Artista goiano utiliza areia colorida para produzir quadros
O artista plástico produz quadros com a areia extraída da Parque Estadual da Serra Dourada, que fica entre as cidades de Mossâmedes e a antiga capital do Estado – Foto: Divulgação
Guilherme Melo
“Uma sintonia com as cores”, é assim que o pintor Auriovane
D’Ávila define suas obras. O artista plástico produz quadros com a areia
extraída da Parque Estadual da Serra Dourada, que fica entre as cidades de
Mossâmedes e a antiga capital do Estado. A técnica de bordar a tela com a areia
colorida foi desenvolvida no final na década de 1960 pela professora de artes
plásticas Goiandira do Couto, conhecida internacionalmente. Auriovane é um dos
únicos artistas que trabalha usando a mesma técnica.
Segundo ele, o interesse pela técnica surgiu ainda muito
cedo, quando ele visitava o atelier de Goiandira. “Estava com uns 12 anos,
quando decidir que queria encontrar um estilo próprio e diferente do que eu
tinha aprendido no curso de artes visuais. Foi assim que consegui conhecer o
ateliê de Goiandira. A primeira vista fiquei apaixonado pelas tonalidades e
texturas das areias”, lembra o artista, em entrevista ao Essência.
A princípio Auriovane conta que seu interesse era de
colecionar as areias, e com o tempo surgiu a oportunidade de executar a
técnica. “Como eu gostava muito das cores, no início, com isso eu comecei a
colecionar as areias. Depois pensei em
produzir obras, representando o meu cotidiano. Então utilizei das técnicas de
Goiandira para desenvolver um estilo próprio, como os rostos de pessoas. Já que
a artista só desenhava edifícios”, explica o artista.
Além de Goiandira, Auriovane comenta que precisou olhar para
a arte internacional, para pegar algumas referências. “Me inspiro muito no
jeito inquieto Picasso, que mesclava entre a pintura e a escultura. Além da inquietude profissional e de rações
sociais. Gosto muito, também, dos artistas do Renascimento, Leonardo e Rafael,
são minhas inspirações em relação a
simetria e proporção. Os caras são feras!” comenta.
Todas as cores
O artista plástico conta que até hoje já encontrou quase 500
tons de areia retiradas das rochas do parque. “A formação geológica da Serra
Dourada permite que as áreas extraídas das rochas alcancem cores e tons infindáveis”, diz Auriovane.
As telas do pinto expressam sempre o lado brejeiro do interior, do chão batido
com pedra, do vendedor de leite, das carroças e das moças nas janelas.
Auriovane utiliza muito da Cidade de Goiás em suas obras,
desde momentos até pessoas do cotidiano.
“Minha inspiração vem das coisas simples, do enredo que a Cidade de
Goiás nos mostra, no sentido de preservação patrimonial, dos costumes e da
cultura. Aqui as a tradições são muito enraizadas no nosso povo”, afirma
Auriovane. O artista também homenageia em suas telas a poetisa Cora Coralina. “Eu retrato nas minhas telas as poesias de
Cora que permanecem vivas em nossa memória”, explica.
O artista comenta que de todo o processo de produção, que
pode durar de uma semana há seis meses,
a parte mais difícil é a produção de rosto humano. “Principalmente se for uma
figura conhecida, assim como Cora. Principalmente, porque essa técnica de
pintura não admite erros, ou seja, se eu errar preciso começar a produção do
início”, comenta.
Do ateliê, em Goiás, antiga capital do Estado, ele conseguiu
fazer com que a arte de Goiandira do Couto, que morreu aos 95 anos em 2011,
fosse aprimorada. Ele conseguiu colocar mais cor, mais detalhes e desenvolveu
uma forma de tornar a arte mais duradoura, com capacidade de longevidade para
manter as cores.
Biografia
No site de Auriovane, sobre a cidade de Goiás, o artista se
define como: “Ingressei-me na escola de artes plásticas ‘Veiga Valle’ da Cidade
de Goiás no ano de 1989 e permaneci até 1992. Buscano sempre desafios é que
encontrei uma técnica difícil e pouco utilizada: a pintura com areia natural.
Os três primeiros anos de estudo e pesquiza, encontrei 109 cores e 50
sobretons, adiquirindo assim um abilidade aguçada de sombrear com precisão e
sem distorcer da técnica original. Participei de inúmeras exposições, tanto
coletivas como individuais, sendo nelas contempladas com elogios por críticos e
por artistas da área”.
(Guilherme Melo é
estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor Lucas de Godoi)