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sexta-feira, 29 de novembro de 2024
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Vulnerabilidade

Poeira em ruas sem asfalto provoca doenças respiratórias em moradores de bairros em Aparecida

Bairros na região da Serra das Areias sofrem com falta de pavimentação há décadas| Foto: Wesley Costa

Postado em 17 de julho de 2020 por Sheyla Sousa
Poeira em ruas sem asfalto provoca doenças respiratórias em moradores de bairros em Aparecida
Bairros na região da Serra das Areias sofrem com falta de pavimentação há décadas| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Alguns bairros de Aparecida de Goiânia está há décadas sem receber pavimentação asfáltica. Todos os anos, as famílias que moram nestes bairros sofrem com a lama na época da chuva e a poeira na estiagem. Especialistas afirmam que a grande variação de temperatura e a poeira por falta de precipitação aumentam o risco de doenças respiratórias e disseminação de vírus, deixando essas famílias ainda mais vulneráveis em tempos de pandemia.

Luciano Henrique da Silva é proprietário de uma serralheria que fica a poucos metros onde termina a pavimentação da Avenida Central no bairro Jardim das Cascatas. “Estamos esperando esse asfalto aqui há mais de 30 anos e não apareceu. O governo embolsou o dinheiro que ia asfaltar essas ruas”, lamenta Luciano. O serralheiro se sente tapeado pela prefeitura. “Já veio funcionário da prefeitura aqui para fazer medição para dizer que eles estão fazendo alguma coisa, mas asfalto que é bom nada”.

Doenças

A pneumologista Fernanda Miranda de Oliveira, afirma que a propagação de todas as doenças transmitidas por partículas sólidas e gasosas podem aumentar em período de baixa temperatura, inclusive do vírus Sars-Cov-2. “As doenças transmitidas por aerossóis de modo geral têm sua disseminação aumentada nos meses de inverno”. Ela explica que isso acontece porque a baixa umidade do ar mantém as partículas suspensas por mais tempo, os níveis de poluição atmosférica aumentam e as pessoas tendem a ficar por mais tempo em ambientes fechados.

O serralheiro diz que o bairro sofre muito com a falta de infraestrutura asfáltica, principalmente na época da estiagem. “Nessa época é impossível manter a casa limpa e se passarmos muito tempo na rua, podemos até ficar intoxicados. Não tem escapatória”. Ele se indigna porque bairros novos estão sendo asfaltados, enquanto os bairros da região da Serra das Areias continuam mergulhados em poeira.

Luciano se sente desrespeitado pelo poder público. “Eu quero meu dinheiro dos impostos de volta. Se a gente juntar todo mundo conseguiremos pagar uma empresa honesta para fazer esse trabalho que está sendo protelado pela prefeitura há décadas”.  O trabalhador quer entrar com uma representação judicial no Ministério Público pelo que julga ser uma enganação. “Há anos eles prometem e não cumprem. Tem que colocar na justiça”, afirma.

Cronograma

A Prefeitura de Aparecida de Goiânia informou por meio de nota que segue o cronograma de pavimentação asfáltica nos setores Parque Ibirapuera, Aeroporto Sul, Jardim Himalaia, Goiânia Park Sul, Jardim Miramar e Jardim Boa Esperança (1º etapa). O investimento de cerca de R$ 22 milhões, com recursos do Tesouro Municipal, foi feito para a pavimentação do Parque Ibirapuera, Aeroporto Sul, Jardim Himalaia, Goiânia Park Sul e Jardim Boa Esperança contemplando uma área total de 225 mil m², aproximadamente.

Nos últimos meses, a Prefeitura de Aparecida confirma que concluiu diversas obras em setores como Jardim Miramar (1ª etapa), Pontal Sul (100% das ruas), Setor dos Estados (2ª etapa), Retiro do Bosque (1ª etapa) e Bairro Independência (1ª etapa), além da ligação do Credeq ao Cemitério Jardim da Esperança. Neste momento, o município tem cerca de 80% de suas ruas asfaltadas.

A Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) de Aparecida informa que o setor Jardim das Cascatas já tem as obras de construção das galerias pluviais licitadas, e a pasta fará a pavimentação asfáltica. Em relação aos bairros Vila Romana e Vila Delfiore, a Seinfra esclarece que está elaborando projetos e orçamentos para a 1ª etapa de pavimentação nos setores. Após a conclusão dos projetos, eles serão encaminhados à Caixa Econômica Federal, para aprovação. Já sobre o Quinta da Boa Vista, a Seinfra explica que, para um bairro receber pavimentação asfáltica, ele precisa contar com rede de água tratada já instalada.

Variações da temperatura causam reações alérgicas

Um dos principais fatores que aumenta o número de casos de doenças e infecções respiratórias neste período é a poeira. Como há a diminuição da umidade do ar por causa da queda na precipitação, a poeira se forma com mais facilidade no ambiente externo e quando entra em casa, carrega elementos que causam reações alérgicas.

Segundo a médica alergista, Maria Letícia Chavarria, para evitar problemas de saúde respiratórios na época de estiagem, deve-se manter a casa sempre arejada e higienizada. Isso se torna muito difícil em lugares onde não há pavimentação.

A médica explica que o problema da poeira se torna pior em ambientes internos, pois as pessoas alérgicas tem hipersensibilidade que agrava o quadro de problemas respiratórios. “A poeira faz mal, principalmente em ambientes internos. O organismo tem uma reação de forma exagerada aos elementos que causam alergia, o corpo perde o controle e gera uma inflamação que pode vir em forma de um quadro gripal, de rinossinusites alérgicas ou até mesmo asma”.

A alergista afirma que o organismo sofre com a tentativa de se adaptar a variação de temperatura que temos na época da estiagem. O organismo sofre com essa variação.  “A baixa umidade causa desidratação das mucosas que fica com mais dificuldade de funcionar corretamente”, explica.

A médica ainda diz que o quadro de saúde no período de estiagem se torna mais complicado, principalmente para pessoas alérgicas. Ela explica que o organismo dessas pessoas reage de forma exagerada às mudanças climáticas repentinas. “Na reação alérgica, o sistema de defesa biológica reage mais do que necessário às substâncias de origem natural, que podem induzir uma reação de hipersensibilidade”, revela a alergista.

Maria Letícia explica que a poeira facilita inclusive a infecção de doenças causadas por vírus. “A poeira externa é um irritante das vias aéreas e é claro que isso vai piorar quadros alérgicos. O olho coça, lacrimeja e irrita o nariz. Essa condição facilita a infecção por vírus, pois a mão que a pessoa leva ao rosto para coçar o nariz ou o olho pode estar contaminada então ela também vai contrair a doença causada pelo agente infeccioso”, explica. Em tempos de pandemia, a poeira é um fator agravante para a proliferação do novo Coronavírus. 

Previsão 

De acordo com as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a Região Metropolitana deve permanecer com uma grande variação de temperatura. As manhãs devem permanecer amenas com mínima de 12° C, mas a temperatura pode subir para até 31° C no decorrer do dia. Segundo a previsão, as médias climáticas devem se repetir até o próximo domingo (19), quando a temperatura mínima vai ser de 13° C e a máxima de 28° C.

Outra característica conhecida desta época do ano é a umidade relativa do ar baixa. Segundo as previsões do Inmet, a variação deve ser de 20% a 25% até domingo. De acordo com classificação do instituto, o percentual faz com que Goiânia fique no alerta amarelo de umidade. (Especial para O Hoje) 

  

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