, que perceberam que não teriam, sozinhos condições de lidar com a situação. “Se não fosse o voluntariado, não conseguiria. Em termos de recursos financeiros não conseguiríamos. O voluntariado fez uma diferença gigantesca, enorme, uma união que nunca tinha se visto antes. O município não teria condições. Nós colaboramos com parte dos alimentos para os brigadistas, mas, se tivéssemos que fazer isso sozinhos, respondendo por alimentação e acomodação, não teríamos condições”, disse o prefeito de Alto Paraíso (uma das cidades que compõem a Chapada dos Veadeiros), Martinho Mendes.
O incêndio afetou áreas vizinhas. Coube ao município e ao estado de Goiás lidarem com atendimentos às pessoas afetadas pela fumaça, entre outras questões. O Parque Nacional é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
Aproveitando a atenção à região, Mendes pediu itens básicos para o governo federal, em carta entregue ao então ministro do Meio Ambiente, Marcelo Cruz. Mendes pediu dois veículos de cabine dupla tração 4×4, dois veículos utilitários de tração 4×4 e dois caminhões-pipa. “Não temos uma estrutura básica para trabalhar, para não deixar que o incêndio chegue às proporções que chegou. Foi preciso que os fazendeiros arrumassem um caminhão-pipa para a prefeitura, não temos nenhum”.
Integração de governos
Para o chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Fernando Tatagiba, é preciso melhorar a articulação entre os governos federal, estadual e municipal. “Precisa ser aprimorada uma articulação entre níveis de governo para uma preparação do ponto de vista de prevenção e combate [ao fogo] de uma forma mais rápida”, disse Tatagiba.
O ICMBio dispõe de uma coordenação de prevenção e combate de incêndio florestais e uma gerência de manejo do fogo com atuação permanente. “O ICMBio tem trabalhado com abordagem de manejo integrado e adaptativo do fogo. [Trabalho] integrado entre unidades do ICMBio, entre esferas do governo e também com a sociedade. Isso é fundamental para a prevenção dos incêndios”, destacou.
Tatatiba ressaltou, por exemplo, que cabe ao Estado a autorização de queima controlada para a agricultura e pecuária. “Quanto mais presente o Estado estiver na região para conceder essas autorizações, melhor, pois oferece orientação de técnica, de período do ano e dia para as queimas. Quanto maior a integração das esferas do governo e sociedade, mais efetivo [o trabalho].”
De acordo com o ICMBio, foram 13 dias de chamas, 66,14 mil hectares queimados, o equivalente a 28% da área total do parque, com impactos à flora, à fauna e às comunidades adjacentes. Para o ICMBio, esse incêndio, especificamente, foi criminoso, por havia pessoas criando mais focos. A Polícia Federal investiga o caso.
(Agência Brasil) Foto: Valter Campanato/Arquivo/Agência Brasil