Artistas goianos contam sobre processo de fortalecimento do trabalho durante 2020
Profissionais falaram ao O Hoje como repensaram e mantiveram seus negócios durante um ano cheio de obstáculos criados pela pandemia | Fotos: reprodução
Nathan Sampaio
A ideia era expandir a relevância do seu trabalho quando o artista visual goiano de 29 anos, Hal Wildson, decidiu se mudar de Goiânia para São Sebastião, litoral norte de SP, em fevereiro de 2020, para ficar mais perto do Rio de Janeiro e São Paulo, dois conglomerados importantes para quem trabalha com arte no Brasil. Porém, Hal Wildson – um dos poucos artistas goianos convidados para as duas feiras de arte mais importantes do país: SP-Arte e ArtRio – teve seus planos alterados quando a pandemia de covid-19 foi oficialmente decretada, dias depois da sua mudança.
Além das feiras, alguns outros eventos previstos também foram cancelados ou adiados, e acabaram acontecendo online durante os meses seguintes, o que desacelerou alguns dos planos do artista. “Meu objetivo nunca foi ser famoso, então os eventos, por exemplo, não fizeram falta, mas o contato com outros profissionais e clientes aconteceu com menor frequência. De qualquer forma, minha meta, que é de ter o trabalho reconhecido na história da arte brasileira continua, dia após dia”, disse Hal Wildson, que atualmente divulga sua arte pelas redes sociais e é representado pela Galeria Movimento do Rio de Janeiro.
A arte visual de Hal Wildson, segundo o próprio artista, é “um projeto de entender e de mudar a realidade à sua volta através daquilo que é irreal”. “Na arte sonho, na arte crio formas de acordar para o mundo. Esse ponto não mudou com a pandemia, mas os negócios sempre mudam, então precisei reinventar”, afirmou o artista que, entre seus afazeres domésticos e seu processo criativo, durante a quarentena teve a ideia de montar um novo negócio, mas sem mudar o foco do seu trabalho: o Estúdio Guará.
Além de Hal Wildson, quem faz parte do projeto do Estúdio Guará é o seu marido, Vinícius Guará, de 36 anos, que Hal incentivou à produzir macramê, técnica de tecelagem manual. Vinicius, que é tarólogo e artesão, se mudou com Hal com o foco realizar seu trabalho de leitura de tarô e terapia holística, porém precisou pensar em outras formas de negócio, também por conta da pandemia, já que em geral seu trabalho exigia certa proximidade física, o que ia contra os protocolos de segurança de combate ao coronavírus. A ideia do macramê, segundo Vinícius, veio de uma forma corriqueira.
“Eu aprendi o macramê por conta própria, e estava fazendo algumas peças para usar em casa, quando tivemos a ideia de que isso poderia ser uma forma nova de negócio. Agora, este trabalho, que tem tido uma boa procura, se tornou uma fonte de renda”, conta Vinícius, acrescentando que, futuramente, prevê criar parcerias com outros artesãos, transformando o Estúdio Guará em uma loja online.
Outro artista visual goiano, Pedro Fleury, de 25 anos, que também tem seu próprio negócio, afirmou que a pandemia abalou seu trabalho por uns meses. “Quando a pandemia começou, fiquei pelo menos dois meses sem negociar nada. Os trabalhos fechados e em negociação, na época, foram adiados. Porém, enquanto isso, como também trabalho com design gráfico, dois trabalhos me ajudaram neste período”, revelou.
Pedro afirmou, também, que não precisou investir em estratégias para manter seus negócios, pois o trabalho foi voltando gradativamente. “Acredito que, por sempre estar em constante networking, trabalhando o relacionamento com clientes e futuros clientes, foi possível manter meu negócio funcionando durante – mesmo que em pausa – e depois do período crítico da pandemia”, garantiu o artista.
Hoje, Fleury já trabalha de forma normal, adotando os protocolos de segurança impostos para conter a disseminação de covid-19, e soma, à sua carteira, clientes em Goiânia como Mariana Perdomo, Colégio Marista, Ibis Hotel, Cebrom Goiás, Evoé Café com Livros, Supermercado Leve, Casa Cor em parceria com arquitetos e outros até mesmo fora da capital e do Estado.
Auxílio emergencial para artistas
Apesar do Hal, do Vinícius e do Pedro terem conseguido manter os negócios durante a pandemia, cerca de 43% dos artistas brasileiros confirmaram redução de 100% de receita com seu trabalho neste mesmo período. Este dado foi apontado pela pesquisa “Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil”. Por isso, como ajuda, a Lei Aldir Blanc, regulamentada em agosto deste ano, assegurou cerca de R$ 3 bilhões para o setor cultural de todo o País. Os recursos da Aldir Blanc garantem uma renda emergencial a profissionais do setor, como artistas, contadores de histórias e professores de escolas de arte e capoeira.
Os recursos, repassados com integralidade no final de novembro, também foram utilizados por estados e municípios para pagamento de auxílio mensal para manutenção de espaços artísticos como circos, escolas de música, arte e danças, museus e bibliotecas comunitárias. Cada estado e município, após o repasse, tem feito as chamadas para os artistas que precisam de ajuda. Em Goiânia, ainda é possível se cadastrar pelo site da prefeitura por meio do site da prefeitura .