Após ser incluído em inquérito, Temer envia carta à PGR
A iniciativa do presidente ocorre depois que foi incluído, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, no inquérito da Lava Jato que investiga suposto favorecimento da Odebrecht
O presidente Michel Temer enviou
hoje (8) à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, uma carta com o
parecer do jurista Ives Gandra da Silva Martins sobre o parágrafo da
Constituição que trata de acusação admitida pela Justiça contra a Presidência
da República. O parágrafo diz que “o Presidente da República, na vigência de
seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de
suas funções”.
A iniciativa do presidente ocorre
depois que foi incluído, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson
Fachin, no inquérito da Lava Jato que investiga suposto favorecimento da
Odebrecht no período em que os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da
Secretaria-Geral, Moreira Franco, foram ministros da Secretaria da Aviação
Civil, entre os anos de 2013 e 2015.
A decisão de Fachin atendeu ao
pedido de Raquel Dodge, que justificou que a Constituição impede somente o
oferecimento de uma eventual denúncia contra os investigados e garante
imunidade ao presidente enquanto ele estiver no cargo.
Na carta, Gandra defende que o
presidente deve responder somente “por atos que guardem estrita relação com o
exercício do mandato”. O advogado afirma que “não resta dúvidas” de que a
“suposta prática de infrações ocorridas em 2014” são anteriores ao mandato de
Michel Temer. Além disso, o advogado enfatiza que a Constituição faz distinção
“nítida” entre infrações que têm relação com as funções da Presidência e
aquelas que são “estranhas” ao cargo para impedir a ocorrência de
“instabilidade política”.
O presidente Michel Temer diz na
carta que encaminhou o parecer do jurista à PGR por “mero interesse acadêmico”,
devido ao seu “vício intelectual de discutir os grandes temas do Direito
Constitucional”. Temer também anexou à carta a posição de ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) em decisões passadas sobre o tema, além de um artigo do
ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre o assunto.
No artigo, o ministro apresenta
duas interpretações sobre o artigo constitucional e argumenta que a
responsabilização se inicia pela apuração e a investigação. Torquato afirma
ainda que o objetivo do impedimento constitucional de responsabilizar o
presidente “é a manutenção da estabilidade institucional do país”.
Marun
O ministro da Secretaria de
Governo, Carlos Marun, disse que a intenção de Temer não foi
“pressionar” a procuradora, nem constrangê-la, mas que o presidente
quis apenas “enriquecer o debate” sobre a Constituição.
“O professor Michel Temer, tendo
recebido alguns pareceres, especialmente do jurista Ives Gandra, decidiu
remeter à procuradora Raquel Dodge, numa atitude de absoluto respeito, para que
ela tomasse conhecimento também do pensamento de outros operadores do Direito a
respeito desse assunto. Entendemos como um viés até acadêmico do enriquecimento
do debate. Entendo que a pessoa que não tem mais nada que aprender é porque já
está perto do caixão”, disse Marun.
Com informações da Agência Brasil. Foto: Reprodução