Liberação de parques em Caldas Novas pode aumentar número de mortes por Covid-19
Apenas nos últimos 10 dias, o município registrou um aumento de 30 casos do novo Coronavírus – Foto: Reprodução.
Daniell Alves
Uma das principais cidades turísticas do Estado, Caldas Novas se arrisca e permite a abertura de clubes e parques aquáticos que estão fora das estruturas de hospedagem. Foi autorizado sexta-feira (10) pela prefeitura da cidade que as atividades nestes locais fossem retomadas. A medida, no entanto, pode fazer com que haja aglomerações nos parques. O comércio na cidade também foi permitido durante a semana com horários pré-estabelecidos.
A decisão da prefeitura em reabrir os locais de lazer pode aumentar significativamente as médias estimadas para o número de óbitos por Covid-19 na cidade. A afirmação é do Grupo de Modelagem da COVID-19 da Universidade Federal de Goiás (UFG), que divulgou um estudo a respeito do tema. Consequentemente, irá aumentar a necessidade de leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Em função da dinâmica da epidemia no município, o influxo escalonado de turistas não afetaria significativamente esses valores entre os residentes na cidade, com um aumento não muito maior do que 12% em termos de óbitos, mesmo no cenário simulado com maior infecção e transmissão por turistas.
Em 10 dias, o município registrou um aumento de 30 casos de Covid-19. Atualmente, são 100 confirmados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade. As regras para o município não seguem o último decreto estadual, que recomenda o fechamento intercalado do comércio de 14 em 14 dias. Na cidade está autorizado de segunda a sexta-feira a abertura de supermercados, comércio varejista, frutarias, açougues, verdurões, padarias, lanchonetes, distribuidoras de bebidas, até as 20h. Já os bares podem ficar abertos até às 19h.
O decreto aponta que os locais que estão em funcionamento deverão respeitar o limite de 50% da capacidade de hospedagem e que as áreas de alimentação ou restaurantes deverão obedecer às regras descritas nas normas técnicas. Também permite a utilização de piscina e parques aquáticos, desde que respeitando todas as normas contidas no protocolo para retomada de atividades turísticas. Segundo o município, “a empresa que não obedecer ao limite percentual de utilização descrito neste decreto, será imediatamente interditada.”
Em Caldas, também já voltaram a funcionar pousadas e pensões com ou sem parques aquáticos e piscinas. O atendimento no sistema delivery para entrega residencial ou no trabalho não terá limitação de horário. De acordo com o decreto, as atividades devem ser retomadas respeitando as medidas sanitárias para evitar disseminação do Coronavírus. Entre elas, manter o distanciamento social entre pessoas e manter a lotação máxima de cada lugar a 50% da capacidade.
Rio Quente
O município de Rio Quente retomou as atividades no último dia 9. Já o parque aquático Hot Park abrirá para público externo no dia 7 de agosto. A Aviva, detentora dos destinos Costa do Sauípe (BA) e Rio Quente (GO) e do parque aquático Hot Park, retomou as atividades do Rio Quente, de forma gradual, conforme decreto da Prefeitura de Rio Quente. Já o Hot Park abrirá para o público externo somente em 07 de agosto.
Com rígidos protocolos de segurança, o resort ajustou suas atividades para receber as famílias de acordo com as normas dos órgãos responsáveis, terá capacidade reduzida e inferior a 50% de ocupação para garantir a segurança dos clientes e não permitirá check-in de crianças menores de 2 anos (como orienta a publicação municipal). Entre as mudanças está o espaçamento das cadeiras para reforçar o distanciamento social.
“Retomamos com uma ocupação mínima de 13% que pode chegar a 35% neste primeiro mês, visando o cuidado com a segurança dos nossos hóspedes. A escolha por uma retomada gradual é justamente para proporcionar um lazer completo com toda segurança”, afirma Flávio Monteiro, Diretor de Operação da Aviva.
Durante o período, os restaurantes também estarão adaptados para o mínimo contato e o máximo de segurança e funcionarão com reservas, sendo que cada família terá um espaço especial durante toda a estadia. O serviço será em formato à la carte, ou seja, um menu estará à disposição durante as principais refeições e itens de cozinha show preparados na hora.
Bebidas alcoólicas proibidas
Com relação às medidas para tentar amenizar a crise, está a proibição de vendas de bebidas alcoólicas aos fines de semana pelos estabelecimentos comerciais. O prefeito da cidade, Evandro Magal, assinou um decreto que institui novas medidas restritivas. As regras também valem para drive-thru e delivery.
Está proibida a atividade de captação de clientes, vendas de ingressos e comercialização de qualquer tipo de produto ou serviço nas vias públicas. A abertura da Feira do Luar também foi suspensa, conforme exposto no decreto, ficando autorizado o funcionamento de segunda a sexta-feira até às 21h.
O documento levou em consideração o cenário epidemiológico e a necessidade de reabertura do comércio e do turismo de Caldas Novas. Conforme diz o documento, nas últimas semanas os casos de Coronavírus aumentaram na cidade devido a festas e aglomerações e, por isso, estão sendo adotadas medidas para impedir o crescimento da curva de contágio.
Impacto da flexibilização em Pirenópolis é menor
Já em Pirenópolis, o efeito da flexibilização é semelhante, embora de menor magnitude em função da menor população da cidade e do estágio inicial da epidemia na região. Segundo pesquisadores da UFG, fica mais claro que o influxo escalonado de turistas afetaria significativamente a curva de aumento de mortalidade entre os residentes na cidade em termos de hospitalização, bem maior proporcionalmente do que o observado para Caldas Novas.
Nos dois casos, mostra a pesquisa, o resultado mais importante é que o aumento no número de suscetíveis e a aglomeração pelo aumento da densidade populacional nas cidades geraria uma série de novas infecções entre os turistas, mesmo na situação em que nenhum destes estivesse infectado quando de sua chegada à Caldas Novas ou Pirenópolis (assumindo portanto que nenhum assintomático e transmitindo chegaria às cidades e/ou que a vigilância seja extremamente eficiente na detecção de casos oligosintomáticos).
Impactos
De acordo com a UFG, o impacto desses indivíduos infectados adicionais nos municípios de origem depende da situação epidemiológica local, em termos de estágio da epidemia e do número de suscetíveis, bem como das ações implementadas em termos de vigilância sanitária. De modo geral, o efeito da chegada de novos indivíduos infectados em municípios que estão em uma fase inicial de crescimento da epidemia pode criar uma aceleração na velocidade de sua expansão.
Por outro lado, a chegada de novos infectados em uma população que está em uma fase de declínio, mas que ainda possua um número considerável de suscetíveis (como se espera da Covid-19 na maior parte dos municípios de Goiás em agosto), pode dar origem a uma nova onda de crescimento da pandemia.
Distanciamento é prioridade
A UFG ressalta que o foco de quaisquer medidas de contenção na disseminação do Coronavírus a partir da liberação de atividades turísticas e consequente flexibilização das medidas de distanciamento social nos municípios deve estar focada principalmente na proteção aos turistas e não (apenas) na proteção da população residente.
“Reiteramos, entretanto, que a recomendação geral, considerando a situação epidemiológica do avanço da Covid no Estado como um todo nesse momento, é que se mantenha as medidas de distanciamento social a fim de minimizar o impacto da pandemia nos serviços de saúde e morbi-mortalidade da população”, afirmam os pesquisadores. (Daniell Alves, especial para O Hoje)