‘1984’: a distopia do presente
O autor é famoso por usar a fala dupla (doublespeak), que é uma maneira de descrever a linguagem eufemística que o governo usa para ‘branquear’ seus atos mais sujos
GUILHERME MELO
A premissa básica de toda distopia é tentar prever quais as consequências das ações humanas. Em 1984, George Orwell usa essa mesma ideia e consegue se sustentar até os dias de hoje. O livro celebra 70 anos, neste sábado (8), e narra a história de um homem que perde sua identidade vivendo sob um regime repressivo. Winston Smith é um funcionário público, cuja função é reescrever a história de forma a colocar os líderes de um país fictício, sob uma luz positiva. As escapadelas românticas com Julia proporcionam sua única fonte de distração, mas os políticos desaprovam o relacionamento. Numa sociedade monitorada de perto, não há como escapar do ‘grande irmão’.
O autor é famoso por usar a fala dupla (doublespeak), que é uma maneira de descrever a linguagem eufemística que o governo usa para ‘branquear’ seus atos mais sujos. Por exemplo, na história de Orwell, o ministério da propaganda era chamado de ‘Ministério da Verdade’, assim como hoje a agência do governo (EUA), que antes era conhecida como ‘Departamento de Guerra’, agora é chamada de ‘Departamento de Defesa’, no governo de Donald Trump.
Toda história toma esse tom mais sombrio, porque houve uma guerra interminável, e Orwell utiliza isso para mostras as condições mudariam, regularmente, mantendo a população em geral confusa sobre conflitos para que eles desistissem de tentar entender o que realmente está acontecendo. Algumas dessas ‘previsões’ são provadas nos padrões de comportamento das pessoas, após uma guerra ou um período de grande crise.
Segundo a lista divulgada na última quarta-feira (5) pelo site Amazon.com, um livro teve alta nas vendas em 2017, e tem se mantido como um dos mais vendidos até hoje.
Orwell tinha uma compreensão incrível de como a tecnologia iria progredir, ao longo dos séculos 20 e 21, e ele foi capaz de imaginar como a tecnologia seria usada por aqueles no poder para controlar as massas. As previsões tecnológicas feitas no livro chegam a ser bizarras e assustadoras.
Orwell descreveu as ‘telas’, que funcionavam como um dispositivo de entretenimento e um dispositivo de comunicação bidirecional. Esse tipo de tecnologia foi previsto por muitos futuristas, na época, mas a previsão do autor era única, porque ele sugeriu que essas ferramentas seriam usadas pelo governo para espionar as pessoas, por meio de microfones e câmeras embutidos nos dispositivos.
Por esses fatores, 1984 continua sendo atual, mostrando que as pessoas no mundo moderno estão distraídas pelo entretenimento e divididas pela política; que não têm ideia de que estão vivendo em um estado de inercia.
(Guilherme Melo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação da editora do Essência, Flávia Popov)