Patrimônios históricos perdem valor cultural por falta de reformas
Vandalismo e falta de reformas de alguns monumentos tombados pelo Iphan afetam os edifícios da região central| Foto: Wesley Costa
Pedro Moura
Os patrimônios históricos de Goiás, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN), são fundamentais para que a história do povo goiano esteja sempre presente. Os prédios que representam a cultura goiana, como o Grande Hotel, por exemplo, também precisam de cuidados, já que se deterioram com o passar do tempo. A relação dos patrimônios que necessitam de reformas no Estado não é divulgada pelo Iphan e dificulta ainda mais a mobilização da sociedade em prol dos monumentos.
Superintendente do Iphan, Allyson Cabral informou, em entrevista ao Jornal O Hoje, disse que o Instituto não irá se pronunciar a respeito dos patrimônios que precisam de novas reformas. São pelo menos 50 prédios tombados no Estado. “Os patrimônios tombados pela união estão sobre vigilância do Iphan, por isso nossa participação na identificação destes imóveis não é tão grande quanto se pensa”, justifica ele.
Desde o ano passado 339 imóveis da Capital estão sendo analisados pela Prefeitura de Goiânia para um possível tombamento. No último mês, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Vereadores de Goiânia aprovou um projeto para interromper a proteção provisória desses imóveis. O texto do projeto é de autoria da vereadora Sabrina Garcêz (sem partido).
O levantamento realizado pelo Iphan e pela UFG catalogou inicialmente 339 imóveis que, somados aos listados tendo por base dados do IPTU, totalizaram 615 casas edificadas entre as décadas de 1930 e 1970, a partir de suas linguagens arquitetônicas, elementos formadores e outras particularidades. Todos estes podem ser tombados após avaliação.
Foram listados os imóveis que não podem sofrer alterações físicas até a conclusão da avaliação de tombamento como patrimônio municipal. A decisão do Ministério Público de Goiás (MP-GO) é que o município cumpra o processo de acautelamento e inclua também a lista de imóveis mapeada pelos órgãos.
Segundo Allyson, o Instituto deu apoio à UFG e ajudou a identificar os conjuntos arquitetônicos de Goiânia, para noticiar a prefeitura quais são os edifícios que possivelmente teriam características para serem tombados ou preservados pela prefeitura. “O papel do Iphan foi o de dar apoio e ajudar na identificação dos edifícios com características para serem tombado. Também ajudou a catalogar quais são estes imóveis para a prefeitura ter ciência de quais são estes imóveis”, explica.
Preservação
Para realizar o tombamento de imóveis, o superintende explica que é preciso que não haja divulgação prévia. Segundo ele, há cinco anos o Iphan não tomba prédios em Goiânia. “O tombamento só é viável quando ele atinge uma história a nível nacional, mas quem decide se será tombado ou não é o Conselho Nacional do Iphan”.
Além disso, explica, a derrubada de um edifício histórico traz um enorme prejuízo. “Uma arquitetura, que conta uma história de um povo, de uma época, quando é destruído se perde toda a história. Mesmo se construir um monumento idêntico, não é a mesma coisa. O fato de reconstruir um bem, não é a mesma coisa de restaurá-lo. Para o Iphan, é um absurdo uma perca inestimável” explica.
Conservação também é a palavra defendida pelo historiador Ricardo de Jesus. Embora não haja preocupação com a revitalização dos patrimônios, ele destaca que a conservação é de fundamental importância para não afetar a cultura do Estado. “Esta geração não se preocupa em compreender a cultura Goiana e o quanto ela é importante, como a antiga Capital. Temos que apreender a preservar as construções para passar para as futuras gerações”, explica.
Torre do Relógio
Problemas na estrutura da Torre do Relógio localizada na Avenida Goiás, no Setor Central, em Goiânia, foram identificados na última quarta-feira (4) após análise do Iphan, pelo qual o monumento é tombado. A entidade suspeita que os danos tenham ocorrido por causa das obras do corredor do BRT Norte-Sul, pois ocorreram durante a construção.
O superintendente explicou que o Iphan não tem certeza ainda, mas com o avanço das obras do BRT, coincidentemente houve um desplacamento do reboco da torre. O Instituto deve fazer uma análise técnica em todos os bens da União ao longo da Praça Cívica. Foi enviado um ofício à Prefeitura de Goiânia no mês de janeiro para que fossem paralisadas as obras do BRT na Avenida Goiás, entre as Ruas 82 e 1 (em ambos os lados), até que o Instituto faça uma análise específica do dano causado.
Apesar do pedido, segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) de Goiânia, os trabalhos no local continuam e alternativas estão sendo tomadas para proteger bens históricos da Capital. “Estamos alinhados com o Iphan para compatibilizar tudo o que será feito e a maneira em que as obras devem continuar para não comprometer os patrimônios”, explicou o titular da pasta, Dolzonan Mattos.
Falta fiscalização por parte das autoridades
Um dos pontos levantados pelo historiador Ricardo é a falta de fiscalização por parte dos órgãos responsáveis pelos monumentos. “O Iphan tem que buscar uma melhor fiscalização, já que a instituição é um dos meios para preservar os patrimônios que se encontram em Goiânia”, diz. Conforme explica ele, as construções antigas também vêm sendo destruídas pela própria população. Esta, por sua vez, precisa se conscientizar para preservar os patrimônios da cidade.
“Os patrimônios históricos são referências para a cidade. Esses bens são uma parte central da cultura goiana, alguns já foram tombados para fazer edifícios e outras coisas, mas vale lembrar que fazem parte da história da cidade, essas estruturas têm que ser conservadas”, comenta o historiador Ricardo.
Tombamento
De acordo com o Iphan, o tombamento é um procedimento para garantir o reconhecimento e a proteção do patrimônio cultural. E, além disso, impedir a depredação e destruição do bem cultural, preservando-o para as gerações futuras. Os bens tombados ficam sob proteção do Iphan, que realiza fiscalizações para avaliar suas condições de conservação.
Qualquer intervenção nesses bens deve ser autorizada pelo Instituto. Os bens materiais tombados se subdividem em bens móveis e imóveis, entre os quais estão conjuntos urbanos, edificações, coleções. Também podem ser tombados monumentos naturais, sítios e paisagens.
Patrimônio Cultural
Uma parte da história de Goiânia pode ser contada pelas construções antigas que fazem parte da memória de pessoas que viveram e vivem na cidade. Constitui-se como um conjunto de bens móveis e imóveis existentes cuja conservação é de interesse público, tem um enorme valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. Estes bens foram ao longo do tempo construídos ou desenvolvidos pelas sociedades.
Estão intimamente relacionados com a identidade do local e representam uma importante fonte de pesquisa atual. Por meio do patrimônio histórico, pode-se conhecer a história e tudo que a envolve. O patrimônio histórico reúne o conjunto de manifestações que foram desenvolvidas ao longo do tempo e que carrega aspectos simbólicos. (Pedro Moura é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)