Prefeitura estuda revisão do Plano de Arborização de Goiânia
Processo deve ser encaminhado para a Secretaria da Casa Civil e depois será remetido à Câmara Municipal de Goiânia para apreciação dos vereadores da capital. Foto:
Samuel Straioto
A Agência Municipal do Meio
Ambiente (AMMA) concluiu estudos para revisão do Plano Diretor de Arborização
(PDAU). A matéria está em análise na Procuradoria da Casa Civil. O processo
deve ser encaminhado para a Secretaria da Casa Civil e depois será remetido à
Câmara Municipal de Goiânia para apreciação dos vereadores da capital. Da mesma
forma do Plano Diretor, a revisão do PDAU estabelecerá diretrizes a serem
seguidas pelos próximos dez anos.
Histórico
De acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiânia tem cerca de 950 mil
árvores em ruas, avenidas e praças da capital, é uma das cidades mais
arborizadas do país. O número não leva em consideração as árvores que estão nos
parques e reservas ambientais do município.
Historicamente, Goiânia foi uma
cidade em que houve a preocupação de se plantar árvores. Mas nem sempre houve
um planejamento por parte da população a também pelas autoridades. Um dos
grandes objetivos do Plano Diretor de Arborização é de indicar as espécies mais
adequadas a serem plantadas de acordo com a característica do local. Nos dias
atuais, a preferência, é por árvores do cerrado.
Venerando de Freitas Borges,
primeiro prefeito de Goiânia, mandou trazer alguns exemplares de Flamboyants
para a nova capital. As árvores foram plantadas nas laterais das Avenidas
Araguaia e Tocantins. Até hoje ainda há algumas delas. Foi levado em
consideração apenas a beleza da planta e não se pensou nos impactos dela no
futuro, por exemplo, em relação a calçadas, a redes de água e esgoto,
iluminação.
Hoje alguns exemplares plantados
por Venerando ainda resistem, porém bem descaracterizados. Por ser de grande
porte, algumas delas estão apenas com o tronco, pois a poda foi feita de tal
forma apenas de afastar os galhos das árvores, as raízes de outras quebraram as
calçadas. Situações que não se podia imaginar nos primeiros anos da cidade.
Outro exemplo da falta de
planejamento ainda nos primeiros anos da cidade foi o plantio exagerado de
Monguba pela cidade. A espécie tem uma copa verde, bem frondosa, que favorece o
sombreamento. Mas para realizar o plantio, também não houve um estudo técnico,
a espécie não é originária do cerrado, prefere áreas mais brejosa. A raiz tem
pouca profundidade. Para piorar, em Goiânia, houve a ação de larvas que deixam
a estrutura mais frágil. O resultado é que no período de chuvas, com uma
simples ventania, ainda é comum a queda de árvores do tipo na cidade.
“O PDAU traz o indicativo correto de qual espécie deve ser
plantada em Goiânia. Tivemos no passado, o plantio de Mongubas, Jamelões, não
ocorreu uma avaliação técnica de como seria na cidade depois de 20 e 30 anos,
vamos sentir a diminuição dos problemas daqui a alguns os anos o plano diretor
vem com essa indicação de plantio nas calçadas e nos canteiros centrais”,
explicou a bióloga da Agência Municipal do Meio Ambiente, Wanessa de Castro.
O Flamboyant e a Monguba estão entre as 15 espécies mais
presentes em Goiânia na década passada. O atual Plano Diretor de Arborização
indica a existência de 382 espécies de árvores diferentes nas vias públicas de
Goiânia. A atualização do PDAU visa promover políticas de arborização de forma
mais equilibrada pela cidade.
Jamelão: Vilão ou aliado?
O Plano Diretor de Arborização
que está sendo construído é de grande importância. Ele traça um diagnóstico
preciso da arborização presente nas vias públicas da cidade (calçadas, ilhas,
praças) e determina todas as diretrizes para o plantio, a poda e a retirada de
árvores nessas áreas.
Acima destacamos exemplos como o
Flamboyant e as Mongubas. Gradativamente ás árvores têm sido substituídas. Mas
há ainda uma espécie que é bastante comum em ruas e avenidas pela cidade. A
árvore tem fama de ser uma vilã, o Jamelão. De acordo com a AMMA são pelo menos
13 mil em canteiros, calçadas etc. O Jamelão famoso pelo fruto roxo, também tem
a fama de “derrubar motoqueiros” durante o período chuvoso. Ao cair no chão, o
fruto acaba ficando muito escorregadio. Para a bióloga da agência, Wanessa
Castro, o jamelão não é vilão, mas é resultado de uma falta de planejamento.
