Cais do Parque das Amendoeiras em Goiânia está rodeado por mato alto
Cais sofre com falta de médicos, medicamentos e fica sobrecarregado por receber pacientes de outras regiões| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
O Centro de Atenção à Saúde Integrada (Cais) do bairro Parque das Amendoeiras em Goiânia está rodeado por vegetação sem poda. Além de dificultar o acesso da população até o local, o mato alto contribui para aumentar a insegurança do bairro. Moradores reclamam que os furtos e assaltos são frequentes. Desde o último domingo (1) o Cais ficou sem energia elétrica que voltou apenas após o meio dia do dia seguinte. A unidade sofre com falta de médicos, medicamentos e fica sobrecarregada por ter que receber pacientes de regiões que estão desassistidas de unidades de saúde.
A passarela de pedestres que dá acesso à unidade de saúde desde a BR-457 está danificada e oferece riscos de queda. O líder comunitário da região Leste de Goiânia, Davi Moreira, registrou em vídeo o descaso que a administração pública tem com o local. “Eu fui lá e filmei o mato alto na semana retrasada e a Comurg deu uma roçada, mas tiraram o mato só em uma parte do local”. Davi afirma que a passarela está em estado precário há mais de quatro anos.
De acordo com o líder comunitário, mesmo funcionando em estado precário, a unidade atende mais de 47 bairros da região, mas está ainda mais sobrecarregada porque recebe também moradores do Jardim Guanabara e Chácara do Governador, bairros cujos Cais estão fechados com a promessa de serem transformados em Unidades de Pronto Atendimento. “Essas pessoas se deslocam até aqui, mas não têm médico, não têm remédio e precisam ficar perambulando de Cais em Cais pela cidade, até serem atendidos”.
A equipe de reportagem averiguou que o mato continua alto à beira da rodovia e atrás do Cais, na Rua Resende Machado. Inclusive, há vegetação sem poda no quintal da própria unidade de saúde.
Morador do bairro há mais de 20 anos, Idazio Ferreira já cansou de escutar promessas dos governantes. “De quatro em quatro anos eles veem e prometem Deus e o mundo, mas desde que moro aqui, nada mudou”.
Idazio também reclama do atendimento no Cais e afirma que falta médicos regularmente e que a unidade de saúde fica fechada durante a noite, quando deveria funcionar. “Eu nunca consegui atendimento na área de pediatria e depois das 19h fica fechado”. De acordo com o site da Secretaria Municipal de Saúde, o Cais Amendoeiras é uma das unidades listadas com atendimento 24h.
A Presidente do Sindicato de Servidores da Saúde (SindSaúde), Flaviana Alves, garante que a situação de precariedade da saúde no município não é exclusividade do Setor Parque das Amendoeiras. “A Saúde pública municipal de forma geral está em péssimas condições, a administração pública resolveu tomar alguma atitude só no final do mandato e ainda assim fez sem planejamento”. Ela vê com maus olhos que os três Cais em reforma para serem transformados em UPAs tenham sido fechados ao mesmo tempo.
Segurança
Idázio tem que passar pelos lotes baldios que ficam entre o Cais Amendoeiras e a Rua Vieira Cunha diariamente. Ele afirma que o local ficou perigoso. “Esse mato é um ótimo esconderijo para bandidos. As esposas não podem ir até o ponto de ônibus sem estarem acompanhadas, a gente tem que ir junto”. O morador do bairro ainda afirma que só vê o trabalho da Prefeitura de Goiânia quando há o serviço do Mutirão no setor. “Uma vez por ano a gente vê alguma coisa acontecer”.
Maria das Graças Sousa, 70 anos, também mora no bairro há 20 anos. Ela relata problemas com a falta de segurança que a região apresenta, mas garante que quando se mudou para o Parque das Amendoeiras, a situação era mais tranquila. “Os bandidos aproveitam onde o mato cresce para cometerem crimes e usar drogas”. A aposentada diz que muitas pessoas são assaltadas pela manhã, a caminho do ponto de ônibus. “A gente escuta que alguém foi roubado quase todos os dias”, lamenta.
