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sábado, 23 de novembro de 2024
Cidades

Famílias continuam em área de risco

As famílias que moram em área de risco interditada pela Defesa Civil no Jardim Novo Mundo II não têm para onde ir. Elas esperam resolver o problema da erosão há cinco anos

Postado em 26 de abril de 2019 por Sheyla Sousa
Famílias continuam em área de risco
As famílias que moram em área de risco interditada pela Defesa Civil no Jardim Novo Mundo II não têm para onde ir. Elas esperam resolver o problema da erosão há cinco anos

Igor Caldas*

As famílias que tiveram suas casas interditadas depois de ficarem ilhadas pela erosão causada pelas chuvas na ocupação do Jardim Emanuela, no Jardim Novo Mundo II, permanecem no local. A reportagem do O Hoje foi averiguar a situação das famílias que correm risco de vida diante do enorme buraco que abriu e ameaça derrubar suas casas. As obras para construírem novas casas ao lado do buraco não param e diante da situação, as famílias se recusam a sair do local. Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, as casas foram construídas em uma área pertencente a União. Cerca de 500 famílias moram na ocupação.

Ederson Santana Rodrigues mora ao lado da cratera e sua casa é uma das que estão prestes a cair. Ele mantém a perseverança e acredita que vai conseguir resolver o problema da erosão com a ajuda de outros moradores. “A Defesa Civil veio aqui e interditou o local. Falaram que a gente não pode morar aqui. Mas o poder público não dá outra casa para gente morar, então nós mesmos vamos arrumar a condição para morarmos aqui”. 

Santana afirma que a erosão aumenta pela falta de tubulação que escoa a água pluvial que desemboca no córrego Buritis. As manilhas que escoavam a água foram rompidas pelas últimas chuvas e infiltram no solo, deixando o local cada vez mais propício para o desmoronamento. A luta das famílias pela moradia própria se reflete no andamento dos trabalhos de construção de novas casas e na insistência de tampar o buraco com entulho.

O morador quer realizar as obras com os vizinhos assim que o período das chuvas acabar. “Vamos esperar as chuvas acabarem para mexer com essa obra. Nós mesmos vamos colocar essa tubulação para levar a água até lá embaixo. Vamos aterrar e acabar com esse problema de uma vez”. Ederson afirma que já conseguiu um trator emprestado de um familiar para a empreitada. Ele já trabalhou como operador de máquinas e garante que o conhecimento de construção civil dos outros moradores do bairro é suficiente para acabar com o terror do desabamento. “Aqui ninguém tem condição de pagar um aluguel. A maioria trabalha de pedreiro ou servente. Daí, quando consegue o dinheiro de alguma diária, já compra um saco de areia ou de cimento e vai construindo sua casa”.

Ele acha que o poder público usa o abandono das famílias na região para forçar uma retirada. “Eles querem é tirar a gente daqui. Mas para tirar eles têm que dar casas, como não dão, não vamos sair. Aqui pode estar caindo aos pedaços que eu não vou me retirar. Meu tio tem um trator, eu já fui operador de máquina, vou pegar ela e ajudar a gente sair dessa condição”. Ederson mostrou a saída da tubulação que escoa a água pluvial e intensifica a erosão do solo. A saída encontrava-se totalmente entupida, o que faz com que a água se infiltre e passe por baixo do entulho que cobre parcialmente o buraco.

Para Antônio Joventino da Silva, de 58 anos, o problema da erosão não é difícil de resolver. “Era só colocar as manilhas grandes os suficiente para escoar a água lá pra baixo, cobrir de areia com cascalho, pilar bem direitinho com um trator e cobrir tudo de concreto. A prefeitura ia gastar uns R$ 14 mil para fazer isso direitinho”, no entanto a Prefeitura de Goiânia não pode realizar obras no local, pois se trata de uma área da União. Joventino mora há cinco anos na ocupação e afirma que havia uma tubulação que escoava a água das chuvas para o córrego, mas ela foi dilacerada pela força das águas da chuva. “O tubo que levava a água lá pra baixo não era suficiente para conter a água da chuva. As manilhas arrebentaram e caíram tudo lá pra baixo. Se você descer lá, vai ver elas tudo quebrada”.

Antônio afirma que não é a primeira vez que a Defesa Civil vai fazer trabalhos no local. “Quando a gente mudou para cá, o buraco era até maior, mas a gente foi aterrando com entulho com medo de nossas crianças caírem e morrerem. Daí, eles vieram aqui e proibiram a gente de fazer isso. E agora vieram de novo e falam que a gente não pode ficar aqui”, ele também relata a dificuldade que as famílias que moram no local teriam para pagar um aluguel em outro lugar. “Qualquer aluguelzinho de um barraco de dois cômodos é R$ 400. Com uma crise dessas, sem serviço, a pessoa atrasa dois meses e já jogam nossas coisas na rua. Aí, a gente tem que viver desse jeito, arriscando na beirada do córrego. Tem pai de família com dois, três, quatro filhos para criar. Se juntar o dinheirinho do aluguel, é claro que vai faltar alguma coisa pros filhos dele comer. Tem que faltar alguma coisa”. 

Moradores convivem com medo das próximas chuvas 

A Defesa Civil interditou três casas com risco de desmoronamento no barranco no dia 16 de abril. Duas famílias necessitaram de socorro por equipes do Corpo de Bombeiros por que ficaram ilhadas. Sete pessoas não conseguiam sair de duas casas, já que a chuva levou parte do local que dá acesso ao lugar.  A casa que oferece maior risco de cair é a de Divino Aparecido de Oliveira. Ele só consegue acessar sua casa depois de colocar uma corda e uma escada na encosta do barranco. Diante da situação desesperadora Divino afirma que dorme amarrado a uma corda. “Se a casa cair, eu fico”. Divino perdeu metade da sua cozinha e tijolos que seriam usados para construir um muro.

Do alto do barranco onde foram construídas as casas que correm risco de desabar, dá para enxergar uma vasta propriedade com hortas que são vendidas pelas feiras da Capital. As famílias desesperadas vivem um pesadelo de frente para o sonho que gostariam de construir. Ederson Santana, de costas para a vista do barranco, afirma que seu sonho era conseguir um lugar digno para morar. “A gente luta muito para sair dessa situação, mas vem a chuva e acaba com tudo todos os anos”.

De acordo com a Defesa Civil, o problema do local não é novo. Desde 2010, muitas moradias correm risco de desabar. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) afirma que orientou as famílias a tentarem conseguir os benefícios concedidos pelo Governo Federal através da inscrição no Cadastro Único. 

A Semma também afirma que orientou as famílias a buscarem encaminhamento para a Casa de Acolhida Cidadã que oferece abrigo para famílias em situação de risco no Setor Leste Universitário, por meio do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). O secretário municipal de planejamento e urbanismo, Henrique Alves, afirma que fez o levantamento topográfico da parte que cabia ao município, mas agora a competência para tomar uma atitude referente àquela área é da União. 

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