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sexta-feira, 29 de novembro de 2024
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Higiene

Cooperativas cobram auxílios de equipamentos de proteção individual de governo

Queda brusca de oferta de resíduos reduz renda das cooperativas de forma violenta| Foto: Wesley Costa

Postado em 8 de abril de 2020 por Sheyla Sousa
Cooperativas cobram auxílios de equipamentos de proteção individual de governo
Queda brusca de oferta de resíduos reduz renda das cooperativas de forma violenta| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Catadores de materiais recicláveis temem contaminação por falta de equipamentos de proteção individual na separação dos resíduos. Diminuição de mão de obra por isolamento de profissionais em grupo de risco e queda brusca de oferta de resíduos reduzem a renda das cooperativas de forma violenta. Cooperados reclamam na demora de auxílios governamentais e medidas preventivas com aquisição de equipamentos.

A Prefeitura de Goiânia tem parceria com 14 cooperativas de catadores de materiais recicláveis, mas solicitou pedido de equipamentos de proteção e higienização para seus parceiros apenas na última sexta-feira (3), depois de dialogar com o Ministério Público de Goiás. A coordenadora da cooperativa Cooper Rama, Dulce do Vale, cobra celeridade na ação dos órgãos governamentais. “No âmbito federal, estamos esperando o auxílio, na prefeitura estamos aguardando EPIs, no âmbito estadual não vale à pena nem comentar”, lamenta.

A coordenadora defende que os EPIs e produtos de higiene já deveriam ter chegado às mãos dos catadores há muito tempo. Ela afirma que mais uma vez, os profissionais que tratam o material reciclável estão sendo vítimas da invisibilidade social e estão sendo preteridos na proteção contra o vírus. “Desde o primeiro dia da pandemia, o município deveria ter dado esse suporte. Nos enquadramos nos profissionais de limpeza urbana da cidade, mas até hoje não fomos contemplados”.

Dulce esclarece que desde a chegada do Coronavírus a Goiânia, os cooperados adotaram medidas para conter a contaminação. De acordo com ela, idosos e outros que integram o grupo de risco da Covid-19, como gestantes e pessoas com comorbidades e doenças que afetam o sistema imunológico, não estão trabalhando. 

Ela afirma que 23 dos 43 catadores que compõem a Cooper Rama estão cumprindo o isolamento em casa. Dulce explica que o risco de contaminação com o material reciclável é alto porque os resíduos passam por muitas pessoas até chegar ao galpão para separação.

“Estamos receosos de nos contaminar e levar essa doença para dentro de nossas casas. O Poder Público faz vista grossa a essa situação e ficamos sem suporte de nenhuma natureza”, denuncia Dulce que tem mais de 60 anos e cumpre isolamento em casa. 

A coordenadora explica que apesar do alto risco de contaminação com o material reciclável, a cooperativa não pode ficar totalmente paralisada porque tem que cumprir contratos e pagar despesas. “Primeiro nós pagamos as contas da cooperativa e depois rateamos o que sobra entre os cooperados, mas a renda desapareceu”, lamenta.

Caiu pela metade

Júlio César Batista, 57 anos, é um dos 20 profissionais que ainda está trabalhando diariamente na Cooper Rama. Ele afirma que a quantidade de material reciclável que chega a cooperativa também diminuiu. Além de resíduos da coleta seletiva, a entidade recebe também de material de empresas, indústrias e condomínios. Segundo Júlio, a quantidade de recicláveis diminuiu devido a paralisação de algumas atividades comerciais e industriais. Ele relata que a queda de material ficou próxima a redução da mão de obra, cerca de 50%.

O profissional afirma que o cuidado dentro da cooperativa está sendo redobrado. “Na falta de equipamentos de proteção individual, promovemos a conscientização para todo mundo lavar bem as mãos e evitar tocar o rosto”. Júlio ainda relata que os cooperados também intensificaram as medidas preventivas dentro de suas casas. Ele mora com dois netos de dois e seis anos. “A gente fica receoso de levar o vírus para nossa família. O sapato que a gente usa para trabalhar fica de fora da casa e estamos tomando todo cuidado necessário com a higienização”, declara.

O catador de material reciclável alega que a renda dos trabalhadores da cooperativa depende exclusivamente da produção. “O mais complicado é que nosso trabalho só sai alguma coisa se produzir. Ou você trabalha ou não recebe. Estamos trabalhando por quem não pode vir”. Júlio ainda se diz ansioso pelo tão prometido auxílio governamental de R$ 600 que todos os cooperados se enquadram como beneficiários. “Estamos esperando né. Está faltando a sanção do presidente. Parece que ele é o que menos tem urgência para que esse dinheiro saia logo”, condena.

Equipamentos de proteção

Dulce ressalta a dificuldade de se conseguir Equipamentos de Proteção Individual pela escassez e preço elevado do produto. “Não estamos conseguindo nem fechar as contas da cooperativa direito, quem dirá investir em EPIs que tiveram uma alta de preço”. Ela ainda diz que a dificuldade de comprar os equipamentos também é causada por uma confusão. “Quando a gente vai procurar luva, máscara, muitas empresas dizem que está reservado para as unidades de saúde. Mas nossos equipamentos não são os mesmos que esses profissionais usam”.

Ela esclarece que as luvas usadas na catação são as luvas comuns de limpeza, feitas com borracha mais grossa e resistente. As máscaras, são de algodão comum, não precisam ser de tecido especial N-95. A coordenadora da Cooper Rama alega que o envolvimento do Ministério Público foi fundamental para que a prefeitura se mobilizasse para adquirir os equipamentos para os catadores. “Fomos auxiliados pelo promotor de Justiça Juliano Araújo de Barros que intermediou o diálogo com a Prefeitura”.

Prefeitura nega demora na aquisição de materiais 

Apesar dos materiais adquiridos pela prefeitura estarem previstos para serem entregues até a próxima sexta-feira (10), a Agência de Regulação de Serviços Públicos de Goiânia (ARG) afirma, por meio de nota, que não houve demora para que os trabalhadores que atuam com recicláveis tivessem acesso a materiais básicos para a correta higienização.

A Agência ressalta que assim que o município determinou situação de emergência em saúde, vem discutindo com o MP-GO a aquisição de itens de proteção para os trabalhadores que atuam nas cooperativas. As tratativas foram discutidas com o promotor de Justiça Juliano Araújo de Barros e, inicialmente, a sugestão era para que o serviço fosse paralisado temporariamente em Goiânia. No entanto, após reuniões com representantes das próprias cooperativas, ficou definido a continuidade da coleta seletiva e das ações das cooperativas por se tratar de serviços essenciais.

Higienização e de proteção

A prefeitura determinou aquisição de itens de higienização e de proteção para os trabalhadores que atuam nas cooperativas da cidade na última sexta-feira (3). A medida foi resultado do diálogo entre a ARG e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), por meio do promotor de Justiça Juliano Araújo de Barros. Representantes das cooperativas também participaram das conversas.

Entre os artigos que estão sendo adquiridos pela Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) estão 30 pulverizadores manuais costais de 20 litros, hipoclorito de sódio, 1.500 máscaras N 95, 900 pares de luvas de látex, 300 sabonetes em barra, 300 pacotes de papel toalha, 300 frascos de um litro de álcool em gel 70% e 300 capas de chuva forradas. (Especial para O Hoje)

  

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