Em razão da pandemia, formato drive in substitui salas de aulas
Instituições se reinventam para dar continuidade ao ensino mesmo que à distância| Foto: Reprodução
Manoela Messias
A crise da saúde afeta diretamente a forma de ensino e o calendário escolar. Desde março deste ano as aulas presenciais nas redes públicas e privadas de educação em todo Estado estão suspensas em função da necessidade do distanciamento social, imposto pela pandemia do novo Coronavírus. Por causa disso as instituições de ensino se viram obrigadas a se reinventar para dar continuidade ao ensino, mesmo que à distância. A mais recente novidade é um aulão no estilo drive in.
Há cinco meses, com a suspensão do ensino presencial, os cursinhos preparatórios para concurso público iniciaram transmissões de aula virtuais para os alunos, sem contato direto com os professores e os demais colegas. Após todo esse tempo, os concurseiros de plantão puderam se reencontrar no primeiro aulão drive-in com turmas de Direito Penal, Processo Penal e Informática.
“A ideia surgiu justamente por causa da carência que os alunos demonstram de um contato mais presencial, tanto com os professores quanto com os colegas. O aulão funcionou como uma verdadeira mistura do presencial com o on-line. Usamos telão de cinema para que eles pudessem ver todo o material com clareza e fizemos transmissão do áudio ao vivo pela rádio”, explica o professor e coordenador geral Rilmo Braga.
Aplicativos de conversa
Por meio de grupos telemáticos criados em aplicativos de conversa, os presentes puderam manter a interatividade com os professores podendo tirar dúvidas em tempo real e, até mesmo, responder a um caderno simulado, com questões de verdadeiro ou falso.
“Essa interação, especialmente durante a resposta do questionário, aconteceu usando os próprios recursos do veículo. Como eram perguntas de verdadeiro ou falso os alunos usaram as setas e o pisca alerta dos veículos para responder a cada uma das questões. Outros recursos como limpador de para-brisas e buzina também foram usados como forma de interação com a gente que estava lá no palco”, conta o professor.
Para a engenheira e concurseira Noemy Juliana Cachali, as aulas presenciais fazem muita falta, e o aulão drive in, minimizou um pouco essa distância das salas de aula. “Deu para aproveitar muito. Ambiente agradável, material didático excelente, e o melhor, os professores têm uma didática de ensino muito boa e conseguem prender a atenção dos alunos do começo ao fim. O tempo todo a equipe estava em contato on-line com os alunos para sanar possíveis dúvidas. Além disso, fizeram um grupo com todos os alunos presentes, no grupo estava a coordenação e os professores para integração”, conta.
Já Leandro Tolentino Silvério, que há 5 anos estuda para concursos, a modalidade de aula foi uma nova experiência, uma vez que grande parte dos estudantes estavam cansados de tantas aulas on-line dentro do quarto ou na sala, isolados. “O aproveitamento foi total, igual ao da sala de aula, já que eles disponibilizaram material para todos. E acabou sendo até mais divertido também”, afirma.
De acordo com uma das mentoras da empresa que organizou o aulão, Taciane Leite de Moura, mais de 400 pessoas participaram das 3 horas de aula drive in. “Quando informei os alunos sobre a novidade eles ficaram eufóricos com o retorno das aulas e, também, com a nova modalidade. Muitos deles, mesmo estudando em casa de maneira virtual, sentiram falta da interação que é bem parecida com a que eles têm em sala de aula, e de estar perto do professor”, diz.
Outras alternativas
O Conselho Estadual de Educação de Goiás autorizou as instituições de ensino a manterem o Regime Especial de Aulas não Presenciais e/ou Presenciais até 19 de dezembro. Para acompanhar as mudanças e conseguir manter o aluno conectado ao conteúdo, educadores precisaram usar todos os recursos da criatividade e da tecnologia para montar e ministrar as aulas virtuais, já que o giz e o quadro foram substituídos pelo computador.
O ensino remoto está previsto na portaria nº 343 (alterada pela Portaria nº 345), do Ministério da Educação, que autoriza a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia.
Na rede pública estadual os alunos que não possuem acesso à internet, para garantirem os conteúdos didáticos elaborados neste período de aulas não presenciais, a Secretaria de Educação (Seduc), aderiu às transmissões, ao vivo, de videoaulas pela TV Brasil Central (TBC) e pelas rádios Brasil Central (AM 1270) e RBC FM (90,1). As aulas são exibidas diariamente, de segunda a sexta-feira. Na parte da manhã, das 10h às 10h30, são trabalhados os conteúdos do Ensino Médio; e no período vespertino, das 15h às 15h30, do Ensino Fundamental.
Os conteúdos abordados nas aulas integram seis componentes curriculares: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Inglês e Ciências. Todo o material ainda pode ser visto e revisto pelos alunos no Youtube.
Para o professor Pedro Ivo Jorge de Faria, a iniciativa amplia o leque de possibilidades para que os alunos tenham acesso aos materiais de estudo e também democratiza o conhecimento. “É uma ação extremamente representativa para a Seduc, dentro da proposta das aulas não presenciais. E isso nos permite construir novos caminhos para a educação”, destaca Pedro.
Já a professora Flávia Osório da Silva acredita que o projeto ajuda muito os alunos de famílias onde esse acesso é limitado. “Apesar de o tempo das aulas ser curto, dá para ver muitos conteúdos e aprender bastante. A TV é um meio muito acessível, e os estudantes gostam muito”.
A professora faz um apelo aos gestores das escolas para que divulguem o projeto e estimulem os alunos a verem as aulas. Sugere também que, depois disso, os estudantes acessem o portal NetEscola, pelo site da Seduc, e façam as atividades propostas e encaminhem a seus professores para correção.
Ujeverson Tavares, professor de matemática, concorda que a exibição das aulas pela TV e emissoras de rádio AM e FM amplia a abrangência do projeto, alcançando um universo bem maior de alunos, em especial aqueles que moram nas comunidades da zona rural e em regiões de difícil acesso.
Retorno deve acontecer simultaneamente
O presidente do Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE), Flávio de Castro, propôs que o sistema educativo goiano retome as atividades presenciais de maneira conjunta. A ideia de Flávio é de que as escolas privadas não sigam os passos do que aconteceu no Distrito Federal (DF), onde a Justiça do Trabalho autorizou, em julho, o retorno após uma ação. De acordo com o presidente do CEE uma das preocupações é a migração entre as instituições, ou seja, possíveis trocas de escolas neste período, o que pode dificultar se houver diferenças entre datas letivas de cada unidade de ensino.
Segundo Flávio, que também preside o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino de Goiânia (Sepe), o mês de setembro deverá possibilitar uma nova análise do panorama da pandemia de Covid-19 em todo o Estado. À partir daí, será possível vislumbrar uma nova situação para a questão da pandemia, para seja feita uma avaliação para que a volta do ensino presencial seja definida.
De acordo com representantes de instituições de ensino particulares e auxiliares da Educação estadual, não está descartada a possibilidade de retorno das aulas presenciais em Goiás a partir de setembro. (Especial para O Hoje)