Nordeste de Goiás: kalungas querem ser incluídos nos grupos prioritários
São cerca de 1,7 mil famílias, mais de 10 mil pessoas na comunidade Kalunga em Goiás | Foto: Reprodução
Daniel Alves
As pessoas que moram no território Kalunga, no Nordeste de Goiás, relatam preocupação por não estarem entre os primeiros a receberem a vacina contra a Covid-19. Moradores relatam que as unidades de saúde estão localizadas a dezenas de quilômetros de distância dos locais onde as famílias moram. Mais sensíveis a doenças, os povos indígenas e quilombolas precisam de uma atenção especial neste momento de pandemia.
O prefeito de Cavalcante, uma das cidades que se encontram as famílias quilombolas, Vilmar Souza, afirma que são cerca de 1,7 mil famílias, mais de 10 mil pessoas na comunidade Kalunga em Goiás. Vilmar já atuou como presidente da Associação Kalunga por seis anos e diz se preocupar com a dificuldade destas famílias ao acesso de atendimento médico. “A urgência é porque muitas pessoas moram longe da cidade. Precisamos de apoio na locomoção. Muitos lugares não têm energia, talvez tivesse que trazer todo mundo para cá para vacinar”, disse.
Entre as pessoas que vivem no local está Divina Matos, moradora do Vão da Horta. Segundo ela, quatro pessoas próximas a ela testaram positivo para o Coronavírus e que duas morreram. Uma das preocupações é que o vírus chegue à família dela. “A unidade de saúde mais próxima é a 70 km daqui. O mais difícil é o acesso ao tratamento”, comentou.
Além de imunizar a comunidade, a vacina irá contribuir para o turismo nestas cidades, prevê prefeito Vilmar. Segundo ele, o turismo é a principal fonte de renda de grande parte da população do território kalunga, já que é um sítio histórico. “Muita gente querendo emprego porque não tem renda. Com a vacina, facilitaria abrir o turismo no local”, afirmou.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado (SES-GO), mas não obteve resposta antes do fechamento desta edição.
150 famílias no Estado
Em Goiás, há predominância de quilombolas, como a comunidade Kalunga no município de Cavalcante. Existem pelo menos 150 famílias em territórios quilombolas e agrupamentos distribuídos nos municípios goianos, de acordo com o último estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em todo o Estado há diversos tipos de comunidades quilombolas espalhadas: Moinho (Alto Paraíso), Flores Velha (Flores de Goiás), Rufino Francisco (Niquelândia) e Kalunga (Cavalcante, Monte Alegre e Teresina). Estas famílias necessitam de orientações e apoio do poder público para se protegerem do Coronavírus.
A divulgação dessas informações foi antecipada para subsidiar o desenvolvimento de políticas, planos e logísticas para enfrentar a Covid-19 junto aos povos tradicionais. Os indígenas e quilombolas do Estado estão classificados em territórios, agrupamentos e outras localidades. O IBGE considera localidade todo lugar do território nacional onde exista um aglomerado permanente de habitantes. Já os agrupamentos são o conjunto de 15 ou mais indivíduos em uma ou mais moradias contíguas (até 50 metros de distância) e que estabelecem vínculos familiares ou comunitários.
Em nota ao O Hoje, a SES informa que a população quilombola faz parte do grupo prioritário para receber a vacina contra a Covid-19. Entretanto, nesta primeira etapa da campanha, este público não será vacinado. “Para este primeiro momento, conforme definição nacional, foram priorizados idosos e pessoas que vivem com deficiência institucionalizadas, indígenas aldeados e trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente de combate à pandemia”, diz o texto. (Especial para O Hoje)