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sábado, 23 de novembro de 2024
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Segurança no Trânsito

Última gestão não investiu em expansão de áreas cicláveis, em Goiânia

Sem projeto de expansão de ciclovias, gestão passada deixa rastro de desprezo por ciclistas | Foto: Wesley Costa

Postado em 5 de janeiro de 2021 por Sheyla Sousa
Última gestão não investiu em expansão de áreas cicláveis
Sem projeto de expansão de ciclovias

Eduardo Marques

A última gestão de Iris Rezende (MDB), à frente da Prefeitura de Goiânia, não investiu um quilômetro sequer na expansão das rotas cicláveis (entre ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas). Ao O Hoje, a antiga assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Trânsito Transporte e Mobilidade (SMT) informou que o órgão apenas revitalizou as que já estavam concluídas. A assessoria justificou que não houve projeto de crescimento.

A gestão atual planeja a ampliação e qualificação da rede de ciclovias e ciclofaixas da cidade, com integração aos modais de transporte coletivo e construção de bicicletários em pontos estratégicos. Atualmente, a Capital conta com apenas 94,07 km de rotas cicláveis implantadas.

Enquanto faltam ciclovias em Goiânia sobram desrespeito por parte de motoristas, buracos nas ruas e carros que andam em alta velocidade, sem respeitar as normas de trânsito. Esses são alguns dos problemas enfrentados diariamente por ciclistas em Goiânia. As dificuldades são recorrentes em várias regiões da Capital, mas se tornam mais frequentes em vias movimentadas, onde pedalar é uma atividade totalmente arriscada. Além disso, há falhas no quesito segurança e, por isso, a apreensão em perder a bicicleta é algo que gera medo nos ciclistas.

Esta é a sensação da costureira Maria Batista de Assunção, de 47 anos. Atuante em grupos de ciclismo, ela tem receio de perder sua bicicleta ao pedalar pela Capital. “Quando não temos medo de sermos roubadas, temos medo do trânsito”, comenta ela, que anda de bike há um ano. “Sem dúvida, a gente fica com medo de pedalar e, com isso, passamos a fazer cada vez menos aquilo que sentimos prazer”, admite a costureira, acrescentando que em Goiânia há poucas vias apropriadas para ciclistas. “É difícil”.

Desrespeito

Outras pessoas também estão na mesma situação. Fã de pedalada nos finais de semana, mas atualmente ‘enferrujada’, a empresária Gabriela dos Santos Amaral, de 42 anos, sente um incômodo ao andar pelas ruas de Goiânia, sobretudo nos horários de pico. “São buzinas, xingamentos e gritos. De fato, andar de bike na Capital é horrível”, confessa a empresária.

A sensação dos ciclistas que se locomovem por Goiânia por meio de pedaladas é de que a situação vem piorando nos últimos meses. Adepta de práticas saudáveis, a estudante universitária Mariana Carneiro, de 22 anos, já sofreu na pele os transtornos do trânsito da Capital. Ela relembra que antes da pandemia, quando ia à faculdade de bike, chegou a sofrer acidentes: “Um motorista de ônibus bateu em mim, e, quando vi, estava no chão”, relata a estudante, apontando o descaso frequente com os ciclistas. “As ciclovias da cidade são praticamente concentradas em apenas uma região de cidade e, se você for para outro lado, terá de trafegar junto com carros”, complementa.

Pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o veículo maior é responsável pelo menor, mas não é o que acontece na prática. Além do desrespeito dos motoristas em geral, a falta de ciclovias em Goiânia reforça essa insegurança, à medida que eles precisam “disputar” espaço com os carros.

A reportagem entrou em contato com a SMT e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO), por e-mail, para comentar sobre os episódios de insegurança relatados por ciclistas, mas até o fechamento da edição os órgãos não se manifestaram. 

