Igor Caldas

Especial para O Hoje

Os goianos têm sofrido muito com o calor nos últimos dias. De acordo com as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), os termômetros devem atingir 39º C neste fim de semana.  Muitos procuram se refrescar como podem. Nessa época, os locais que oferecem banhos em piscinas ou ecoturismo em cachoeiras e cursos d’água ficam lotados aos finais de semana. No entanto, alguns locais na Capital procurados para quem quer se refrescar, não são adequados para banhos. Causam danos ao meio ambiente e à saúde.

É o caso do lago que fica ao lado da Rua Sianinha no Setor Residencial Buena Vista. O local é uma área verde pública usada pela população que procura um alívio do calor da Capital. Segundo os próprios frequentadores do local, nos fins de semana, centenas de pessoas ocupam a área para nadar, consumir bebidas alcoólicas, fazer churrasco e até andar de jet ski. O local oferece riscos de acidentes e já houve casos de mortes

Rodrigo Martins mora no setor Bela Vista, mas prefere frequentar o lago nos dias de semana porque ele trabalha aos sábados e domingos. “Eu venho mais nos dias normais porque trabalho aos fins de semana. Mas sábado e domingo aqui fica muito lotado. O povo desce tudo para cá, trazem as crianças, fazem churrasco. Forma fila de churrasqueira na beira do lago. O calor está demais, ninguém aguenta ficar em casa sofrendo não”. Rodrigo estava se divertindo com outras pessoas e usava um colchão inflável de solteiro como bóia.

Ele ainda afirma que os passeios de jet ski acontecem diariamente no local. “Todo dia tem gente andando de jet ski aqui no lago. E cada dia é uma embarcação diferente. Eu desconfio que esse povo deve ter alguma oficina de jet. Eles devem vir aqui para fazer testes com elas depois dos reparos. No fim de semana chega a ter mais de cinco dessas embarcações na água ao mesmo tempo”. Opina.

Banhos proibidos prejudicam a natureza

De acordo com a bióloga de áreas verdes da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), Wanessa de Castro, todos os lagos em áreas de conservação em Goiânia são apenas para lazer contemplativo. Ela ainda alerta que é perigoso nadar em locais sem estrutura mínima para banhos. Segundo Wanessa, além de colocar em risco a vida e saúde das pessoas, contribui para a degradação do meio ambiente. A bióloga da AMMA alerta que a multa para esse tipo de infração pode chegar a R$ 5 mil.

“O banho é proibido em todos os lagos das áreas de conservação em Goiânia. Não temos nenhum deles onde o banho é permitido. Para que isso possa acontecer em qualquer lugar de forma segura, é necessário uma estrutura mínima para gerir a qualidade da água e o trabalho de um guarda-vidas para prevenir afogamentos. Além disso, os lagos dos parques da cidade são apenas para lazer contemplativo. Eles existem como unidade de conservação para manterem o ecossistema da fauna local. Também é proibido pescar nessas unidades”, explica.

A bióloga da Amma afirma que o uso da pesca também é proibido nos lagos que estão em áreas de conservação em Goiânia. “A pescaria também é proibida nesses lagos porque pode prejudicar a vida aquática. Se você joga um anzol para pegar o peixe e ele fica no local, um cágado ou tracajá pode engolir e se machucar. Além disso, o peixe que está dentro da água não tem uma qualidade de uso saudável para a alimentação humana”.

Wanessa ainda alerta que o uso indevido constante desses lagos pode fazer com que eles deixem de existir no futuro. “Quando as pessoas nadam e usam embarcações em lagos de conservação ambiental, vai movimentando o fundo desse lago e isso pode comprometer a micro fauna de algas e fungos que fazem a manutenção do ecossistema aquático. Além do dano ambiental, a barragem do lago pode ser atingida, e com o assoreamento, ele pode desaparecer para as gerações futuras”.

Frequentadores relatam mortes por acidente

O gesseiro Noé Galvão frequenta a área do lago no setor Residencial Buena Vista. Ele gosta do clima ameno que a brisa do lago proporciona. “Aqui é uma ventania danada e nesse calorão, só de ficar aqui do lado pegando essa brisa refresca”. Ele já entrou na água, mas admite que pode ser perigoso. “Aqui já morreu muita gente afogada. Esse lago é muito fundo. Lá no meio chega a mais de 20 metros de profundidade”.

Ele relata que um de seus amigos já morreu no local. O rapaz deu um salto e rachou a testa em uma placa de concreto no lago. “Um amigo meu já morreu aqui depois de dar um pulo e bater com a cabeça no concreto. Na semana passada meu sobrinho esteve aqui suas crianças entraram na água e começaram a nadar em direção ao meio do lago. Eu alertei a ele sobre o perigo para recolher os pequenos da água”.

Um rapaz de 18 anos morreu afogado dentro do lago em julho deste ano. O jovem estava com amigos e familiares no local quando decidiu entrar na água e se afogou. De acordo com o Corpo de Bombeiros, ele foi encontrado a cerca de três metros de profundidade, após aproximadamente cinco minutos de buscas. O jovem e sua família estavam reunidos para um almoço nas proximidades da lagoa. O lugar não possui sinalização sobre riscos de afogamento.

Água imprópria pode causar doenças

A dermatologista Marcela Corrêa avisa que o banho em locais que não possuem controle de qualidade na água pode ocasionar dermatites bacterianas, fúngicas e parasitárias. “Essas dermatites podem vir em forma de micoses, quando causadas por fungos e infecções bacterianas em forma de lesões e bolhas na pele. As parasitárias podem ser transmitidas por larvas nas fezes de animais. Essas larvas conseguem penetrar na nossa pele e causam a larva migrans, ou bicho geográfico. Lesões causadas por andar descalço e no lago pode pegar também”.

Ela também afirma que o tempo seco também pode ocasionar uma dermatite. “Existe também uma dermatite atópica que acontece pelo ressecamento da pele. É que nessa época do ano, a umidade está baixa, a pele seca e a pessoa entra na água sem hidratar a pele corretamente. Ela pode sofrer lesões pelo ressecamento geral e causa uma dermatite bem feia. Todas essas lesões causam muita coceira”.

A médica alerta que a principal prevenção para essas doenças é evitar entrar nos lagos impróprios para banho. “Se você vê que a água é escura, cheia de dejetos orgânicos, de substâncias boiando ou com mau cheiro, tem que evitar entrar na água. O tratamento

vai depender da extensão das lesões. Qualquer alteração de pele que for percebida, deve se procurar um médico para receber o atendimento e tratamento adequado”, explica Marcela.