A falta de segurança reflete de outra forma para os servidores da saúde em unidades de atendimento que funcionam em precariedade. A presidente do SindSaúde, Flaviana Alves explica como os servidores também sofrem com a falta de médicos. “Existem casos em que os profissionais que trabalham com pacientes em vulnerabilidade sofrem ameaças e agressões quando eles chegam a unidade e não conseguem ser atendidos”, relata.
A Secretaria Municipal de Saúde informa que mesmo com a falta de energia o atendimento de emergência no Cais Amendoeiras funcionou normalmente sem interrupção. A unidade conta com um gerador que fornece energia para a emergência. Sobre o atendimento na unidade, a SMS informa que na segunda-feira (2) três clínicos atenderem no plantão diurno e no plantão noturno quatro clínicos atenderam. Nesta terça-feira, três clínicos fazem o atendimento no Cais.
O número de médicos foi reforçado, inclusive com a transferência de profissionais das unidades em reforma para o Cais Amendoeiras para atender o possível aumento na demanda de pacientes. Em relação à pediatria, a SMS informa que as crianças que chegam são atendidas, estabilizadas e encaminhadas de acordo com o perfil clínico. O Cais Campinas é a referência na urgência pediátrica da rede municipal de saúde. A Companhia de Urbanização de Goiânia afirmou em nota que vai providenciar a poda na parte externa do Cais Amendoeiras.
Unidades fechadas afetam 20 mil usuários
Três Centros de Saúde Integrada (Cais) de Goiânia estão fechados e não estão prestando atendimento à população. De acordo com a prefeitura, eles estão passando por reformas para serem transformados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). O Cais do Jardim América está fechado desde 2017. As últimas unidades fechadas foram no Jardim Guanabara, no último dia 27, e o da Chácara do Governador, desde o início de fevereiro. Ao todo, 20 mil usuários estão sem atendimento médico nessas regiões e precisam se deslocar para outros pontos de atendimento.
A reforma no Cais do Jardim América começou em 2017 e estava prevista para durar 180 dias. Quem necessita procurar atendimento à saúde nestes bairros tem que se deslocar para outras regiões e sobrecarregar outras unidades. Goiânia conta com três Unidades de Pronto Atendimento, no Setor Noroeste, Itaipu, e Novo Mundo.
Falta de planejamento
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores (as) do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (SindSaúde), Flaviana Alves, afirma que os profissionais não são contra reformas nas unidades de Saúde. “Elas trazem benefícios à população”. No entanto, alerta que as alterações têm que ser feitas com planejamento para não sobrecarregar outras unidades. “Da forma que está sendo feita, sem nenhum planejamento, não está certo. Estamos com quatro unidades de Cais sem funcionamento”. Ela afirma que o Cais do Setor Cândida de Morais também não está funcionando porque as reformas estão impossibilitando o trabalho dos servidores.
Ela destaca a dificuldade do cidadão de se deslocar e conseguir atendimento à saúde em outras regiões. “Quem atende no Cais da Chácara do Governador, ou vai para Aparecida que já tem dificuldade de atender a própria região ou tem que se deslocar para a UPA Amendoeiras”. Ela ainda diz que quando um Cais para de funcionar em uma região ele acaba sobrecarregando as outras, que geralmente não conseguem atender a própria região.
A presidente do SindSaúde demonstra preocupação com tantas unidades de saúde fechadas para reforma ao mesmo tempo. “O cidadão vai para onde? Não planejam nada. Querem fazer tudo de uma vez. É um prefeito que quer a imagem da cidade como um canteiro de obras, mas não se importa se isso vai prejudicar a população”. Ela teme que a história de atrasos na conclusão das UPAs se repita nos Cais fechados. “O Cais do Setor Jardim América está fechado há anos. A construção da UPA do Setor Urias Magalhães demorou cinco anos para ficar pronta”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), outras duas UPAs deverão ser entregues até junho deste ano. (Especial para O Hoje)