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domingo, 24 de novembro de 2024
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Crônica

O amor bate na porta

Confira a crônica semanal do advogado e escritor Lucas Montagnini | Imagem: reprodução

Postado em 14 de fevereiro de 2021 por Carlos Nathan Sampaio
O amor bate na porta
Confira a crônica semanal do advogado e escritor Lucas Montagnini | Imagem: reprodução

Lucas Montagnini

O amor bateu na porta de casa. Não, não o recebi. Ouvi falar. Foi a Dona Maria, vizinha do lado, que tricotava na janela na hora e me disse: ele veio, seu moço; chamou, chamou e ninguém atendeu – foi embora sem deixar recado. Eu estava na padaria, tinha ido comprar pão-de-queijo-quentinho e um café forte, mal sabia que ele chegaria. .

Não tinha preparado nada, a casa estava uma bagunça só. Fiquei desolado. O que poderia o amor querer comigo? Pensei. Comecei a acreditar que a minha vida poderia ter mudado completamente se eu o tivesse recebido. Por óbvio, nada mais seria o mesmo. Talvez pela ideia socialmente construída da necessidade do outro. Mas também quis acreditar que as lacunas no peito poderiam ser preenchidas, que talvez os sábados seriam mais temperados e talvez aquela viagem a dois, que sonho desde os repetitivos filmes românticos da sessão da tarde, fosse finalmente acontecer. Melhor ainda, talvez eu dormiria de conchinha. É isso, a conchinha. .

Mas não era hora. Por coincidência ou obra do destino, não sei. Sei que continuei o mesmo. Sem o amor, eu era simplesmente eu. Continuei a vida, mesmo que faltoso de algo que poderia ser grande, mas não é. Continuei porque é o que nos resta quando extraviados na rota, perdidos de mão em mão, passando por destinatários que nunca puderam ser a morada final. Continuei porque sou completo só, mesmo que por dentro haja espaço de sobra para somar, multiplicar e transbordar.

Certo dia, a caminho da padaria, me deparei com o amor. Não o reconheci. Na verdade, não poderia, porque não o conheço. Inclusive, cruzo sempre com ele, sei que está ali, consigo senti-lo, quase posso toca-lo. Eu não sei quando ele vem, mas sei que vai chegar. Aprendi com o infortuno de outrora que ele não tem dia ou hora marcados. Desde então, procuro deixar a casa sempre em ordem – a exceção da porta da frente, que agora fica escancarada. A vida cuida de decidir quem vai entrar. .

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