Gestantes e mulheres que dão à luz necessitam de atenção redobrada no isolamento
Grávidas e puérperas são mais suscetíveis a várias complicações, devido a imunidade reduzida, segundo estudos científicos – Foto: Arquivo pessoal.
Igor Caldas
Novas diretrizes do Ministério da Saúde (MS) colocam grávidas
e puérperas no grupo de risco para a Covid-19, transmitida pelo novo Coronavírus.
Mesmo com insuficiência de estudos científicos que comprovem que essas mulheres
sejam realmente mais vulneráveis, o órgão adotou a medida para redobrar a
atenção em relação a essa população de forma preventiva porque algumas
puérperas morreram por problemas causados pela Covid-19. A experiência do
período de puerpério acontece de forma diferente no isolamento social.
Especialistas esclarecem os motivos da atenção redobrada.
Carolina Zafino
Isidoro, 42 anos, deu a luz a pequena Valentina no dia 6 de abril. Ele teve uma gestação normal e
fez um parto cesáreo após uma gravidez de 40 semanas e cinco dias. “Tive uma
gestação tranquila. Trabalhei até o dia do parto. O governador já havia
decretado a quarentena com o isolamento social algumas semanas antes, então
entramos em regime remoto no trabalho”, explica.
A doença já havia chegado ao Brasil e em Goiânia quando
Carolina teve o parto. Por esse motivo, desde o início da quarentena, ela, sua
mãe e o marido se isolaram e mantiveram as orientações preventivas dos médicos
e instituições de saúde. A mãe de primeira viagem afirma que se preocupa em
receber informação qualificada e suficiente para agir de modo a não contrair o
vírus. “As puérperas e recém-nascidos estão no grupo de risco, então todo
cuidado é pouco quando se faz uma compra, recebe algum produto em casa ou
quando saímos para levar a bebê para vacinar”, destaca.
De acordo com Mara Rúbia Moreira Rios, ginecologista e
obstetra, inicialmente as gestantes e puérperas não foram consideradas como
grupo de risco porque a gestação não poderia ser considerada como uma
comorbidade, como acontece com a diabetes ou hipertensão. “Mas a grávida é mais
suscetível às várias complicações porque tem a imunidade um pouco mais
reduzida”, explica a médica.
Segundo a especialista, foi a partir dessa avaliação que o
Ministério da Saúde levantou a possibilidade de inclusão no grupo de risco pelo
fato da mulher amamentar ou estar carregando um bebê. “Dessa forma, a gestante
ou a mulher puérpera estaria sempre com uma segunda pessoa. Então, achou-se
prudente considerá-la em grupo de risco por precaução”. No entanto, a
profissional de saúde destaca que a questão de risco não se aplica totalmente e
cientificamente para as gestantes e puérperas, mas para os cuidados de
prevenção surtirem efeito na população geral, foi preciso adotar este termo.
A ginecologista esclarece que estar no grupo de risco não
significa que a mulher gestante ou puérpera tenha maior possibilidade de pegar
o vírus, mas uma vez que elas adquirem esse micro-organismo, poderão ter
maiores complicações. “Isso acontece por dois motivos. Primeiro porque no caso
da gestante, ela carrega um feto e segundo porque tanto a grávida quanto a
mulher puérpera está com um estado inflamatório mais acentuado”.
Ela explica que doenças humanas no geral agem como processos
inflamatórios e a grávida e puérpera já estão nesse estado por causa das
alterações hormonais que geram a inflamação. “Já se mostrou que a ação da
Covid-19 age inflamando determinados órgãos. Por isso esse grupo foi
considerado como de risco. Foi por isso também que a gestante que trabalha em
área insalubre foi autorizada a se afastar”, esclarece a doutora.
Pandemia causou tensão e ansiedade na gravidez
Carolina diz que no período de gravidez já havia um momento
de tensão e alerta no ar quando os números de contaminados e mortos em outros
países com melhor estrutura de saúde que o Brasil começaram a aumentar. “Vi
líderes voltarem atrás no apoio ao isolamento social depois que o número de
mortos aumentou em seus países”, lembra.
