Agropecuária cai no trimestre, mas mantém influência positiva no PIB
Atividade foi a menos prejudicada pela pandemia de covid-19, diz IBGE/ Foto: reprodução
A agropecuária, que registrou queda de 0,5% no
Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, apresentou também taxas
interanuais positivas, e a expectativa é de crescimento da atividade neste ano,
como ocorreu no ano passado e em 2018.
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, entre as
três grandes atividades da economia brasileira, a agropecuária é a menos
prejudicada pela pandemia de covid-19.
Para o resultado do ano, espera-se crescimento
de 7,1% da soja, principal lavoura do país. O que ocorreu no terceiro trimestre
é que o desempenho da agropecuária foi influenciado pela safra do produto, que
é concentrada no primeiro e segundo trimestres do ano.
Se for considerada a taxa interanual, a
agropecuária cresceu mais no primeiro e segundo trimestres do ano do que
cresceu agora. “Esse 0,5% de queda, que também não é muito entre o
terceiro e o segundo, e se explica pela saída da safra da soja, que fez com que
a agropecuária caísse um pouquinho no terceiro em relação ao segundo, mas, no
acumulado do ano, é a única das três atividades econômicas [agropecuária,
indústria e serviços], que tem crescimento neste ano em relação ao ano
passado”, observou Rebeca.
Recuperação
De acordo com Rebeca, no resultado geral, o
crescimento de 7,7% do PIB no terceiro trimestre não cobriu as perdas
provocadas pela pandemia no segundo trimestre deste ano, por causa do
desempenho dos serviços, que, apesar de terem avançado 6,3% de julho a setembro,
ainda não tiveram recomposição do impacto da pandemia.
A economista lembrou que a atividade
agropecuária colabora com três quartos da economia brasileira e destacou que,
mesmo que tenham acabado as restrições em quase todo o país, nem a oferta, nem
a procura voltaram aos patamares pré-pandemia, porque as pessoas continuam
receosas. Como serviços têm peso e impacto muito grandes nos gastos e no
consumo das famílias, “a gente e vai ver tudo encadeado na economia”,
disse Rebeca.
De acordo com a economista, esse movimento
provocou impacto também no aumento da poupança, porque as pessoas com mais
renda estão conseguindo poupar mais. As de renda mais baixa estão no grupo que
foi o principal beneficiado pelo auxílio direto do governo às famílias. “O consumo
delas não é tanto de serviços, mas, nas de renda mais alta, é bastante de
serviço. Como nesses serviços, a oferta e a demanda caíram bastante no período
e não voltaram aos patamares anteriores, isso afetou também poupança. Dá para
ver o efeito encadeado na economia. Este é um dos motivos pelos quais ainda não
voltamos ao patamar pré-pandemia, principalmente, pelos serviços, até pelo peso
relevante, que tem na economia brasileira”, completou.
Rebeca Palis ressaltou que, além de não
recuperar o patamar do fim de 2019, quando estava em crescimento, mesmo com o
avanço de 7,7% no terceiro trimestre, o desempenho da economia brasileira ainda
está 4,1% abaixo do registrado no mesmo trimestre do ano passado. “Em relação à
série histórica, estamos no mesmo patamar de 2017, ou então, olhando para o
patamar antes da crise de 2015 e 2016, ainda estamos em 2010. No patamar de
2012, a gente estava antes de começar a pandemia.”
Um dos destaques positivos do último trimestre
foi o crescimento de 14,8% da indústria, especialmente a de transformação, que
recuperou o patamar do primeiro trimestre. Indústria e comércio foram as duas
atividades que votaram ao patamar dos primeiros três meses deste ano. “Aí
influenciadas pela indústria de alimentos e bebidas, e também a farmacêutica,
que influenciou positivamente nos dois casos. No terceiro trimestre, houve
recuperação também na parte de bens duráveis, eletrodomésticose móveis, tanto
na produção como no comércio.
Por outro lado, as atividades econômicas mais
afetadas pela pandemia também cresceram de julho a setembro, mas não voltaram
ao nível pré-pandemia o que é até totalmente explicado, porque são atividades
de serviços e que requerem presença. Aí, a demanda caiu muito. Mesmo com
funcionamento permitido, existe uma queda natural pelas restrições em época da
pandemia, em atividades como, por exemplo, o transporte de passageiros, de
serviços, com foco nas famílias, como alojamento, alimentação, salão de beleza,
cinema, academia e etc, disse Rebeca.
Setor externo
As exportações de bens e serviços caíram 2,1%,
e as importações de bens e serviços recuaram 9,6% em relação ao segundo
trimestre.
Segundo Rebeca Palis, um dos fatores é o
câmbio. “A importação cai devido à baixa atividade econômica e ao câmbio
desvalorizado. Por outro lado, a exportação não cresceu devido aos problemas de
parceiros comerciais. Além da queda na importação e exportação de serviços como
viagens internacionais, que despencaram, assim como transporte aéreo de
passageiros”, afirmou a economista, destacando que o setor externo está
contribuindo positivamente para a economia brasileira, apesar da demanda
interna.
(Agência Brasil)