Concentração de poluentes no ar atinge níveis críticos com queimadas
Gases poluentes e materiais particulados expelidos nos incêndios podem causar inflamação no sistema respiratório, levando a complicações de saúde
Enquanto a maioria dos aparecidenses dormiam nesta noite de terça-feira (3), um incêndio de grande proporções ocorria na Área de Proteção Ambiental (APA) Serra das Areias que durou até a manhã desta quarta-feira (4). A ocorrência ainda está em andamento e o Corpo de Bombeiro Militar de Goiás (CBM-GO) monitora a área. Durante a mesma hora, um incêndio ocorreu em uma loja de vestuário no Setor Norte Ferroviário, em Goiânia. Poucas horas antes, na noite do dia 3, oito viaturas foram mobilizadas em um incêndio de grande proporções que ocorreu em um galpão de móveis com materiais combustíveis.
Então, não seria surpresa, por assim dizer, quando uma espessa nuvem de fumaça assomou a vida dos goianos da Região Metropolitana nesta manhã do dia 4. E não bastasse, o país passa por uma das piores secas de sua história em que temos mais de 130 dias consecutivos sem chuvas na Capital. De acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), o estado de Goiás está em nível de emergência devido a umidade relativa do ar que se encontra inferior a 10%.
Além disso, uma onda de calor também influencia o clima do Estado que aumenta as temperaturas de 2 a 5 graus acima do normal com duração média de 10 dias. Ainda segundo o órgão, as temperaturas máximas podem chegar aos 37ºC.
Perigos para vias respiratórias
Com essa nuvem de fumaça com a seca, vem os potenciais perigos para o sistema respiratórios dos goianos, como diz a médica pneumologista do Hospital Israelita Albert Einstein Goiânia, Ana Helena Barbalho. “[Atualmente] sofremos de duas formas. Uma é com a seca e a outra é com a grande quantidade de poluentes”.
Segundo ela, os profissionais da saúde possuem um índice de 0 a 500 para determinar a qualidade do ar e se ela irá agredir o corpo, quanto menor o número, melhor é a qualidade. Em algumas queimadas de grande intensidade os locais mais próximos podem medir de 300 a 400, enquanto isso, o melhor ambiente para o corpo humano é de 50, e os efeitos negativos podem começar com o nível 100.
Muito disso é causado pelos gases expelidos da combustão que podem agredir as vias aéreas se inalados como os gases de óxidos de nitrogênio, gases derivados do carbono e do enxofre. Estes compostos são tóxicos para o sistema respiratório e podem provocar inflamações de variadas formas como a rinite, bronquite e bronquiolite.
Além disso, também são expelidos materiais particulados provenientes da combustão que variam de 2,5 a 10 picômetros (pm). Quando inalados, também podem provocar uma inflamação no sistema respiratório, contudo, as partículas com diâmetro menores, como a de 2,5 pm podem causar outras complicações aos corpo.
“Em alguns casos os materiais particulados menores podem ser transferidos para a corrente sanguínea através da barreira alvéolo capilar que faz a troca de oxigênio. Nestes casos ela causa uma inflamação no sistema circulatório e pode provocar inflamações cardiovasculares e cerebrovasculares”, comenta.
A especialista ainda alerta para as pessoas que possuem alguma complicação respiratória ou doenças crônicas como a asma ou a Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) pois podem ter os quadros exacerbados. Nestes casos orienta para essas pessoas ficarem atentas ao aumento de espirros, tosses, chiadeira e dificuldade respiratória. Além disso, as crianças e idosos também podem sofrer mais com esses poluentes por um sistema imunológico fragilizado.
“Com estes quadros pode aumentar a necessidade de ir ao pronto socorro. Nos dias mais poluídos podemos ter um aumento de 50% de casos de pneumonia em crianças e 44% de casos de asma exacerbada, por exemplo”, conta.
Enquanto a fumaça não passa, Ana recomenda que as pessoas evitem sair de casa e ir para lugares com excesso de poluição. Além disso, alerta para o não exercício físico ao ar livre, para fechar os ambientes e para que a pessoa se hidrate bastante devido ao fato das secreções mucosas serem uma barreira das partículas. Caso a pessoa precise sair de casa, aconselho que use as máscaras protetoras Pff2 ou N95 que possuem filtro contra os materiais particulados.