Vazão do Meia Ponte deixa abastecimento de Goiânia em estado de alerta
Nível do rio está melhor do que no mesmo período do último ano, mas ainda requer atenção| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
A vazão do Rio Meia Ponte começou o mês de setembro com metade no nível considerado normal e deixa o abastecimento da Capital em estado de alerta. Apesar de a condição hídrica estar melhor do que o estado crítico do mesmo período do ano passado, autoridades e especialistas afirmam que é preciso que a população use a água de forma consciente para que o período de estiagem possa ser enfrentado com tranquilidade. A vazão do rio está próxima ao seu primeiro nível crítico, que indica um nível abaixo ou igual a 5,5 mil litros de água por segundo.
De acordo com a Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a média de vazão do Rio Meia Ponte ficou em 5,54 mil litros por segundo, medida no último dia 8 deste mês. Segundo informações do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás, as próximas precipitações de chuva no Estado estão previstas para a segunda quinzena de outubro.
Esta condição deixou o abastecimento em nível de alerta. No mesmo período de 2019, a vazão do rio chegou abaixo de três mil litros por segundo e atingiu o Nível Crítico 3. Medidas de controle de vazão e planos de ação foram estabelecidas para mitigar os riscos de desabastecimento.
Segundo a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, Andrea Vulcanis, a condição de melhora na situação hídrica deste ano se deve ao regime de chuvas mais constantes do último período chuvoso que conseguiu recuperar os lençóis freáticos. Andrea afirma também que ações da Secretaria repercutiram em resultados positivos na quantidade de água disponível no ponto de captação do Rio Meia Ponte feito pela Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago).
Ações
A secretária cita ainda a contribuição de instalação de vários instrumentos medidores e o recurso de equipamentos que liberam as águas presas nas barragens. No entanto, a secretária alega que apesar de aparente tranquilidade em relação ao abastecimento de água, a população deve continuar fazendo uso consciente do recurso. “Ainda tempos um longo período até as primeiras chuvas, e o abastecimento deve chegar pelo menos até o primeiro nível crítico”, disse.
Segundo Andrea, ações de fiscalização do órgão também resultaram em diminuição de captação irregular que contribuiu para a melhoria da condição hídrica da estiagem deste ano. “Fizemos o cadastro de todos os usuários, eles estão sendo outorgados e todos têm instalação de equipamentos telemétricos”, disse. A instalação dos equipamentos de medição permite que o uso da água seja monitorado remotamente, poupando ações de fiscalização in loco.
De acordo com a Saneago, o sistema integrado de abastecimento de água da Região Metropolitana de Goiânia é composto, principalmente, pelos Sistemas João Leite e Meia Ponte. Responsável pelo abastecimento de mais de 1,6 milhão de pessoas, o sistema integrado atende aos municípios de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Goianira e Trindade.
O Sistema João Leite, em função da implantação do Complexo Produtor Mauro Borges, não apresenta riscos de desabastecimento. Já o Sistema Meia Ponte, no período de estiagem, opera em sua capacidade máxima, outorgada para atender às necessidades de consumo da população.
Outros mananciais
Outras bacias hídricas no Estado que apresentaram problemas estão sendo monitorados pela Semad e a Saneago tem promovido a sustentação de garantia do abastecimento com perfurações de poços como ação preventiva. Em 2019, a baixa vazão do Rio Piancó, que abastece a Região Metropolitana de Anápolis, também causou riscos de desabastecimento.
Planos de ação devem seguir para este ano
Muito além dos transtornos domésticos, a crise de desabastecimento envolve setores econômicos como indústria e agricultura. Em 2019 foram elaborados planos para mitigar os riscos da baixa vazão do Rio Meia Ponte. No ano passado, à medida que o Estado dos níveis de abastecimento foi caindo, setores econômicos irrigantes e industriais tiveram que diminuir o uso do recurso hídrico como medida mitigadora. Irrigações de plantações eram permitidas apenas em um período do dia e outorgas de vazão foram reduzidas.
Segundo a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, Andrea Vulcanis, as medidas de controle e mitigação de riscos da crise de abastecimento ainda valem para este ano. “Ainda estamos em nível de alerta, quando não há cortes de água nem para irrigantes, nem para as indústrias. Não chegamos nesta etapa onde a situação fica mais grave”, disse. Andrea afirma que a situação de abastecimento da Capital ainda está sob controle.
No entanto, a secretária alerta que o nível de vazão do Rio Meia Ponte deve descer até atingir pelo menos o primeiro nível crítico de segurança hídrica, quando fica igual ou abaixo de 5,5 mil litros por segundo. “Quando esse momento chegar, vamos começar a tomar essas medidas que é o controle e corte da vazão outorgada de diminuição da quantidade de irrigação”, garante.
Agricultura
O sistema Faeg/Senar recomenda que os produtores rurais usem o recurso hídrico de forma comedida, principalmente no trabalho de irrigação. Sugere o aperfeiçoamento do manejo com os turnos de rega, usando a capacidade de campo do solo e aferindo os equipamentos para melhorar a eficiência.
De acordo com as diretrizes para o enfrentamento dessa crise hídrica, aprovadas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte, a partir do nível crítico II (vazão de escoamento menor ou igual a 4.000 L/S) as medidas são ainda mais rígidas, começando com a redução em 25% dos volumes diários de captação, para bombeamentos diretos dos cursos d´água. (Especial para O Hoje)