Série musical ‘Prosa Sonora’: contemporaneidade e tradição
Quarta edição do evento terá shows, discotecagens, oficinas gratuitas e programação infantil
Dando continuidade à trajetória iniciada em 2015, a Prosa Sonora 2018, que teve início na última sexta-feira (2), agita este fim de semana no Teatro Sesi – com entrada gratuita. A programação inclui shows, discotecagens, oficinas além de apresentações voltadas exclusivamente para o público infantil, no domingo (4).
A Prosa Sonora é uma série musical idealizada pela Pandarus Música Brasileira, que tem à frente os produtores Fernando Santos e Juliana Alves, com apoio do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás. “Eu e minha esposa, no começo da nossa carreira, fazíamos pesquisa de canto de música folclórica. O festival nasceu mais ou menos nessas pesquisas, que evoluíram, e em 2015 virou o festival”, relembra Fernando. “A ideia primordial era um festival de cultura popular bem tradicional. Essa ideia foi meio que perdendo força quando percebemos que muita coisa que nós entendíamos como ‘cultura popular’ era bastante contemporâneo. Entendemos, assim, que o formato do festival seria meio híbrido, misturando contemporaneidade e tradição”, completa ele.
Dentre os destaques deste sábado (3) e o domingo (4), estão o Samba Pisado de Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro (DF) e o regionalismo eletrônico de DJ Dolores (PE). O festival também vai apresentar aos goianos fusões musicais surpreendentes no Baile Muderno, conduzido por DJ Chico Correa, tendo como convidada Jessica Caitano (PE), que representa a força da mulher nordestina.
Os tambores vão ressoar ao som do Afoxé Omo Odé (GO), e haverá duas oficinas de percussão, para os adultos e para as crianças. Na Prosinha, os pequenos poderão curtir o musical Os Saltimbancos com o grupo Arte em Cena (GO) e uma interpretação de uma peça de Ariano Suassuna, com o Grupo de Teatro Guará (GO).
Segundo Fernando Santos, a proposta é simples, mas muito verdadeira: “Possibilitar que a maior quantidade de pessoas tenha acesso à música de qualidade, principalmente que seja produzida no Brasil. Não importa de onde venha essa música e de que forma ela seja apresentada, o importante é que seja ouvida e que surpreenda, provocando sensações e reflexões até então desconhecidas. Para isso, uma ampla pesquisa é feita, antes da escolha dos artistas, visando a unir o tradicional e o contemporâneo de forma a contemplar toda a beleza da música brasileira”.
Sobre a importância em tornar acessível ao público à música do País, Fernando entende que, apesar de ser uma cultura nossa, as pessoas não conhecem o Brasil, de certa forma. “Trouxemos por exemplo, há dois anos, a Dona Onete, uma cantora lá do Pará que poucas pessoas a conheciam naquela época. Dali para frente, ela teve uma ascensão meio que meteórica, na carreira, o que a tornou bastante conhecida. Eu acho que é uma missão nossa levar a música parra as pessoas que não conhecem”, afirma ele.
Sobre as sensações e reflexões que o Prosa Sonora objetiva transmitir, Fernando explica que a principal reflexão sobre o festival é você entender de existe muitas alternativas musicais que não chegam ao público e nos festivais. Existe muita gente boa, e a aposta do festival é justamente trazer música de qualidade que não está em evidência mas tem sua qualidade.
Oficinas
Em 2018, além de shows, Prosa Sonora oferece duas oficinas gratuitas de percussão: uma será voltada para o público infantil e outra para os adultos. A primeira será neste sábado (3) a partir das 14h. Será uma vivência com Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro (DF) voltada para pessoas que tenham instrumentos como alfaia, agbê, caixa e gonguê. A intenção é ensinar um pouco da batida do ‘samba pisado’, ritmo peculiar criado pelo grupo.
A segunda vai ser oferecida, no domingo (4), a partir das 14h, exclusivamente para o público infantil. A Companhia Boca do Lixo (GO) une arte, cultura e educação ambiental em uma oficina de música sustentável. Para ambas, é necessário fazer a inscrição no link disponível no site e nas páginas oficiais do evento.
