Consumo baixo pode servir como freio ao avanço recente dos preços
.O Índice Nacional de Preços ao Consumid.or Amplo (IPCA) fechou as quatro semanas do mês passado em 0,86%
O
ritmo de alta dos preços, na medição feita pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), anotou leve desaceleração na última quinzena de
outubro, sinalizando a perspectiva de um comportamento mais favorável ao longo
deste mês.O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou as
quatro semanas do mês passado em 0,86%. Se essa taxa for comparada com o índice
alcançado nos 30 dias de setembro, a inflação parece ainda em elevação (mais
0,22 pontos de porcentagem, já que o IPCA de setembro havia alcançado 0,64%).
Mas essa comparação desconsidera o que houve entre o final de setembro e o
final de outubro.
Para
entender, além do IPCA “mensal”, o IBGE calcula também o chamado IPCA-15, que
captura a variação dos preços entre as duas semanas finais de um mês e as duas
primeiras do mês imediatamente seguinte. O IPCA-15 de outubro, aferido entre 16
de setembro e 15 de outubro, havia atingido 0,94%. Quer dizer, havia subido
0,30 pontos desde o final de setembro, mostrando que os preços estavam em
aceleração mais intensa nas duas primeiras semanas do mês passado. Para
comparar, o IPCA-15 de setembro, que refletiu a variação dos preços entre a
última quinzena de agosto e as duas primeiras semanas de setembro, havia
registrado 0,45%. Assim, até o final daquele mês, chegou a subir 0,19 pontos. A
aceleração, portanto, parece bem nítida, assim como a desaceleração que veio em
seguida, muito provavelmente motivada pela baixa demanda e pela elevada
ociosidade em quase todos os setores da economia.
Entre
a primeira quinzena de outubro e o fechamento do mês, o IPCA caiu ligeiramente
(-0,08 pontos de porcentagem), refletindo a perda de fôlego registrada pelos
preços de uma dezena de itens, que haviam respondido por quase 57,0% do índice
apontado pelo IBGE para o IPCA-15 de outubro. Essa contribuição foi reduzida
para 37,6% na taxa acumulada nas quatro semanas do mesmo mês. Entre os principais,
os preços do arroz, que haviam saltado 18,48% no período de 30 dias encerrado
em 15 de outubro, passaram a subir 13,36%. Na mesma comparação, o óleo de soja
saiu de uma alta de 22,34% para 17,44%. No caso do açúcar e seus derivados
(sorvetes e doces em geral), a variação saiu de 1,33% para 0,68%.
Faltou
demanda
Os
preços do leite longa vida deixaram para trás um aumento de 4,26% para
registrar baixa de 0,71% (o que sugere uma forte redução nas duas semanas
finais de outubro, possivelmente gerada pela reação negativa do consumo). O
mesmo fator pode estar por trás do comportamento dos preços na alimentação fora
do domicílio, que havia subido 0,54% entre 16 de setembro e 15 de outubro para
apresentar variação de 0,36% entre 1º e 31 de outubro (variação um terço
menor). Novamente, o setor parece experimentar um processo de acomodação dos
preços transcorridos os primeiros meses desde a retomada (parcial e gradual)
das atividades em restaurantes, lanchonetes, bares e hotéis. Os preços dos
aparelhos de televisão, som e de informática, em outro exemplo, saíram de um
aumento de 1,68% para variação de 1,07%.
Balanço
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Mas
persistem focos de pressão altista na área de bens duráveis (entre outros). Os
preços dos eletrodomésticos, que haviam subido 1,22% nos 30 dias encerrados em
15 de outubro, passaram a aumentar a um ritmo de 2,38%, com salto de 10,54% nos
preços dos aparelhos de ar-condicionado (provavelmente causado pela maior
procura em função da onda de calor experimentado em todo o País naquele mês).
·
Neste
caso específico, esgotado o movimento de compra daqueles aparelhos, diante da
normalização das condições climáticas, favorecidas pelo começo da temporada das
chuvas, a velocidade de aumento naqueles preços deve ser arrefecida.
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Os
preços do vestuário, após quatro meses de baixas consecutivas, motivadas pelas
medidas de afastamento social, passaram a subir diante da gradual normalização
da circulação de pessoas. Entre a variação observada pelo IPCA-15 de outubro e
o IPCA “cheio” daquele mês (quer dizer, ao longo das quatro semanas do mês
passado), a alta nos preços do setor avançou de 0,84% para 1,11%.
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Uma
parte desse aumento pode ser relacionada ainda ao aumento nos preços do algodão
e ao impacto do dólar mais caro. Mas a influência do câmbio sobre os preços
cobrados do consumidor deve ser relativizada. Por exemplo, o custo médio dos
produtos panificados, que dependem do trigo (lembrando que o Brasil importa
mais da metade do grão utilizado pelos fabricantes da farinha de trigo), recuou
0,05% nos 30 dias de outubro, depois de subir 0,60% nas semanas anteriores.
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Os
produtos farmacêuticos, da mesma forma, onde há grande dependência de
importações, anotaram queda de 0,38% no mês passado. Esses preços já vinham em
baixa desde o começo do mês, acumulando recuo de 0,17% entre o final de
setembro e as duas semanas iniciais de outubro.
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Outra
forma de avaliar indiretamente o efeito da baixa demanda sobre o comportamento
dos preços está na comparação entre os índices de preços no atacado e ao
consumidor final. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), os preços no mercado
atacadista saltaram nada menos do que 26,64% no acumulado entre janeiro e
outubro deste ano. Em igual intervalo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) aferido
pela instituição variou 3,09%. Claramente, as empresas enfrentam dificuldades
para repassar aumentos de custos ao consumidor final.
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Com
peso de 30% na composição do Índice Geral de Preços (IGP) medido pela fundação,
o IPC recuou de 0,82% em setembro para 0,65% em outubro, reforçando os sinais
de alguma acomodação nos preços mais recentemente. Descontadas aquelas
variações que ficaram muito distantes da média, para cima e para baixo, o
chamado “núcleo” do IPC tem se mantido razoavelmente estável, chegando a recuar
ligeiramente de 0,22% para 0,17% na passagem de setembro para outubro – o que
desautoriza o alarmismo em torno da alta da inflação nas últimas semanas.