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sábado, 23 de novembro de 2024
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FILME

Walter Salles retorna ao cinema com ‘Ainda Estou Aqui’ e conquista Veneza

Após 12 anos, cineasta brasileiro é aclamado pela crítica internacional com um drama sobre memória e resistência

Postado em 6 de setembro de 2024 por Luana Avelar
A nova obra de Salles, baseada no livro de Marcelo Rubens Paiva, narra a luta de Eunice Paiva para encontrar seu marido desaparecido durante a ditadura militar.| Foto: ALberto Pizzoli

Depois de 12 anos sem lançar um filme de ficção, Walter Salles voltou às telas com ‘Ainda Estou Aqui’, longa-metragem aclamado pela crítica internacional desde sua estreia no último domingo (1º), no Festival de Veneza. A produção, que foi aplaudida por quase 10 minutos ao final da exibição, traz nomes icônicos do cinema brasileiro como Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, e marca o retorno do Brasil à competição pelo Leão de Ouro após 23 anos.

O filme, baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, narra a trajetória de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres), advogada que luta para encontrar o marido, Rubens Paiva (Selton Mello), engenheiro e ex-deputado desaparecido durante a ditadura militar brasileira. A produção, uma colaboração original do Globoplay, oferece um olhar sensível e profundo sobre a história recente do Brasil e os desafios enfrentados por aqueles que viveram sob o regime autoritário.

Uma homenagem à resiliência brasileira

Descrito como uma “carta de amor ao Brasil” pelo portal Deadline, ‘Ainda Estou Aqui’ é uma celebração da liberdade e da resiliência do país frente à repressão. A crítica destacou o primeiro longa dramático de Salles em 12 anos como uma ode ao espírito brasileiro, ressaltando a beleza do Rio de Janeiro e o calor de sua cultura, mesmo em tempos de escuridão política.

A atuação de Fernanda Torres foi amplamente elogiada, considerada pela crítica internacional como um dos pontos altos do filme. Para o Deadline, sua performance tem o potencial de levá-la aos grandes prêmios do cinema, comparando sua atuação à de Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar há 25 anos por ‘Central do Brasil’, também dirigido por Salles. Montenegro também aparece no filme como a versão mais velha de Eunice, diagnosticada com Alzheimer, em uma cena tocante que resgata a memória de seu marido desaparecido. O portal enfatizou o caráter simbólico da presença de mãe e filha, ambas ícones do cinema brasileiro, no mesmo longa.

Crítica internacional destaca emoção e autenticidade

O jornal britânico The Guardian também ressaltou a importância do filme na representação da história brasileira. O crítico enfatizou a intensidade emocional do filme, embora tenha apontado um certo exagero na representação inicial da alegria da família Paiva antes da tragédia. Ainda assim, o longa foi descrito como “um drama sombrio e sincero sobre os desaparecidos da nação”. O jornal destacou a performance de Fernanda Torres como “maravilhosa”, apesar das dificuldades narrativas que surgem ao se contar uma história sem resolução decisiva.

A relação pessoal de Walter Salles com a família Paiva, que ele conheceu na infância, também foi sublinhada pelo The Guardian como um dos elementos que conferem um tom de sentimentalismo à obra. A crítica apontou que essa proximidade emocional permite que o diretor humanize profundamente os personagens, criando empatia com o público.

Já a revista Variety descreveu o filme como “profundamente comovente”, destacando a fotografia de Adrian Teijido, que “dá a todo o filme a textura de uma história que não está sendo contada, mas lembrada”. A trilha sonora, com músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Warren Ellis, também foi elogiada por adicionar uma camada de melancolia ao filme, que, segundo a publicação, “não é por causa de uma sensação de desgraça iminente, mas porque essas cenas soam como memórias”.

Para a Variety, a força central da narrativa é a resiliência dos personagens e o alerta aos que ainda defendem regimes autoritários. “O espírito nacional que você busca subjugar sobreviverá a você”, escreveu a publicação, reforçando que a obra celebra a resistência e a dignidade daqueles que lutaram contra a opressão.

Desafios narrativos e impacto emocional

O portal IndieWire chamou o filme de uma “homenagem tocante a uma família abandonada”. A publicação elogiou a maneira como Salles retrata a intrusão da violência no cotidiano da família Paiva, com cenas de helicópteros e caminhões militares quebrando a tranquilidade da casa dos protagonistas. A crítica destacou a interpretação de Fernanda Torres como “espetacular”, evidenciando sua capacidade de mostrar a dor e o estoicismo da personagem. Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva, também foi elogiado por sua performance intensa e carregada de emoção.

Apesar das aclamações, o IndieWire apontou alguns problemas de ritmo na última meia hora do filme, considerando que o longa poderia ter encontrado um ponto de fechamento mais efetivo. No entanto, a crítica ressaltou o “otimismo” inerente à obra, enfatizando que, apesar de todas as tentativas de apagamento, a memória de Rubens Paiva e sua luta permanecem vivas.

Um marco na carreira de Walter Salles e no cinema brasileiro

Com ‘Ainda Estou Aqui’, Walter Salles reafirma sua relevância como um dos cineastas mais importantes do Brasil, criando uma obra que vai além do entretenimento e toca em questões centrais da história recente do país. O retorno de Salles ao cinema de ficção não só representa um momento importante para sua carreira, mas também marca a presença do Brasil no cenário cinematográfico internacional depois de duas décadas.

A recepção calorosa em Veneza, combinada com a aclamação da crítica, sugere que o filme tem o potencial de se tornar um clássico do cinema brasileiro contemporâneo, com sua mistura de emoção, história e uma celebração da resiliência e coragem do povo brasileiro.

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