Religiosos ‘driblam isolamento’ e apostam na tecnologia para promover reuniões on-line
Por meio da Internet, instituições religiosas chegam a muitas casas, levando conforto em tempos de quarentena| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Instituições religiosas de diversas vertentes estão cumprindo as regras de isolamento social, mas nem por isso deixaram de lado o trabalho com a espiritualidade. Igrejas, casas de oração, terreiros e centros espíritas continuam ministrando suas cerimônias, cultos, rezas, giras e palestras por meio das redes sociais. Os canais da espiritualidade também vibram pela Internet e têm reunido a fé em muitas casas, levando conforto à alma em tempos de quarentena. Além disso, as entidades também reforçaram suas ações filantrópicas aos mais necessitados no combate à Covid-19.
Igrejas ortodoxas, católicas e protestantes estão realizando cultos e celebrações de missas online. É o caso das igrejas Batista Renascer, Videira, Assembleia de Deus (Ministério Fama), Catedral Metropolitana de Goiânia, Matriz de Campinas e Santuário Sagrada Família. A Federação Espírita do Estado de Goiás continua realizando palestras via Internet. Alguns terreiros de Umbanda também continuam suas práticas. O Instituto Afro-Indígena Brasileiro Guerreiros de Aruanda (IABGA) está realizando lives para reunir os irmãos e o Centro Umbandista Mãe Maria Baiana, de Aparecida de Goiânia realiza corrente de orações online com os médiuns e simpatizantes da casa.
Orações
De acordo com o padre Rodrigo de Castro Ferreira, o Santuário da Sagrada Família não está com as portas fechadas por ser um local de adoração perpétua para os católicos, porém foi retirada a maior parte dos bancos do seu interior e as cerimônias estão sendo transmitidas ao vivo pelas redes sociais. “As missas não acontecem no altar principal do Santuário, elas são celebradas em um espaço interno sem acesso ao público”. O padre conta que as atividades do santuário têm início às 6h e se estendem até às 23h.
O sacerdote explica que uma capela no interior do Santuário foi transformada em estúdio para a gravação e transmissão das cerimônias. “Adaptamos um estúdio para transmitir todas as missas ao vivo”, relata. Ele também aponta que os fiéis podem receber as bênçãos de um padre no estacionamento do Santuário em uma espécie de drive thru. “As famílias recebem a benção do sacerdote ou podem se confessar, sem contato físico próximo, de dentro dos seus veículos”. Ele afirma que apesar do movimento de carros ser grande, o trabalho tem sido feito sem nenhuma aglomeração.
O padre destaca que um fator interessante no trabalho por meio das redes sociais é que mesmo em isolamento, as pessoas ficam acessíveis ao contato da igreja. “A comunicação age motivando as famílias por meio da tecnologia. É uma das primeiras pestes do nosso tempo e temos a oportunidade de estar conectado com as pessoas em isolamento”. Ele ressalta que esse está sendo o único caminho para seguir realizando práticas religiosas coletivas. “Isso mostra como a tecnologia pode fazer o bem apesar do crescimento da visão negativa sobre a Internet e as redes sociais”, afirma.
Espiritualidade/tecnologia
Como exemplo de aproximação da religiosidade por meio das redes, o sacerdote citou uma conversa que havia acontecido poucos momentos antes da entrevista. “Eu acabei de fazer uma chamada de vídeo com um senhor, que está em seu leito de morte, entubado, em uma UTI na Santa Casa de Misericórdia. Ele estava sendo assessorado por uma psicóloga do hospital na chamada”. Padre Rodrigo afirma que o doente conseguiu reagir durante a ligação e os dois rezaram juntos. “Essa experiência mostra o alcance que a espiritualidade pode ter por meio das novas tecnologias”.
O líder da Igreja Ortodoxa Antioquina de São Nicolau, Padre Rafael Magul, também transferiu todas as atividades da instituição para as redes sociais. Ele afirma que as missas são celebradas no altar principal da igreja, mas com as portas fechadas. O padre diz que apenas ele, um cantor e um ajudante estão presentes na igreja para as celebrações das missas ao vivo pelo Facebook e Instagram. “Graças a Deus, temos nosso público. Estão nos acompanhando, é um fenômeno que tem seu lado negativo, mas temos que nos esforçar para ver a reação positiva dele”.
Ele compara o isolamento aos primeiros séculos da era cristã. “Famílias inteiras ficam em suas casas aguardando a liturgia para acompanharem a missa. Praticamente estamos revivendo os primeiros dias da cristandade, época da perseguição a nossa religião, quando os fiéis se reuniam às escondidas nas catacumbas”. É uma novidade porque alguns preparam as palavras e as famílias se reúnem para escutar palavras de consolo. Segundo ele, essa questão fortifica os laços familiares.
O padre ainda destaca que para as religiões cristãs, Deus é sinônimo de amor e ressalta que a pandemia não é um castigo.”Aparecem fenômenos naturais na vida da gente que podemos chamá-los de acidentes. Nessas ocasiões, a bíblia sempre coloca esses fenômenos como uma oportunidade para sermos pessoas melhores em situações difíceis”. O sacerdote ressalta que para os cristãos, em momentos como esse, não se deve questionar o porquê, e sim, para que a situação foi colocada desta maneira. “É hora de fazer o bem e ele se faz com caridade, solidariedade e união. É disso que precisamos nessa hora”.
Entidades reforçam sentimento de solidariedade
Além de conforto espiritual, instituições religiosas têm reforçado suas ações de filantropia na distribuição de alimentos, produtos de higienização e até banhos. Filho do padre da Igreja Ortodoxa Antioquina de Goiânia, Michel Magul, auxilia nos trabalhos de distribuição de doações. Com uso de máscaras, ele e seu pai vão até a casa das pessoas para evitar aglomerações. As ações da igreja se espalham por várias regiões de Goiânia e Aparecida de Goiânia.
“Estamos entregando marmitas para as pessoas mais carentes, em situação de vulnerabilidade e entregando cestas básicas para famílias desassistidas”, explica Michel. As doações alcançam a população de rua, famílias carentes, imigrantes e refugiados. A caridade também é feita na porta dos hospitais de Goiânia.Em 25 dias, a Igreja distribuiu cerca de 366 cestas básicas. Além de alimento, eles também doam produtos de higienização e fraldas.
As Pastorais e Obras Sociais do Santuário Sagrada Família, como as Pastorais de Rua, Banho Sagrado, Anjos da Rua, Centro Médico, Doutores do Amor Maior, Projeto Mediar é Divino, Bazar e Oficina, entre outros, não continuam. O Santuário ajuda mensalmente mais de 500 famílias com cestas básicas, além de ajudar as pessoas em situação de rua.
Uma das obras das pastorais do Santuário é produzir marmitas e distribuir para pessoas em situação de rua e carentes. Foram produzidas duas mil marmitas com apoio da Defensoria Pública de Goiás, outras pastorais de Goiânia, das cantoras Maiara e Maraísa e cantor Fernando (da dupla com Sorocaba). O Santuário fechou um acordo com o Governo do Estado para se responsabilizar por levar marmitas aos moradores em situação de rua durante a pandemia do Coronavírus. (Especial para O Hoje)