“Não, ele não é vilão. O Jamelão é uma árvore ótima, resistente,
dificilmente você vê uma queda de jamelão, ele resiste a poluição, a parasitas,
ele dá uma sombra muito boa, uma fruta muito saudável. O problema foi o local
em que as árvores foram plantadas, em locais errados. A fruta é muito boa,
saborosa, importante para Fauna”, explicou. Ainda segundo Wanessa, aos poucos
está ocorrendo a substituição das árvores, com espécies mais adequadas.
Na Avenida T-63, no Parque Anhanguera, a Prefeitura de
Goiânia fez o plantio de Ipês. Depois
que as mudas cresceram até determinado ponto, houve a remoção dos Jamelões. Na
avenida Fued José Sebba, no Jardim Goiás, algumas árvores já foram retiradas.
As árvores não podem ser retiradas de uma só vez, pois podem causar impacto
ambiental na região para a fauna existente e para os seres humanos.
A engenheira agrônoma da AMMA, Jarina Padial Machado, trouxe
como exemplo de planejamento o plantio de novas árvores no corredor BRT Norte
Sul, nas proximidades da trincheira da Rua 90, no Setor Sul. Antigamente no
local, haviam guarirobas no local. A partir das obras houve a recomendação do
plantio de palmeiras Jerivá.
Segundo a engenheira
a espécie é mais adequada para o local, pois pode trazer um benefício não só do
ponto de vista urbanístico, mas também relativo a fauna. Jarina disse que uma
nova frente de trabalho visa aliar fauna e flora. Outro exemplo é a proibição de plantio de
espécies que sejam tóxicas ou que venham trazer prejuízo aos animais.
“Evoluiu a questão de uma arborização mais planejadas,
espécies arbóreas que são tóxicas, que
matam insetos polinizadores, que traz prejuízo a fauna. Estamos trabalhando
bastante para trabalhar a fauna e a flora da cidade. A arborização está sendo
mais planejada do que em 2007. A gente está procurando evoluir. A Rua 90, por
exemplo, tinha as guarirobas, elas foram retiradas com as obras, previam-se o
plantio de novas guarirobas, mas houve a recomendação dos Jerivás, e isso traz
um benefício da fauna, o fruto traz benefício para uma série de aves.”,
explicou Jarina.
Árvores do cerrado
Nos últimos anos a AMMA tem feito a recomendação para o
plantio de árvores do cerrado. O Plano Diretor visa a indicação da espécie mais
apropriada para determinado local. Hoje já é lei que todo imóvel residencial ou
comercial obrigatoriamente tenha uma árvore, resguardadas as particularidades
do local, como pontos de ônibus, fiação, galerias, postes, etc.
“O novo PDAU vem para
nos instrumentalizar para fomentar a arborização urbana, seja de poda ou
extirpação, mas principalmente em relação a plantios. Há uma legislação, a lei
das calçadas que determina a obrigação de plantio, indicação da espécie
completa para plantio no local, se há bueiro, hidrante, fiação, pontos de
ônibus, é observado o crescimento das raízes e do porte dela. Ele vai ajudar na
fiscalização de obrigatoriedade do plantio, que já indicado pelos técnicos. A
gente tenta fazer uma cidade mais arborizada”, detalhou.
Análise
O ambientalista Gerson Neto
avalia que não basta apenas a prefeitura procurar ampliar as políticas de
arborização, mas de fato implementá-las. Ele faz referência de pesquisa da
Universidade Federal de Goiás (UFG) que Goiânia perdeu 50% da cobertura vegetal
nos últimos dez anos. Para ele, isso é falta de uma política contínua de
arborização. Outra ressalva é não
transferir custos para o cidadão, quando se procura indicar árvores que
precisam ser removidas.
“É positivo que a prefeitura não
faça apenas o esforço para atualização, mas também para implementação do Plano
Diretor. Precisa ter política contínua de arborização. Seja para substituir ou
para fazer novos plantios”, declarou Gerson Neto.