Vida sossegada no mato
Espaço comunitário reúne pessoas que decidiram abandonar a vida na cidade grande para usufruir a natureza
Daniell Alves
Um grupo de amigos decidiu abandonar a cidade grande e viver, literalmente, no mato. A Ecovila Vale do Éden, em Aragoiânia, na GO-040, reúne diversas pessoas que desejam viver em um ambiente mais sossegado. Após três anos, desde a fundação, os moradores passam os dias em um lugar tranquilo, dividem as despesas e buscam mais qualidade de vida.
O artista Edgar Barbosa, mais conhecido como Saga, um dos idealizadores da Ecovila, conta que decidiu se mudar para o local na tentativa de ter uma vida mais saudável. “Eu queria sair um pouco da correria da cidade e ter uma vida mais simples dentro do campo, usufruindo o melhor do campo com o que tem de melhor na cidade”, diz. Ele destaca que é preciso ter um bom envolvimento com os moradores para que a convivência seja positiva e harmônica.
Hoje a vida dele funciona, em maior parte do tempo, dentro da vila e ele tenta sair de lá o menos possível, já que trabalha como professor de Artes. Anteriormente, Saga morava em Aparecida de Goiânia e há cerca de três anos resolveu se mudar para o local. “Eu saio o menos possível. Costumo dizer que meu arrependimento é de não ter feito esta transição antes”, destaca.
Com relação à alimentação, ele explica que é um processo demorado, mas que todos buscam ser autossuficientes. “Evitamos ao máximo comer produtos industrializados ou com agrotóxicos. Entretanto, quero deixar bem claro que buscamos isto sem pressão alguma e aos poucos vamos evoluindo”, diz.
Na Ecovila são realizados eventos culturais e os alimentos são todos de origem vegetal. “Viver aqui é algo libertador em diversos aspectos, tanto social quanto econômico”, explica ele. O lugar recebe visitas de pessoas de todo mundo.
“Hoje mora conosco um casal que também buscava sossego da cidade grande. Eles eram do Rio de Janeiro e foram para Brumadinho (MG), onde aconteceu o acidente com a barragem. Eles vieram com mudança e tudo em um carro e estão aqui há um ano”, diz.
Valorização da natureza
Os moradores da Vila acreditam na vida em comunidade e que é possível ajudar a construir a casa uns dos outros utilizando materiais alternativos reforçando através dessas ações alguns valores importantes: as relações, a sustentabilidade e a valorização da beleza nas coisas mais simples. A intenção é construir, aos poucos, uma aldeia fundamentada em uma única religião, que é cuidar uns dos outros.
O Vale do Éden é uma Ecovila sem fins lucrativos e também possui objetivo de proporcionar aos moradores qualidade de vida, harmonizando as relações. “Olhando a sustentabilidade de uma forma global, o propósito é de sermos um farol para as pessoas, uma referência de que com ações simples e conscientes para uma vida melhor”, diz a página do Vale, nas redes sociais.
As despesas gerais do local são divididas entre os moradores, assim como todas as frutas, legumes e demais alimentos que eles produzem. A vila já conta com 20 membros e está aberta a novos interessados. As pessoas que vivem lá valorizam o meio ambiente, por meio de um estilo de vida comunitário, compartilhando um espaço e cuidando da terra.
“Abrimos um campo fértil e incentivamos a colaboração mútua, relações sinceras, trabalhos de cunho social (para ajudar a comunidade local) e oportunidades para que cada um contribua de acordo com suas possibilidades, valores e arte”, diz Saga.
Ações e projetos
O espaço conta com uma horta comunitária e atende as famílias, visitantes e os excedentes são disponibilizados para a comunidade. Algumas casas da vila ainda estão em construção e existem outros espaços disponíveis para lares de futuros moradores. Também há uma casa de apoio para receber voluntários e projetos sociais, onde existe uma cozinha comunitária, refeitório, espaço para oficinas, um rio e santuário.
Em breve será construído um teatro arena ao ar livre para a comunidade. Os moradores também investem em ações integrando três bases da sustentabilidade – social, econômico e ambiental. Os projetos são: escola ambiental alternativa, agricultura familiar, sebo, oficinas e eventos culturais. As pessoas que desejam morar no local devem entrar em contato por meio das redes sociais da Ecovila.
A intenção do projeto não é arrecadar dinheiro, por isso, os lotes não são vendidos. Os loteamentos são cedidos para os moradores. “Buscamos pessoas que estejam alinhadas com o nosso propósito e estilo de vida. Entre e contato e agende uma visita. Pode ser um dia, uma semana ou até três meses”, informa ele. Para as atividades e visitas com aspecto provisório e/ou de voluntariado, o tempo máximo é de três meses.
A vila recebe doações de todos os tipos, podendo ser com o trabalho voluntário, dinheiro ou outros itens materiais. Estas atitudes mantêm o fluxo da prosperidade abundante tanto para quem dá como para quem recebe.
Além de buscar uma vida mais saudável, os moradores também promovem o regaste de animais abandonados. Há vários gatos e cachorros que vivem na Ecovila. No intuito de arrecadar verba para vacina e castração, são feitos eventos e bazares com preços acessíveis. Saga conta que está sendo construído um canil para que os animais possam ter onde brincar e morar.
Passeio e trabalho voluntário
Os visitantes que desejam conhecer o local vão poder usufruir da área de camping, rio, e podem acampar no local. O valor por pessoa é de R$ 10 (diária) e R$ 15 (pernoite). Já os voluntariados podem trocar horas de trabalho por acomodação no local. Estes podem permanecer na Ecovila por até três meses. A organização oferece cama em quarto compartilhado; cozinha comunitária; banheiro comunitário; tanque para lavar roupas; wi-fi; acesso às áreas de lazer; e dois dias livres por semana.
O voluntário possui seis horas de trabalho diário e deve colaborar com a limpeza e organização do espaço comunitário, além de manter a boa convivência. Também deve respeitar os animais e o ambiente que está inserido, cuidar da própria alimentação e levar o que for utilizar. Além disso, deve contribuir com o valor semanal de R$ 10 para gás e energia. (Daniell Alves é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)