Para Fernando, as oficinas são uma maneira de deixar algo concreto na comunidade. A troca de experiência entre os artistas resultam na circulação deles, para lá e para cá, o que abre portas. “Estou muito orgulhoso desta edição está equilibrada todos os dias”, finaliza ele.
Artistas
Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro inventaram seu próprio mito e levam, em suas apresentações, elementos do Cerrado para o imaginário popular. Crioaram, também, um som próprio, uma batida de tambor peculiar, batizada pelo grupo de ‘samba pisado’. Na ‘sambada’, apresentam cantos e baques dos seres da mitologia do Calango Voador e de outro terreiros do Brasil.
O Afoxe Omo Odé foi criado na década de 1990 por Pai João de Abuque, pioneiro do Candomblé em Goiás. O grupo inseriu toda a beleza da indumentária, o ritmo do ijexá e a musicalidade da religiosidade de matriz africana ao Carnaval da Capital e trabalha em prol da valorização da herança afro-brasileira.
O Baile Muderno, conduzido por DJ Chico Correa e convidados, valoriza a experiência musical por meio de lives, DJs, sets autorais e encontros musicais. Forró e coco se misturam ao ragga; afoxé se mistura ao DUB; arrocha é introduzido aos beats do trap – dentre tantas outras fusões surpreendentes. No Prosa Sonora, Chico Correa recebe Jessica Caitano, cantora, compositora, rapper, coquista, percussionista, poetisa, declamadora, educadora e atuante em diversos coletivos culturais.
Helder Aragão de Melo, ou DJ Dolores, é músico, produtor, compositor, designer e escritor. Tem forte envolvimento com a cena manguebeat, que surge em Recife no início dos anos 90. É de DJ Dolores o design do CD-manifesto da cena Da Lama ao Caos, de Chico Science e Nação Zumbi. Assinou diversas trilhas para o cinema, espetáculos e exposições, e já se apresentou em grandes festivais da Europa e na América do Norte. Seu trabalho mistura beats eletrônicos com ritmos tradicionais do Nordeste brasileiro – como embolada, coco e ciranda.
DJ Chico Correa apresenta o que chama de ‘tradição remixada’: coco, baião, repente e música eletrônica, juntos, em uma mesma faixa. Ritmos populares com sintetizadores: uma verdadeira ‘salada musical’.
A Companhia Boca do Lixo (GO) une arte, cultura e educação ambiental. O grupo foi criado, em 2007, com o propósito de desenvolver atividades criativas e atrativas que envolvam a sustentabilidade. O circo, a música, o teatro e os bonecos são ferramentas utilizadas para compor estas ações na promoção das culturas tradicionais brasileiras.
A peça narra a história do encontro de quatro animais que, devido a maus-tratos, fugiram de seus patrões. Aos poucos, se conhecem e vencem as diferenças. Juntos, decidem formar um grupo musical e rumam à cidade para começar a carreira artística. No caminho, encontram seus antigos donos, e, temendo ser novamente escravizados, resolvem enfrentá-los.
Adaptação da peça de Ariano Suassuna, a Farsa da Boa Preguiça representa o contraste entre o ‘Brasil burguês’ e o ‘Brasil humilde’ por meio da história do poeta preguiçoso Joaquim Simão. Aderaldo, seu vizinho rico e avarento, quer, a todo custo, conquistar a mulher do poeta, enquanto Simão se encanta com a beleza de Clarabela, esposa do vizinho.
*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov
SERVIÇO
‘Prosa Sonora 2018’
Quando: sábado (3) e domingo (4)
Onde: Teatro Sesi (Avenida João Leite, nº 1013, Setor Santa Genoveva – Goiânia)
Entrada gratuita
Programação
Sábado (3)
14h – ‘Oficina com Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro’ (DF)
20h – ‘Afoxé Omo Odé’ (GO) – Palco Teatro Sesi
21h – ‘Baile Muderno’ com Jessica Caitano (PE) & ChicoCorrea (PB) – Palco Teatro Sesi
22h30 – DJ Dolores (PE) – Palco Externo
00h – DJ ChicoCorrea (PB) – Palco Externo
Domingo (4)
14h – Oficina com Grupo Boca do Lixo (GO)
17h – Musical Os Saltimbancos – Arte em Cena (GO)
18h – A Farsa da Boa Preguiça de Ariano Suassuna – Grupo de Teatro Guará (PUC-GO)