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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Econômica

Pânico nos mercados. Bolsa desaba dólar dispara e petróleo despenca

Diante da nova onda de turbulência, iniciou-se um movimento de fuga dos investidores para portos mais seguros, a exemplo do dólar (o que explica sua valorização) e do ouro| Foto: Divulgação

Postado em 10 de março de 2020 por Sheyla Sousa
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A
disputa entre Arábia Saudita e Rússia, com estocadas sobre os Estados Unidos,
acrescentou novos graus de nervosismo e incerteza nos mercados ao redor do
mundo, que literalmente entraram em pânico, fazendo desabar o valor das ações e
encarecendo o dólar frente às demais moedas, diante da perspectiva de
frustração das previsões de crescimento para a economia global, já abaladas
pelo surto do coronavírus. A reação em cadeia levou o índice da Bolsa de São
Paulo (Ibovespa), que acompanha as ações mais negociadas, a fechar o dia em
queda ligeiramente superior a 12%, o maior tombo desde 2000, enquanto a cotação
do dólar encerrou o dia muito próxima de R$ 4,73, em alta de praticamente 2,0%,
a despeito dos esforços do Banco Central (BC), que despejou no mercado qualquer
coisa ao redor de US$ 3,0 bilhões para tentar segurar o câmbio.

Diante
da nova onda de turbulência, iniciou-se um movimento de fuga dos investidores
para portos mais seguros, a exemplo do dólar (o que explica sua valorização) e
do ouro. Como resultado dessa “fuga da incerteza”, o “risco-país”, no caso do
Brasil, vinha registrando salto de praticamente 40% em relação à semana
anterior, indicando uma piora na percepção do País por investidores
internacionais. Mas o superministro declara-se “supertranquilo”. Até porque,
não parece mesmo perceber o que está ocorrendo e nem que medidas adotar para
amenizar o estrago. A falsa tranquilidade ministerial tem sido prontamente
desmentida pelo BC, como se percebe já em sua decisão de quase triplicar a
oferta de dólares ao mercado, considerando a programação antecipada na semana
que passou pela autoridade monetária.

Claramente,
a decisão da Rússia de não renovar o acordo firmado no âmbito da Organização
dos Países Produtores de Petróleo (Opep), que previa reduzir a produção como
tática para segurar os preços do óleo, evitando quedas adicionais diante da
perspectiva de menor crescimento da demanda internacional, lançou mais lenha na
fogueira das incertezas. O reino saudita pagou para ver e aumentou o cacife,
anunciando aumento da produção e desmontando os preços na sequência.

Contaminação

Entre
o fechamento de sexta-feira, dia 6, e ontem, a cotação do Brent (petróleo mais
leve, produzido na região do Mar do Norte) despencou 26,4% nos contratos com
vencimento em abril, atingindo US$ 33,32 por barril. Para comparar, no começo
de janeiro o barril havia atingido US$ 68,91 (quer dizer, a cotação murchou
51,6% desde lá). O barril do petróleo tipo WTI (West Texas Intermediate) caiu 24,4%
desde sexta-feira e 50,7% desde o começo de janeiro. Esse comportamento, claro,
deverá afetar os balanços das petroleiras, incluindo a Petrobrás, em
intensidade a ser determinada pela duração do ciclo de baixa (que pode se
alongar caso a Opep e os russos não consigam remontar o arranjo anterior, que
previa um freio relativo na produção e forma a preservar o equilíbrio nas
economias mais dependentes do petróleo). Além disso, a queda nos preços do óleo
cru tende a contaminar as demais commodities, o que pode afetar mais seriamente
as exportações brasileiras, especialmente se a tendência de baixa prevalecer
por um período de tempo maior.

Balanço

·  
A
disputa aberta entre sauditas e russos tem um alvo secundário, mas não menos
relevante no tabuleiro da geopolítica do petróleo. A redução dos preços do
barril ameaça planos de investimento em exploração de novos e na expansão dos
poços em operação, da mesma forma que poderá se tornar um desafio a mais para a
indústria de produção do chamado “shalegas” nos EUA.

·  
Os
investimentos no setor, em grande parte bancados por recursos levantados no
mercado financeiro pela indústria do setor, que agora acumula uma dívida de US$
86,0 bilhões, permitiram elevar a produção doméstica de óleo cru nos EUA em
145% desde 2008, quando a extração local estava em declínio. Na média diária, a
produção saltou de qualquer coisa ao redor de 5,0 milhões para 12,24 milhões de
barris, nos dados da Agência Internacional de Energia (AIE).

·  
Mas
um petróleo muito barato lança dúvidas no mercado sobre a capacidade de
pagamento da indústria do “shalegas” norte-americana. Mesmo porque, segundo
dados não oficiais, em torno de 60% da dívida a vencer
entre 2020 e 2024 estão classificadas como “especulativas”, ou seja, de alto
risco. Para complicar, a queda nos preços pode encurtar excessivamente as
margens do setor e tornar o investimento gravoso.

·  
Assim,
a manobra de alto risco patrocinada pela Arábia Saudita e pela Rússia pode, no
limite, minar a capacidade de investimento e de produção da indústria norte-americana
de “óleo de xisto” (numa tradução um tanto inexata de “shalegas”). Mas coloca
um enorme fator de incerteza sobre a economia mundial e seu futuro no curto
prazo.

·  
No
caso brasileiro, a queda de 8,4% nos preços médios de exportação do petróleo
bruto em 2019 já havia influenciado na redução de 4,4% nas vendas externas
quando comparadas a 2018, saindo de US$ 25,097 bilhões para US$ 24,002 bilhões.
Uma redução média de 20% nos preços do barril, na hipótese de o Brasil embarcar
500,0 milhões de barris neste ano (quase 10% a mais do que em 2019),
determinaria uma retração das receitas de exportação para algo em torno de US$
21,3 bilhões, praticamente US$ 2,7 bilhões a menos (baixa de 11%).

·  
Mantido
o cenário atual, haveria impactos em outras frentes importantes. Num exemplo,
os preços do milho e da soja em Chicago, nos contratos com vencimento em maio,
acumulam perdas de 5,1% e de quase 8,0% desde janeiro.

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