Bicicleta substitui carros e ônibus durante pandemia 

A pandemia da Covid-19 transformou significativamente a mobilidade urbana em todo mundo. Pesquisa da Cabify, com usuários de aplicativos de mobilidade de 11 países, aponta que 38% dos entrevistados evitaram o transporte coletivo por medo de contágio. A mesma pesquisa apontou que 76% dos passageiros pretendem reduzir ou deixar de usar o transporte coletivo. Esses impactos reforçaram o bom e velho hábito de andar de bicicleta, prática que também está alinhada à consciência socioambiental para redução do uso de veículos automotores.

Muitas pessoas que começaram a fazer o uso da bike antes e até durante a pandemia recomendam o hábito que traz mais segurança em momento de pandemia e agrega benefícios para a saúde e para a cidade. Um exemplo é o encarregado de obra Edimar Lopes Miranda, 46 anos. Para fugir do risco da aglomeração do transporte público em Goiânia, logo no início quando foi decretado o estado de emergência em saúde pública em Goiás, em virtude da pandemia do novo Coronavírus, o encarregado de obra tomou uma decisão: a ida ao trabalho seria de bicicleta.

A partir de então passou a percorrer 46 quilômetros diariamente fazendo ida e volta do Setor Residencial Itaipu, onde mora, até o Setor Marista, local de seu trabalho. “Passei a chegar mais cedo no serviço e também em casa, porque não perco tempo esperando ônibus. Além do mais chego bem mais disposto no trabalho. Andar de bike dá uma aliviada no estresse”, revela Edimar, que recuperou o gosto de andar de bicicleta que tinha quando criança.

Segundo o operário, a inspiração para a ideia de ir trabalhar de bike veio de outro colega de obra, que desde o início deste ano também passou a ter a bicicleta como meio de transporte e também como um “remédio” para o tratamento de uma lesão no tendão em um dos pés. “Há um ano, mais ou menos, rompi o tendão quando jogava bola. Fiz fisioterapia por quatro meses e depois o único esporte que o médico disse que eu podia fazer era andar de bicicleta.

Segundo ele, era o que ia fortalecer o tendão que havia rompido”, explica o técnico em edificações João Paulo da Silva Lima, de 35 anos, que desde então deixou o carro em casa e passou a percorrer todos os dias quase 30 quilômetros (ida e volta), do setor Santo Hilário em Goiânia, onde mora, até a obra no setor Marista, onde trabalha.

Inspiração

João Paulo e Edimar contam que outros colegas de obras também passaram a adotar a bike como meio de transporte, justamente para fugir do risco de aglomeração nos ônibus. E as pedaladas para o trabalho passaram de necessidade para prazer e hobby. “Eu o João Paulo e o Jonny [outro colega de trabalho] dias atrás fomos de bicicleta para Trindade, fazer umas trilhas. Foi muito bom e já estamos marcando outra pedalada”, revela Edimar. 

Edimar e João Paulo são considerados bons iniciantes do pedal, perto do administrador de patrimônio Edivaldo Pacheco de Souza, 48 anos, que há seis anos adotou a bicicleta como sua principal forma de locomoção pela cidade. Por dia, segundo ele, são cerca de 50 quilômetros (ida e volta) da região do setor Novo Mundo, onde fica sua casa, até a Vila Nossa Senhora Aparecida, em Goiânia, onde trabalha.

Edivaldo, Edimar e João Paulo são unânimes em reconhecer os benefícios da bicicleta para a saúde e como uma forma eficiente e sustentável de locomoção.  Mas eles também são unânimes em dizer que Goiânia ainda precisa melhorar bastante para que o ciclismo se torne uma alternativa de transporte mais segura na Capital. “Muitas empresas até estão atentas a isso. Mas uma coisa que acho que precisa melhorar é aumentar o número de ciclovias, especialmente nos bairros periféricos, onde quase não tem”, diz Edivaldo.

Já para Edimar Miranda, além de mais ciclovias, tem faltado respeito no trânsito. “Ainda tem muito desrespeito por parte dos condutores de carro e motos, e como o número de ciclovias ainda é pequeno acaba que gente tem que se arriscar em avenidas que não têm sinalização alguma para o ciclismo”, critica. (Especial para O Hoje) 

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