Ela diz que assistiu ao governo federal e governos estaduais
em discordância, se posicionando com estratégias e ações diferentes de seus
representantes. “Isso se intensificou entre os indivíduos na sociedade, alguns
cumprem as medidas sanitárias e outros não se importam e minimizam os efeitos
do Coronavírus”, lembra.
A mãe de Valentina reitera que as mídias sociais se dividem
entre informação qualificada e muita desinformação. “Há um conflito de informações
entre os atores sociais. Isso é cansativo e um desserviço, porque a maioria das
pessoas não sabe filtrar a informação responsável da mentira e propaga as que
não são verdadeiras”, declara.
A médica Mara Rúbia explica que não foi encontrada a presença
do vírus na placenta e, portanto, transmissão materno-fetal não está
caracterizada. “Isso deixou a gestante mais tranquila. Também não foi
encontrado o vírus no leite materno”. Ela diz que o risco da transmissão para o
bebê é o mesmo que para outras pessoas. “No toque, no contato íntimo. Se o
vírus está na garganta de qualquer pessoa pode passar para o bebê por meio de
gotículas durante a fala”. Por isso, a médica ressalta que no período de
puerpério as visitas são totalmente proibidas. “O contato da puérpera tem que
ser exclusivamente com as pessoas que estiverem na casa”.
Depressão pós-parto
A ginecologista alerta que em todo período de puerpério, a
mulher passa por uma situação psicológica muito delicada que requer cuidados
especiais “Ela já tem uma predisposição ao ‘blue’ que seria aquela
melancolia, que é popularmente conhecido por depressão pós-parto”. A
médica alerta que a questão psicológica pós-parto pode ir desde uma melancolia
tristonha até casos extremos de psicose e depressão, quando a mãe rejeita o
filho recém-nascido. “Diante dessa situação prevista do pós-parto junto ao
isolamento, não tenho dúvidas que elas estarão com o emocional comprometido.
Nesta hora o apoio da família é de fundamental importância”, afirma.
Carolina afirma que o período de puerpério em isolamento
social tem sido diferente, já que não podem receber visitas neste período. “A
família e amigos só conhecem a bebê por fotos e vídeos e vai continuar a ser
assim por um bom tempo, até sabermos que ela e eu estamos em segurança”,
adverte. A mãe de Valentina diz não sentir falta de apoio porque o marido e a
avó da recém-nascida são muito parceiros neste momento. “Além disso, parentes e
amigos apoiam as medidas e estão presentes por videochamadas e aplicativos de
mensagens”, conclui.
Ela dá destaque ao atendimento da ginecologista e a pediatra
da Valentina que sempre acode Carolina por meio de aplicativos e chamadas
telefônicas sempre que a família necessita. “A prontidão dos profissionais
nesse período me deumais segurança em relação a nossa nova integrante da
família”, declara. Além dos médicos, ela conta com a mãe, o marido e uma prima
do esposo que moram no mesmo prédio e constituem a base de apoio nos cuidados
com a bebê e com a mulher puérpera no resguardo.
“A experiência tem sido boa, pois estamos muito conectados e
com a bebê também. Não me sinto sozinha. Quando se tem um bebê, você passa a
ser o mundo todo para ela e ela para você. Eu sinto a falta de compartilhar
esse momento com a família de forma presencial, de receber visitas dos irmãos e
pessoas próximas para compartilhar essa alegria”, conclui.
A mãe ressalta que está tomando todos os
cuidados necessários para prevenção da Covid-19. “Lavar as mãos, usar álcool em
gel. Quando recebemos compras fazemos a higienização dos produtos antes de
entrar em casa, quando saímos levamos máscaras e usamos o álcool em gel,
trocamos de roupa e tomamos banho assim que chegamos em casa”. Ela afirma que
tem rezado diariamente e mentalizado positivamente pela solução da questão de
saúde e para que os líderes mundiais possam tomar medidas corretas e
responsáveis. (Especial para O Hoje)