São Paulo inaugura exposição permanente sobre o Holocausto
Uma exposição inaugurada na quinta (9) em São Paulo leva o visitante de volta ao passado para um período importante, embora trágico, da história mundial

Ludmilla Souza Repórter da Agência Brasil
Uma réplica em tamanho natural de um barracão de prisioneiros judeus, objetos e peças de vestuários, posters da propaganda nazista. Logo na entrada, a famosa frase do portão do campo de Auschwitz Arbeit Macht Frei (“O Trabalho Liberta” em tradução livre), seguida pela foto de Anne Frank, a garota alemã cujo diário se transformou em uma das mais conhecidas obras do período do Holocausto. Uma exposição inaugurada na quinta (9) em São Paulo leva o visitante de volta ao passado para um período importante, embora trágico, da história mundial.
Considerado um dos episódios mais cruéis da humanidade, o Holocausto vitimou durante a Segunda Guerra Mundial mais de 6 milhões de judeus, entre eles 1,5 milhão de crianças, mas ainda é pouco conhecido entre os brasileiros. Para preencher essa lacuna, oMemorial da Imigração Judaica inaugurou a exposição permanente sobre o tema e passa a se chamar Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto.
“Essa preservação da memória é fundamental, e é feita no mundo inteiro; há museus do holocausto nas maiores capitais do mundo, então uma capital como São Paulo não podia deixar de ter seu Memorial do Holocausto”, diz o professor de História Judaica Reuven Faingold, diretor de projetos educacionais do Memorial.
Desde sua concepção até sua inauguração, a mostra consumiu seis meses de preparação, com um eixo central: além de ser uma exibição de objetos, fotos ou vídeos históricos, é um local que produz um efeito sensorial no visitante. “Tentamos fazer um museu vivo, no sentido de que o visitante sinta na pele um pouquinho do que aqueles prisioneiros sentiram”, diz Faingold.
“O visitante vai encontrar uma vitrine subterrânea com o prisioneiro e sua ração de comida, que era um pouco de batata; ele vai ver a construção de um comércio judaico em Berlim e efeitos sonoros como a quebra dos vidros dessas lojas durante a Noite dos Cristais. Vai ver reproduções de obras de arte que foram confiscadas de lares judaicos. Há ainda o famoso pijama listrado, tanto de adulto quanto de criança, usados pelos presos. O ponto mais alto é a barraca de prisioneiros, onde as pessoas poderão sentir o cheiro da palha que fazia às vezes de colchão, e a própria tigela que era o travesseiro do prisioneiro”, diz o diretor.
A exposição do Memorial também proporciona contato com objetos autênticos pertencentes às vítimas do Holocausto e doados por seus familiares que hoje residem no Brasil. A exposição ainda exibe vídeos em uma sala especial que narram episódios da época, como filmes de propaganda feitos para exaltar o governo nazista de Adolf Hitler.
Radicado no Brasil há 27 anos, Faingold, de 60 anos, é descendente de judeus. Seu avô materno se refugiou na Argentina, onde ele nasceu. Para o professor, a preservação dos objetos é essencial para a história. “No futuro não haverá mais sobreviventes, porque esses que chegaram [no Brasil] já são pessoas com mais de 80 anos. O que vai sobrar são justamente os museus e os memoriais que temos”, observou.
Para que jamais volte a acontecer
Faingold falou também sobre a importância de divulgar a exposição entre alunos e ensinar algumas definições pouco conhecidas pelos jovens brasileiros. “É preciso falar o que é um genocídio, dar exemplos, e contar o que foi o Holocausto: foi apenas um em toda a história da humanidade, pela brutalidade, pelas etapas e a abrangência do fenômeno, pelo uso e abuso de tecnologias na indústria da morte, por todos esses motivos o Holocausto é diferente de outro tipo de genocídio”, explica. “Nós vamos tratar, dentro do possível, para que escolas estaduais com menos recursos possam vir aqui e visitar nosso memorial”, disse ele
Localizado na primeira sinagoga do Estado de São Paulo, o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto foi fundado em 1912 e guarda um amplo e valioso acervo documental para valorizar a contribuição dos judeus ao desenvolvimento do Brasil.
SERVIÇO
Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto
Rua da Graça, nº 160, Bom Retiro, São Paulo (Estação Luz)
Domingo: grupos com agendamento
Segunda a quinta: das 9h às 17h
Sexta: das 9h às 15h / Entrada gratuita