Liberação de novos agrotóxicos ameaça insetos polinizadores
Após liberação de mais de 262 pesticidas neste ano, o ideal é que os produtos sejam usados de forma controlada, recomendam especialistas
Daniell Alves*
O governo federal aprovou o registro de mais 51 agrotóxicos na última semana, totalizando 262 neste ano. Segundo o Ministério da Agricultura, o uso deverá seguir as orientações estabelecidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a mitigação de risco para insetos polinizadores. Em entrevista ao jornal O Hoje, especialistas da área ambiental e agrícola dividem as opiniões. Mas com um ponto em comum: os agrotóxicos devem ser utilizados com cautela.
O ritmo de liberação de novos pesticidas é o mais alto já visto para o período. Entre os agrotóxicos autorizados está o sulfoxaflor, que é relacionado à redução de enxames de abelhas, de acordo com estudos feitos no exterior. A presidente da Associação de Apicultores do Estado (APIGO), Maria José Oliveira, afirma que estas liberações são, no mínimo, muito preocupantes. “Existem outras formas de combater as pragas, como por exemplo, por meio do controle biológico e utilização de pesticidas menos agressores”, frisa.
Ela diz que já ter recebido informações de que abelhas foram mortas por causa de agrotóxicos. “As abelhas já estavam com problema de mortandade antes, agora, a tendência é ficar cada vez pior. Um dos grandes riscos é a quantidade de usos abusivos. Isso não tem sido controlado”, destaca ela.
As abelhas são insetos polinizadores que contribuem com cerca de 80% da produção de frutos e sementes, explica Maria. “Sem elas não há produção para a base da alimentação humana. O Estado precisa de produção agrícola, mas focada em produzir sem contaminar o meio ambiente”, afirma.
A respeito do sulfoxaflor, o Ministério da Agricultura esclarece que a liberação aconteceu após o produto passar por consulta pública e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ibama.
Consumo compatível
O coordenador técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (IFAG), Fernando Borges, defende que o consumo de agrotóxicos no Brasil é compatível com muitos países relevantes do ponto vista de produção agrícola mundial. “Isso em um ambiente de produção tropical, que favorece substancialmente a ocorrência de pragas, plantas daninhas e doenças. Essa tecnologia utilizada nos campos é absolutamente segura e possibilita a produção em larga escala”, destaca ele.
Quando utilizados adequadamente, os agrotóxicos são aplicados com a antecedência necessária para que sejam degradados e não implicam risco para os consumidores, explica o coordenador.
“É importante ressaltar que a utilização de agrotóxicos, de acordo com as recomendações técnicas, é uma prática segura para produtores, consumidores e para o meio ambiente. Assim, os riscos não estão no produto em si, mas principalmente no mau uso desses produtos”, esclarece Fernando.
Maioria dos novos produtos liberados é genérica
Dos novos 51 agrotóxicos liberados, 44 são produtos equivalentes, ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no país. A aprovação de novas moléculas tem como objetivo disponibilizar alternativas de controle mais eficientes e com menor impacto ao meio ambiente e à saúde humana. Já a aprovação de produtos genéricos é para promover a concorrência no mercado de defensivos, o que faz cair o custo de produção.
Entre os produtos formulados registrados hoje também está um herbicida à base do ingrediente ativo florpirauxifen-benzil. O produto técnico foi aprovado em junho deste ano. Ele é formulado à base deste novo herbicida e poderá ser utilizado para o controle de plantas daninhas na cultura do arroz.
Regras
Algumas das regras já estabelecidas são as restrições de aplicação em períodos de floração das culturas, o estabelecimento de dosagens máximas do produto e de distâncias mínimas de aplicação em relação à bordadura para a proteção de abelhas não-apis. Essas restrições constam na rotulagem dos produtos e são estabelecidas de acordo com cada ingrediente e cultura.
(*Daniell Alves é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)