Vans querem fazer transporte alternativo de passageiros, em Goiás
Serviço de vans no transporte público deve diminuir aglomeração de pessoas nos terminais| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Os proprietários de vans escolares e de turismo são mais uma categoria que está ‘pelo fio da navalha’ nesta pandemia. Sem poderem trabalhar, sem ajuda de instituições financeiras ou do poder público, esses empresários acumulam dívidas contraídas em investimentos. As exigências necessárias para manter o negócio seguro são dispendiosas e muitos financiam o veículo, principal ferramenta de trabalho. A categoria pressiona o Estado e município pela autorização de rodar pelo transporte coletivo e aliviar a crise causada pela falta de trabalho.
De acordo com representantes do setor, a demanda por trabalhar no transporte público na Grande Goiânia seria por tempo determinado e amenizaria a grave crise econômica por qual cerca de 10 mil empresários e trabalhadores autônomos enfrentam desde o fechamento de escolas, hotéis e pousadas em Goiás. Além disso, a categoria defende que a abertura reduziria a pressão sobre o transporte público na Região Metropolitana, diminuindo aglomerações de passageiros nos terminais.
O empresário e motorista de van escolar, Gladson Frederico Vieira, está no ramo de transportes há 20 anos e transporta crianças há sete. Ele acredita que além de ajudar no combate a pandemia, a permissão para trabalhar no transporte seria vantaja tanto para o empresário que presta o serviço quanto ao pai da criança. “Nossos contratos não são mensais. Enquanto as aulas estão paralisadas tentamos flexibilizar as parcelas de pagamento com descontos, suspensão, e outras negociações. Se tivéssemos verba entrando em caixa poderíamos flexibilizar ainda mais para o cliente”, explica o empreendedor.
Um dos problemas elencados pelo empreendedor é a falta de previsão de volta às aulas. “É difícil porque ninguém sabe quando volta as aulas ou sobre antecipação de férias escolares. Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar ao trabalho”. O motorista afirma que a falta de previsões dificulta a negociação com os pais. “Alguns clientes estão pagando as parcelas. Outros, realmente não têm condições de continuar pagando porque também estão sem trabalhar”. A renda do proprietário da van caiu 50% desde o início do isolamento social.
Gladson, que mora em uma casa simples no setor Jardim Vila Boa, fala sobre a dificuldade dos contratantes enxergarem os motoristas de vans como uma empresa. “A maioria não entende que cada um de nós é uma empresa. Tivemos que fazer vários investimentos para colocar o negócio para funcionar”. Entre os gastos para colocar a empresa em funcionamento, o motorista destaca os cursos profissionalizantes, revisões constantes no veículo e a compra da van. “A maior parte desses gastos são financiados e os boletos chegam todo mês”, lamenta.
O tema foi discutido em reunião remota realizada na última segunda-feira (27) pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo de Goiás (Sescoop-GO) com lideranças da Cooperativa de Transporte Escolar e Turismo de Goiás (Cooperteg) e Sindiescolar Goiás. Também participaram o deputado federal Lucas Vergílio (Solidariedade), representante parlamentar do segmento, e o professor Flávio Roberto de Castro, presidente do Conselho Estadual de Educação.
“Há quase dois meses cerca de 10 mil trabalhadores autônomos do transporte escolar e de turismo em Goiás estão sem condições para trabalhar, sem renda alguma, mas arcando com custos mensais, como o financiamento dos veículos com prestações de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês”. O socorro do governo federal de R$ 600 não atende ainda nem 10% de nossa categoria”, afirmou o presidente da Cooperteg, Adilson Humberto de Lellis.
Existe um projeto em tramitação no Senado, já aprovado pela Câmara dos Deputados, que amplia o universo de beneficiados do transporte escolar no programa auxílio emergencial de renda mínima do governo federal. “Podemos amenizar essa situação e ajudar na melhor mobilidade dos trabalhadores, especialmente os da Grande Goiânia, se os governos estadual e municipais autorizarem o transporte alternativo por nossas vans enquanto estivermos com restrições econômicas nos setores da educação e do turismo em Goiás”, defendeu Adilson Humberto.
Cooperativas defendem que serviço ajuda no combate
De acordo com a COOPERTEG, existem 338 veículos de transporte escolar registrados na Prefeitura de Goiânia, mas alerta que esse número pode estar subnotificado porque os dados estão desatualizados. Um grande problema enfrentado em Goiânia no momento da pandemia é a aglomeração de pessoas nos terminais e nos ônibus do transporte coletivo. O sindicato ressalta que ainda existe a determinação do governo de Goiás de que os ônibus não podem transportar passageiros em pé.
“As vans escolares e de turismo poderão, de forma temporária, transportar esses passageiros com maior segurança e conforto, seguindo todas as determinações e recomendações das autoridades sanitárias do Estado. Os governos do Paraná e de Mato Grosso, por exemplo, já autorizaram”, frisou Adilson Humberto.
Presidente do Sistema OCB/SESCOOP-GO, Luís Alberto Pereira, afirmou que levará a proposta do setor ao governador Ronaldo Caiado e para o Fórum das Entidades Empresariais de Goiás. “Acredito que é uma reivindicação justa e que também pode ser objeto de convênios com o setor privado, principalmente para o transporte de trabalhadores de polos industriais e da construção civil na Região Metropolitana”, afirmou.
O deputado federal Lucas Vergílio também se comprometeu em levar a proposta ao governador de Goiás, além de solicitar ao governo federal uma medida para suspender imediatamente a cobranças de taxas e impostos sobre o transporte escolar e de turismo. “Me comprometo também a preparar um projeto de lei para que possamos promover uma nova regulamentação do setor, que simplifique e modernize a regulamentação”, disse.
Um dos desafios para o setor de transporte escolar é que não há nenhuma expectativa de retorno das aulas presenciais nas redes pública e privada de ensino. Segundo o professor Flávio Roberto, do Conselho Estadual de Educação, o setor educacional deve ser um dos últimos a retomar sua normalidade. “Não sabemos quando e nem como vamos voltar. E, mesmo assim, quando retornarmos com as aulas presenciais, o transporte escolar terá de seguir um rígido protocolo de segurança”, enfatizou.
Outras reivindicações
O presidente da Cooperteg também apresentou outras reivindicações dos trabalhadores e empresários do transporte escolar e de turismo: redução da burocracia e isenção temporária da cobrança de taxas e de impostos sobre o segmento; dilatação dos prazos de pagamento dos financiamentos de veículos, com prazo de carência de seis meses, sem aumento dos juros; e linhas de crédito especiais para capital de giro.
“A Goiás Fomento sinalizou que tem recursos para nos atender, mas é preciso maior celeridade para que isso se torne realidade e também que as demais instituições financeiras sejam flexíveis com o nosso setor”, pediu Adilson Humberto. (Especial para O Hoje)